13 de dezembro de 2006

O Dogma da Imaculada Conceição

O Deus inefável,
cujas vias são misericórdia e verdade,
cuja vontade é onipotência,
cuja sabedoria atinge de um extremo ao outro, com força soberana, e dispõe tudo com maravilhosa doçura,
havia previsto desde toda a eternidade, a deplorável ruína para a qual a transgressão de Adão deveria arrastar toda a humanidade;
e, nos segredos profundos de um desígnio, velado a todos os séculos, Ele havia decidido realizar - mistério mais profundo ainda, pela encarnação do Verbo -, a primeira obra de Sua bondade, a fim de que o homem que fora induzido ao pecado, pela malícia e astúcia do demônio,
não perecesse - o que era contrário ao desígnio misericordioso de seu Criador -,
e que a queda de nossa natureza, no primeiro Adão, fosse reparada com vantagem para o segundo.

Ele destinou, pois, para o seu Filho único - desde o início dos tempos, antes de todos os séculos -, a Mãe da qual, tendo se encarnado, ele nasceria, na bendita plenitude dos tempos;
Ele a escolheu, fixando o seu lugar, segundo a ordem de seus desígnios;
Ele a amou acima de todas as criaturas, com um amor tal, de predileção,
que nela colocou, de maneira singular, todas as suas maiores complacências.

Eis porque, indo buscar nos tesouros de sua divindade, Ele a cumulou, bem mais que a qualquer espírito angelical, bem mais que a qualquer santo, com a abundância de todas as graças celestiais e a enriqueceu com tal e maravilhosa exuberância, fazendo com que ela se mantivesse, para sempre, imaculada, inteiramente isenta da escravidão do pecado, belíssima, perfeitíssima e em tal plenitude de inocência e santidade, que não podemos conceber, abaixo de Deus, alguém com maior perfeição. E somente Deus, e ninguém mais, é capaz de avaliar a sua grandeza.

(...)

Como conseqüência, após oferecermos incessantemente, na humildade e no jejum, Nossas próprias orações e as orações públicas da Igreja a Deus Pai, por meio de seu Filho, para que se digne, pela virtude do Espírito Santo, dirigir e confirmar o Nosso espírito; após termos implorado o socorro de toda a corte celestial e invocado com lamentos o Espírito Consolador e, assim, por sua divina inspiração, em honra da Santa e indivisível Trindade, para a glória e insígnia da Virgem Mãe de Deus, para a exaltação da fé católica e progresso da religião cristã; pela autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, os bem-aventurados Pedro e Paulo e pela Nossa, declaramos, pronunciamos e definimos que a Doutrina que sustenta que a Santíssima Virgem Maria, no primeiro instante da Sua concepção, foi preservada imune de toda a mancha de culpa original - por singular graça e privilégio de Deus Onipotente, em função dos méritos de Cristo Jesus, Salvador do Gênero humano -, foi revelada por Deus, e, portanto, deve ser firme e constantemente acreditada por todos os fiéis.

Pio IX
Bula Ineffabilis Deus - 8 de dezembro de 1854

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