22 de dezembro de 2006

Maria, Mãe da nova humanidade

"O Cristo é um, não pela conversão, pela transformação da Divindade em carne, mas pela assunção da humanidade em Deus."

Santo Atanásio

"No seio da Virgem Maria, uma nova humanidade floresceu. No seio de Maria, a Trindade Eterna suscitou esta nova criação de uma humanidade tão transparente a Deus que o verdadeiro Rosto de Deus pôde, enfim, manifestar-se nela."

Maurice Zundel

21 de dezembro de 2006

O que faziam no presépio a Santíssima Virgem e São José?

Qual era a atitude da Santíssima Virgem e de São José, no presépio? Eles olhavam, contemplavam, admiravam o Menino Jesus. Esta era toda a sua ocupação. Estavam eles, em oração, diante do Santo Sacramento exposto no altar do presépio. Bendiziam e agradeciam o bom Deus que, por amor a todos nós, acabava de nos oferecer seu próprio Filho. Jamais alguém poderá compreender, nem dizer tudo o que se passava, então, no coração de Maria.

São Cura D´Ars

Uma pequena mensagem de Natal

"E deu à luz seu filho primogênito, e, envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na hospedaria". (Lc 2,7)

"hoje vos nasceu na Cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo Senhor".(Lc 2,11)

É noite de alegria. Porque, no meio da escuridão, uma Luz resplandeceu. No meio das Trevas, uma Luz brilhou, e todos A vieram contemplar.

O Menino Deus nasceu à noite, porque é na noite que precisamos da luz. Nasceu à noite, para ensinar que era noite na humanidade; uma noite longa que se arrastava por séculos. Era noite desde o pecado de Adão. Todo o mundo jazia no maligno.

Mas uma Luz resplandeceu em meio às Trevas. Na noite de Belém, nos nasceu um Salvador. E aquela Luz brilhou tão forte nas trevas do pecado, que todos A perceberam. Os Reis Magos A perceberam, e vieram adorá-La. Herodes A percebeu, e tentou apagá-La. Porque, em meio às Trevas, é impossível não notar uma Luz resplandecente. Os filhos da Luz buscam-Na e sentem-se à vontade junto a Ela; os filhos das Trevas d'Ela fogem horrorizados, pois têm vergonha das suas obras ímpias, que realizam na escuridão. A Luz atrai os bons e afugenta os maus. Por isso, o Deus Menino nascido em Belém estava destinado a ser um sinal de contradição, como profetizou o velho Simeão.

"Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições" (Lc 2,34)

O Cristo Deus, Unigênito do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus Verdadeiro do Deus Verdadeiro, veio ao mundo destinado a ser uma causa de queda para muitos. Causa de queda para os que preferissem as Trevas à Luz. Causa de queda para os que, como Herodes, quisessem apagar essa Luz para continuar a viver nas Trevas.

E, neste Natal, somos como os Reis Magos, ou somos como Herodes? Procuramos ao Deus Menino para oferecer-Lhe o melhor que temos, ou fugimos d'Ele e O queremos matar, justamente para que não nos desfaçamos de nossos vícios que nos são tão caros? Desejamos que o Cristo nasça? Ou queremos que Ele não venha, para que possamos viver ainda um pouco mais nas Trevas, ainda um pouco mais no pecado, sem que nossas torpezas sejam postas a descoberto?

Se eu tivesse que escolher, diria que estamos muito mais para Herodes do que para os Reis Magos. Mas eu proponho uma terceira opção: neste Natal, nós somos como as construções, a cujas portas bateram Santa Maria e São José. Construções suntuosas como palácios, ricas demais para perceberem que lhes falta a maior das riquezas. Aconchegantes como hospedarias, animadas demais para perceberem Alguém que precisa de um pouco de atenção. Familiares, como casas, mas fechadas demais sobre si próprias para abrirem a porta a uma Mulher grávida e Seu marido. Ou indignas demais, como estrebarias, inadequadas para receber um Rei.

Mas não importa que construção nós sejamos, não importa se somos palácios ou hospedarias, casas ou estrebarias. Importa que estejamos com Maria. Porque, em Belém, de todas aquelas construções, somente uma teve a honra de abrigar o Filho de Deus feito Homem: aquela na qual se encontrava a Virgem Santa. Que assim seja também conosco. Neste Natal, como naquele primeiro, o Menino Deus só nasce naquelas almas que não negam hospedagem a Maria
Santíssima. Procuremos, pois, abrir as portas de nossa alma a essa Boa Senhora, e Ela, em troca, abrirá para nós as portas do Céu e nos trará Jesus Menino, Luz que resplandece nas trevas, Senhor Nosso e Nosso Salvador.

Um feliz e santo Natal a todos.
Jorge Ferraz

13 de dezembro de 2006

O Dogma da Imaculada Conceição

O Deus inefável,
cujas vias são misericórdia e verdade,
cuja vontade é onipotência,
cuja sabedoria atinge de um extremo ao outro, com força soberana, e dispõe tudo com maravilhosa doçura,
havia previsto desde toda a eternidade, a deplorável ruína para a qual a transgressão de Adão deveria arrastar toda a humanidade;
e, nos segredos profundos de um desígnio, velado a todos os séculos, Ele havia decidido realizar - mistério mais profundo ainda, pela encarnação do Verbo -, a primeira obra de Sua bondade, a fim de que o homem que fora induzido ao pecado, pela malícia e astúcia do demônio,
não perecesse - o que era contrário ao desígnio misericordioso de seu Criador -,
e que a queda de nossa natureza, no primeiro Adão, fosse reparada com vantagem para o segundo.

Ele destinou, pois, para o seu Filho único - desde o início dos tempos, antes de todos os séculos -, a Mãe da qual, tendo se encarnado, ele nasceria, na bendita plenitude dos tempos;
Ele a escolheu, fixando o seu lugar, segundo a ordem de seus desígnios;
Ele a amou acima de todas as criaturas, com um amor tal, de predileção,
que nela colocou, de maneira singular, todas as suas maiores complacências.

Eis porque, indo buscar nos tesouros de sua divindade, Ele a cumulou, bem mais que a qualquer espírito angelical, bem mais que a qualquer santo, com a abundância de todas as graças celestiais e a enriqueceu com tal e maravilhosa exuberância, fazendo com que ela se mantivesse, para sempre, imaculada, inteiramente isenta da escravidão do pecado, belíssima, perfeitíssima e em tal plenitude de inocência e santidade, que não podemos conceber, abaixo de Deus, alguém com maior perfeição. E somente Deus, e ninguém mais, é capaz de avaliar a sua grandeza.

(...)

Como conseqüência, após oferecermos incessantemente, na humildade e no jejum, Nossas próprias orações e as orações públicas da Igreja a Deus Pai, por meio de seu Filho, para que se digne, pela virtude do Espírito Santo, dirigir e confirmar o Nosso espírito; após termos implorado o socorro de toda a corte celestial e invocado com lamentos o Espírito Consolador e, assim, por sua divina inspiração, em honra da Santa e indivisível Trindade, para a glória e insígnia da Virgem Mãe de Deus, para a exaltação da fé católica e progresso da religião cristã; pela autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, os bem-aventurados Pedro e Paulo e pela Nossa, declaramos, pronunciamos e definimos que a Doutrina que sustenta que a Santíssima Virgem Maria, no primeiro instante da Sua concepção, foi preservada imune de toda a mancha de culpa original - por singular graça e privilégio de Deus Onipotente, em função dos méritos de Cristo Jesus, Salvador do Gênero humano -, foi revelada por Deus, e, portanto, deve ser firme e constantemente acreditada por todos os fiéis.

Pio IX
Bula Ineffabilis Deus - 8 de dezembro de 1854

12 de dezembro de 2006

Para que nossa fé seja completa

Se nós admitimos que o Filho tenha sido criado pelo Pai, admitimos, igualmente, seu nascimento por meio de Maria, para que nossa fé seja completa.

Qual seria o motivo da Encarnação de Jesus? Este, indubitavelmente: a carne que havia pecado deveria ser resgatada pela mesma carne.

Santo Ambrósio (340 - 397)

6 de dezembro de 2006

São Nicolau

6 de Dezembro

O Santo deste dia é São Nicolau, muito amado pelos cristãos e alvo de
inúmeras lendas. Nicolau nasceu na Ásia Menor, pelo ano de 275, filho de
pais ricos, mas com uma profunda vida de oração. Tornou-se sacerdote da
diocese de Mira, onde com amor evangelizou os pagãos, mesmo no clima de
perseguição em que viviam os cristãos.

São Nicolau é conhecido principalmente para com os pobres, já que ao receber
por herança uma grande quantia de dinheiro, livremente partilhou com os
necessitados. Certa vez, Nicolau sabendo que três pobres moças não tinham os
dotes para o casamento e por isso o próprio pai, na loucura, aconselhou-lhes
a prostituição, atirou pela janela da casa das moças três bolsas com o
dinheiro suficiente para os dotes das jovens. Daí que nos países do Norte da
Europa, através da fantasia, viram em Nicolau o velho de barbas brancas que
levava presentes às crianças no mês de dezembro.

Sagrado bispo de Mira, Nicolau conquistou todos com sua caridade, zelo,
espírito de oração, e carisma de milagres. Historiadores relatam que ao ser
preso, por causa da perseguição dos cristãos, Nicolau foi torturado e
condenado à morte, mas felizmente salvou-se em 313, pois foi publicado o
edital de Milão que concedia a liberdade religiosa.

São Nicolau participou no Concílio de Niceia, onde Jesus foi declarado
consubstancial ao Pai. Partiu para o céu em 342 ao morrer em Mira com fama
de santidade e de instrumento de Deus para que muitos milagres chegassem ao
povo.

Fonte: Evangelho Quotidiano

5 de dezembro de 2006

Muitos virão sentar-se à mesa do banquete

Concílio Vaticano II -- Constituição sobre a Igreja no mundo actual "Gaudium et Spes"

"Do Oriente e do Ocidente, muitos virão sentar-se à mesa do banquete... no Reino do Céu"

«Imagem de Deus invisível» (Col. 1,15), Cristo é o homem perfeito, que restitui aos filhos de Adão semelhança divina, deformada desde o primeiro pecado. Já que, n'Ele, a natureza humana foi assumida, e não destruída, por isso mesmo também em nós foi ela elevada a sublime dignidade. Porque, pela sua encarnação, Ele, o Filho de Deus, uniu-se de certo modo a cada homem. Trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, excepto no pecado (He 4,15)...

O cristão, tornado conforme à imagem do Filho que é o primogénito entre a multidão dos irmãos (Ro 8,29)), recebe «as primícias do Espírito» (Rom. 8,23), que o tornam capaz de cumprir a lei nova do amor. Por meio deste Espírito, «penhor da herança (Ef. 1,14), o homem todo é renovado interiormente, até à «redenção do corpo» (Rom. 8,23)... É verdade que para o cristão é uma necessidade e um dever lutar contra o mal através de muitas tribulações, e sofrer a morte; mas, associado ao mistério pascal, e configurado à morte de Cristo, vai ao encontro da ressurreição, fortalecido pela esperança.

E o que fica dito, vale não só dos cristãos, mas de todos os homens de boa vontade, em cujos corações a graça opera ocultamente. Com efeito, já que por todos morreu Cristo (Ro 8,32) e a vocação última de todos os homens é realmente uma só, a saber, a divina, devemos manter que o Espírito Santo a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal por um modo só de Deus conhecido.

24 de novembro de 2006

Quem se humilha será exaltado

"Quem se humilha será exaltado e quem se exalta será humilhado" (Mt 23,12)... Imitemos o Senhor que desceu do céu até à última humilhação e que, em recompensa, foi exaltado, desde o ínfimo lugar até à altura que lhe convinha. Descobramos tudo o que o Senhor nos ensina para nos conduzir à humildade.

Ainda menino, ei-lo já numa gruta, deitado não num berço mas numa mangedoura. Na casa de um operário e de uma mãe sem recursos, submeteu-se à mãe e ao seu esposo. Deixando-se ensinar, escutando aqueles de quem não tinha precisão, ele interrogava; contudo, de tal forma que, pelas suas interrogações, as pessoas espantavam-se com a sua sabedoria. Submete-se a João e o Mestre recebe o baptismo das mãos do servo. Nunca resistiu aos que se erguiam contra ele e não exibiu o seu poder invencível para se libertar das mãos que o prendiam, mas deixou-se levar, como um impotente, e na medida em que achou bem entregou-se nas mãos de um poder efémero. Compareceu diante do sumo-sacerdote na qualidade de acusado; conduzido diante do governador, submeteu-se ao seu julgamento e, quando podia responder aos caluniadores, suportou em silêncio as suas calúnias. Coberto de escarros por escravos e vis criados, foi enfim entregue à morte, a uma morte infamante aos olhos dos homens. Eis como se desenrolou a sua vida de homem, desde o nascimento até ao fim. Mas, depois de uma tal humilhação, fez brilhar a sua glória... Imitemo-lo para chegarmos, também nós, à glória eterna.


S. Basílio (cerca de 330 - 379), monge e bispo de Cesareia na Capadócia, doutor da Igreja.

Homilia sobre a humildade, 5-6

Fonte: Evangelho Quotidiano

16 de novembro de 2006

O Reino de Deus está no meio de nós e dentro de nós

Tal como disse o nosso Senhor e Salvador: "O Reino de Deus vem sem que se possa notar. Não se dirá: 'Ei-lo, está aqui' ou 'Está ali'. Porque o Reino de Deus está dentro de vós". Com efeito, "está bem perto de nós, essa Palavra, está na nossa boca e no nosso coração" (Dt 30,14). Sendo assim, é evidente que aquele que reza para que venha o Reino de Deus tem razão em pedir que esse reino de Deus germine, dê fruto e se realize dentro de si próprio. Em todos os santos em quem Deus reina e que obedecem às suas leis espirituais, ele habita como que numa cidade bem organizada. O Pai está presente nele e Cristo reina com o Pai nessa alma perfeita, tal como Ele mesmo disse: "Viremos a ele e faremos nele a nossa morada" (Jo 14,23).

Uma vez que estamos sempre a progredir, o Reino de Deus que está em nós atingirá a sua perfeição quando a palavra do apóstolo Paulo se cumprir: Cristo, "depois de ter submetido" todos os seus inimigos, "deporá o seu poder real nas mãos de Deus Pai, para que Deus seja tudo em todos" (1Co 15,28). É por isso que, rezando sem desanimar, com disposições divinizadas pelo Vebo, nós dizemos: "Pai nosso que estás nos céus, que o teu nome seja santificado, que o teu Reino venha" (Mt 6,9).


Orígenes (cerca de 185 - 253), presbítero e teólogo -- Tratado sobre a oração.

Fonte: Evangelho Quotidiano

Maria é o novo mundo preparado para receber o novo Adão

Antes de formar o primeiro homem, Deus tinha-lhe preparado o magnífico palácio da criação. Colocado no Paraíso, o homem se deixou expulsar por causa da sua desobediência, e tornou-se, com todos os seus descendentes, presa da corrupção. Mas, Aquele que é rico em misericórdia, teve piedade da obra de Suas próprias Mãos, e decidiu criar um novo céu, uma nova terra, um novo mar para servir de morada ao Incompreensível, desejoso de reformar o gênero humano.

O que é este mundo novo, esta nova criação? A bem-aventurada Virgem Maria é o céu que mostra o sol da justiça, a terra que produz o rio da vida, o mar que traz a pérola espiritual... Como este mundo é magnífico! Como esta geração é admirável, com a sua bela vegetação de virtudes, e suas flores odoríficas da virgindade!... O que há de mais puro, de mais irrepreensível que a Virgem?

Deus, luz soberana e imaculada, nela encontrou tantos encantos que se uniu, substancialmente, a ela, por meio da descida do Espírito Santo. Maria é a terra sobre a qual o espinho do pecado não conseguiu sequer florescer. Ao contrário, ela produziu o rebento, por meio do qual, o pecado foi completamente extirpado.

(...)

Maria é uma terra que não foi amaldiçoada como a primeira, aquela, fecunda em espinhos e cardos. Sobre ela, ao contrário, desceu a bênção do Senhor e seu fruto é bendito, como cita o divino oráculo.

Agora, de posse da bem-aventurada imortalidade, A Santa Virgem ergue para Deus - para a salvação do mundo - as suas mãos, estas que embalaram Deus... Branca e pura pomba, erguida em seu vôo até o mais alto dos céus, ela não cessa de proteger nossa região inferior. Ela nos deixou fisicamente, mas está conosco em espírito; no Céu, a Virgem Santa coloca os demônios em fuga, tendo-se tornado nossa mediadora junto ao Pai. Outrora, a morte, introduzida no mundo por meio de Eva, estreitou-a sob o seu penoso império; hoje, lançando-se sobre a bem-aventurada filha de u´a mãe cheia de culpa, a morte foi expulsa; e sua derrota surgiu de onde, dantes, surgira o seu poder...

Ó Virgem, eu vos vejo adormecida e não morta: vós fostes assunta, da terra ao Céu e, não obstante, não cessais de proteger o gênero humano... Mãe, permanecestes virgem, porque "Ele era Deus, aquele a quem vós destes à luz". Assim atua, igualmente, vossa "morte viva", tão diferente da nossa: somente vós - o que é mais do que justo - tendes o corpo e a alma íntegros, puros, incorruptos.

De São Teodoro Studita -- Os Mais belos textos sobre a Virgem Maria -- Apresentados por Padre Pie Régamey (1946) .

31 de outubro de 2006

Eu farei de vós pescadores de homens

Orígenes (c. 185-253), sacerdote e teólogo
Contra Celso, I, 62

A palavra dos apóstolos Simão e Judas ressoou por toda a terra

Se Jesus tivesse escolhido para ministros dos seus ensinamentos homens sábios segundo a opinião pública, capazes de compreender e de exprimir ideias caras à multidão, poderiam tê-lo acusado de pregar segundo o método dos filósofos de escola, e o carácter divino da sua doutrina não se teria mostrado com toda a sua evidência. A sua doutrina e a sua pregação teriam consistido “em sabedoria de palavras” (1 Cor 1, 17) […]; e a nossa fé, semelhante àquela com que se adere às doutrinas dos filósofos deste mundo, assentaria na sabedoria dos homens e não no poder de Deus (cf. 1 Cor 2, 5). Mas, quando vemos pescadores e publicanos sem instrução terem a ousadia de discutir com os judeus a fé em Jesus Cristo, de a pregar ao resto do mundo, e de conseguir lá chegar, não podemos deixar de procurar a origem deste poder de persuasão. Como não podemos deixar de confessar que Jesus cumpriu a sua palavra – “Vinde após Mim e Eu farei de vós pescadores de homens” (Mt 4, 19) – nos seus apóstolos por meio de um poder divino.

Também Paulo manifesta este poder quando escreve: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em discursos persuasivos da sabedoria humana, mas na manifestação do Espírito e do poder divino” (1 Cor 2, 4) […]. O mesmo haviam já dito os profetas, quando anunciavam antecipadamente a pregação do Evangelho: “O Senhor dá a palavra e os anunciadores da Boa Nova são uma multidão”, a fim de que “rápida corra a sua palavra” (Sl 67, 12; 147, 4). E, de facto, vemos que “a voz” dos apóstolos de Jesus ressoa “por toda a terra, até aos confins do universo a sua palavra” (Sl 18, 5; Rom 10, 18). Eis por que motivo aqueles que escutam a palavra de Deus poderosamente enunciada se enchem, eles mesmos, de poder; e manifestam-no pela sua conduta e pela sua luta em prol da verdade até à morte.

Fonte: Evangelho quotidiano

Eu sou a luz do mundo

Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano de Estrasburgo
Sermão 10

“Imediatamente o homem começou a ver, e seguia Jesus pelo caminho”

“Eu sou a luz do mundo” (Jo 8, 12). Ele é a luz que dá brilho a todas as luzes da terra: às luzes materiais como o sol, a lua, as estrelas e os sentidos físicos do homem; e também à luz espiritual, à inteligência do homem, graças à qual todas as criaturas devem refluir para a sua origem. Sem este refluxo, estas luzes criadas são, em si mesmas, verdadeiras trevas, comparadas com a luz autêntica por essência, que é luz para o mundo inteiro.

Nosso Senhor disse-nos: “Renuncia à tua luz, que é trevas em comparação com a minha luz, e que me é contrária, porque Eu sou a verdadeira luz e quero dar-te, em troca das tuas trevas, a minha luz eterna, a fim de que ela te pertença como a Mim mesmo, e de que tu tenhas, como Eu mesmo, o Meu ser, a Minha vida, a Minha felicidade e a Minha alegria.”

Qual é, então, o caminho mais curto, que conduz a verdadeira luz? Eis tal caminho: renunciar verdadeiramente a si mesmo, amar e não ter em vista senão só Deus […], não querer em coisa alguma o próprio interesse, mas desejar e procurar somente a honra e a glória de Deus, esperar tudo imediatamente de Deus e, sem desvio nem intermediário, a Ele remeter todas as coisas, venham de onde vierem, a fim de que haja entre Deus e nós um fluxo e um refluxo imediatos. Eis o verdadeiro caminho, o caminho recto.


Fonte: Evangelho quotidiano

Instruções do Cardeal Mindszenty ao povo húngaro

Como seria bom para o Brasil este exemplo!

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O Cardeal Mindszenty, no dia em que foi elevado à dignidade de Príncipe-Primaz, invocando o nome de Deus, adjurou os fiéis nestes termos: "Sejamos um povo de orações. Se reaprendermos a rezar, iremos possuir uma fonte inesgotável de força e de confiança. Eu deposito minha confiança nessas milhões de orações dos peregrinos e no terço de minha Mãe."

Em 1948 o Cardeal declara: "Meu voto, meu desejo mais profundo é que um milhão de famílias húngaras tomem o terço nas mãos e rezem a Maria." E, em uma de suas cartas pastorais: "Nós vemos a Mão de Deus nos acontecimentos da História, - mesmo nos perigos e nas tormentas - "É por este motivo que a nossa confiança n´Ele jamais se enfraquecerá. É por este motivo que nós vos conclamamos a colocar o vosso destino - por meio de Maria - nas mãos de Deus. Voltemos às mais antigas fontes do nosso Patrimônio Húngaro! Vamos dar à Virgem Maria o nome de rainha, para que ela tome o nosso destino em suas mãos."

Ouvi a prece que fez à Mãe de Deus: "Maria, nossa Mãe, o que nós suportamos em angústias, oferecemos em expiação. Que os suspiros e lágrimas, o medo, a amargura, o mudo lamento do mundo sirvam de expiação para nossos pecados. Estamos prestes a sofrer, Mãe dolorosa, tanto quanto teu Filho julgue necessário para a nossa salvação. Entretanto, nós te suplicamos, reerga a nação sofrida como Jó e mostra que tu continuas a ser a nossa Mãe."

P.Werenfried van Straaten,
Dans l’Homme nouveau de 15.06.1975

Fonte: Um minuto com Maria

O Rosário de Grignion de Montfort

Missionário, Grignon de Montfort subia o Rio Sena em uma embarcação cumulada de, pelo menos, umas 200 pessoas a se acotovelarem, rindo grosseiramente, cantando canções lascivas. Há pouco engajado neste vaivém de comerciantes de gado e peixeiros, o senhor de Montfort começa por ajustar o seu crucifixo, na ponta do próprio bastão. Em seguida, prostrando-se, grita: "Aqueles que amam Jesus Cristo, juntem-se a mim, para adorá-Lo."

Balançares desdenhosos de ombros, risadas e chacotas o acolheram. Então, voltando-se para o Irmão Nicolas, disse: "De joelhos, recitemos o Rosário!" Sob uma avalanche de deboches, os dois homens, cabeças descobertas, rostos concentrados e tranqüilos, desfiavam as Ave-Marias. Assim que terminaram o primeiro terço do Rosário, o Santo se levantou e com a voz doce convidou a assistência a se unir a ele para invocar Maria. Ninguém se mexeu, mas as vaias serenaram no momento em que a oração recomeçava. À medida que as invocações "Santa Maria, rogai por nós, pobres pecadores" se sucediam, o rosto do Santo se transfigurava.

Concluídas as cinco novas dezenas, nota-se em seu olhar tal súplica e, em sua voz, tanta unção e autoridade que, no momento em que conjura a assistência a recitar com ele a terceira parte do Rosário, todos caem de joelhos e repetem docilmente as suas palavras, esquecidas desde a infância. O santo sacerdote pôde então se alegrar: de um teatro de obscenidades, ele fez um santuário; aos lábios acostumados às blasfêmias, ele restituiu o nome de Maria.

Antologia Mariana 1975 p. 12


Fonte: Um minuto com Maria

Celebrar ou não celebrar Halloween?

Entrevista com Paolo Gulisano, autor de um livro sobre o tema

ROMA, segunda-feira, 30 de outubro de 2006 (ZENIT.org).- Grandes abóboras vazias iluminadas em seu interior, como se fossem caveiras, esqueletos e sombrias figuras encapuzadas, risadas assustadoras e um estribilho obsessivo; doce ou brincadeira? Tudo isso é Halloween, uma moda, uma festa, um novo costume que se impôs nos últimos anos, graças, em parte, à persuasão do cinema e da televisão.

A festa de Halloween se introduziu inclusive nas escolas de países nos quais há apenas alguns anos se desconhecia a existência da festa: em muitos centros escolares, desde a escola primária à superior, os professores organizam a festa junto aos alunos, com jogos e desenhos.

O tema de Halloween foi abordado em todos seus aspectos pelo escritor italiano Paolo Gulisano, autor de numerosos ensaios sobre literatura de fantasia e sobre a cultura anglo-saxônica. Junto à pesquisadora irlandesa, residente nos Estados Unidos, Brid O’Neill, publicou nestes dias em italiano um livro titulado «A noite das abóboras» («La notte delle zucche», editora Ancora).

Para aprofundar no significado da festa de Halloween, Zenit entrevistou Paolo Guiliano.

--Em alguns setores, ante a expansão de Halloween, começou a manifestar-se uma certa preocupação. O que você pensa ao respeito?

--Guliano: É verdade. Há quem vê no Halloween um retorno a formas de «paganismo» e quem, ao contrário, vê um rito folclórico e de consumismo, uma espécie de inócuo carnaval fora de temporada. O fato é que ninguém recorda, não só entre as crianças e jovens e no âmbito mediático popular, a festividade cristã que Halloween está suplantando, Todos os Santos. Em 1º de novembro se confundiu com a comemoração dos Fiéis Defuntos, que cai na realidade no dia seguinte.

--Mas o que significa Halloween?

--Gulisano: O nome Halloween é a deformação americana do termo, no inglês da Irlanda, «All Howllows’ Eve»: Vigília de Todos os Santos. Esta antiqüíssima festa chegou aos Estados Unidos junto com os imigrantes irlandeses e lá se enraizou, para sofrer recentemente uma radical transformação. Das telas de Hollywood, a moda de Halloween chegou assim desde há alguns anos à velha Europa e a outras partes do mundo. Detrás de Halloween está uma das mais antigas festas sagradas do Ocidente: uma festa que atravessou os séculos, com usos e costumes que se foram redefinindo no tempo, mas que conservaram o mesmo significado. Suas origens, o significado dos símbolos, são, contudo, desconhecidos para a maioria.

--Mas a festa se remonta ao paganismo dos celtas. Em 1º de novembro, era para eles o primeiro dia do ano, a festa na qual os espíritos buscavam corpos para reencarnar-se. A Igreja, na Idade Média, substituiria esta tradição pela festividade de Todos os Santos, que é seguida depois pelo dia dos Fiéis Defuntos.

--Gulisano: Exato. Halloween não é mais que a última versão, secularizada, de uma ortodoxa festa católica, e em meu livro procurei explicar como pôde suceder que uma tradição plurissecular cristã tenha se convertido no atual carnaval de terror. Digamos antes de tudo, que a origem deste último fenômeno, Halloween, é completamente americana. Nesse país, ao que chegaram milhões de imigrantes irlandeses, com sua profunda devoção pelos santos, se tratava de um culto muito fastidioso para a cultura dominante, de caráter puritano. Deste modo, em sua atual versão secularizada, buscou-se descartar o sentido católico de Todos os Santos, mantendo em Halloween o aspecto lúgubre do mais além, com os fantasmas, os mortos que se levantam dos túmulos, as almas perdidas que atormentam aos que em vida lhes fizeram dano: um aspecto que se tenta exorcizar com as máscaras e as brincadeiras.

Obviamente, o velho continente não podia permanecer muito tempo sem adotar o novo «culto». De fato, vemos Halloween difundir-se cada vez mais entre nós com seu cortejo de artigos de consumo mais ou menos macabros -- caveiras, esqueletos, bruxas -- que não se propõe como uma forma de neopaganismo, nem como um culto esotérico, mas simplesmente como uma paródia da religiosidade cristã autêntica, com fins preferentemente consumistas: vender produtos de carnaval (o chamado mercado de Halloween), máscara, caveiras, abóboras, capas, gorros e outras coisas, além de espaços publicitários nos filmes de horror emitidos pelas emissoras de televisão. Halloween se propõe comercialmente como uma festa jovem, divertida, diferente, «transgressiva»; a pessoa se disfarça de fantasma, bruxa ou zumbi para ir a alguma festa...

--Contudo, Halloween não pode ser considerado simplesmente como um fenômeno comercial ou como um segundo Carnaval...

--Gulisano: Certamente. É importante conhecer e saber valorizar bem suas raízes culturais, e também as implicações esotéricas que se sobrepuseram ambiguamente a esta data. O dia 31 de outubro, com efeito, se converteu em uma data importante para o esoterismo, em cujos textos encontramos estas definições: «Volta do Grande Sabba [encontro entre as bruxas e Satanás, ndr.] quatro vezes ao ano... Halloween, que é talvez a festa mais querida»; «Samhain [festa celta de 1º de novembro, ndr.] é o dia mais mágico de todo o ano, ano novo de todo o mundo esotérico». O mundo do oculto a define assim: «é a festa mais importante para os seguidores de Satanás». A data de uma importante celebração de cultura celta antes e da cristã depois passou a fazer parte do calendário do ocultismo.

--Então, o que se deve fazer no dia 31 de outubro?

--Gulisano: Na minha opinião, pode-se e deve-se fazer festa. Em 1º de novembro, que foi o Ano Novo celta e depois Todos os Santos, é uma festividade extraordinária para os cristãos, e não vale a pena deixá-la nas mãos de charlatões e ocultistas. Não é preciso ter medo do Halloween «mal», e por isso é preciso conhecê-lo bem. Halloween, de qualquer forma, não pode ser ignorado, já faz parte já do cenário de nossos tempos. O que fazer, portanto?

Educadores e famílias deveriam mobilizar-se contra a falta de educação, de bom gosto, contra a profanação do mistério da morte e da vida após a morte, mas não é fácil ir contra a corrente, desafiar as modas que imperam em nossa sociedade.

Então, pode-se fazer festa em Halloween, recordando o que este dia significou durante séculos e o que continua testemunhando. Deve-se salvar Halloween, dando-lhe todo seu antigo significado, liberando esta festa da dimensão puramente consumista e comercial e, sobretudo, extirpando a pátina de ocultismo sombrio de que foi revestida.

Portanto, eu aconselharia organizar a festa e explicar claramente que se está festejando os mortos e os santos, de forma positiva e inclusive engraçada, para que as crianças sejam educadas em uma visão da morte como um acontecimento humano, natural, do qual não se deve ter medo.

Pio XII consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria

No dia 31 de outubro de 1942, data do encerramento solene do Jubileu das Aparições de Fátima, o Papa Pio XII enuncia, por meio de uma rádio, a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria atendendo ao pedido de nossa Mãe do Céu. Este gesto importante foi por ele renovado no dia 8 de dezembro do mesmo ano.

Em 1944, em plena guerra mundial, o mesmo soberano pontífice consagraria, igualmente, todo o gênero humano ao Imaculado Coração de Maria, colocando-o sob a Sua poderosa proteção. Durante a mesma cerimônia, o sumo pontífice decretou que a Igreja inteira celebraria uma festa, a cada ano, em honra ao Imaculado Coração de Maria, para que fosse obtida, por meio da intercessão da Santíssima Virgem "A paz das nações, a liberdade da Igreja, a conversão dos pecadores, o amor à pureza e a prática das virtudes". Ele fixou a data desta festa para o dia 22 de agosto, oitavo dia da festa da Assunção.

Fonte: Um minuto com Maria

Ser fermento na massa

S. João Crisóstomo
(cerca 345-407), bispo de Antioquia e depois de Constantinopla, doutor da Igreja
Homília 20 sobre os Actos dos Apóstolos

Há algo mais irrisório do que um cristão que não se preocupa com os outros? Não tomes como pretexto a tua pobreza: a viúva que pôs duas pequenas moedas na arca do tesouro (Mc 12,42) levantar-se-ia contra ti; Pedro também, ele que dizia ao coxo: “Não tenho ouro nem prata” (Ac 3,6), e Paulo, tão pobre que tinha muitas vezes fome. Não uses a tua condição social, pois os apóstolos também eram humildes e de baixa condição. Não invoques a tua ignorância, porque eles eram homens iletrados. Mesmo se tu eras escravo ou fugitivo, tu podias sempre fazer o que dependia de ti. Assim era Onésimo que Paulo elogiou. Serás tu de saúde frágil? Timóteo também o era. Sim, seja o que for que sejamos, não importa quem pode ser útil ao seu próximo, se ele quer verdadeiramente fazer o que ele pode.

Vês quantas árvores da floresta são vigorosas, belas, esbeltas? E contudo, nos jardins, preferimos árvores de fruto ou oliveiras cobertas de frutos. Belas árvores estéreis..., assim são os homens que apenas consideram o seu próprio interesse...

Se o fermento não levedasse a massa, não seria um verdadeiro fermento. Se um perfume não perfumasse os que estão perto, poderíamos chamá-lo de perfume? Não digas pois que é impossível teres uma boa influência sobre os outros, porque se és verdadeiramente cristão, é impossível que não se passe nada; isso faz parte da essência própria do cristão... Será tão contraditório dizer que um cristão não pode ser útil ao seu próximo como negar ao sol a possibilidade de iluminar e aquecer.


Fonte: Evangelho quotidiano

25 de outubro de 2006

A luta do povo pela liberdade

O Papa Bento XVI solidarizou-se com a luta do povo húngaro contra o comunismo há 50 anos atrás.


Carta do Papa nos cinqüenta anos da rebelião da Hungria


CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 24 de outubro de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos a carta que Bento XVI enviou ao cardeal Angelo Sodano, legado pontifício por ocasião das celebrações do qüinquagésimo aniversário da rebelião da Hungria.

* * *


A nosso venerado irmão
Cardeal ANGELO SODANO
Secretário de Estado emérito
Decano do Colégio cardinalício

É nobre e justo defender e conservar os próprios direitos de liberdade e religião. Com efeito, «a verdadeira liberdade é sinal eminente da imagem divina no homem» (Gaudium et spes, 17). Por isso, a Igreja considera que se deve tutelar a justa dignidade e a liberdade: «O homem foi constituído inteligente e livre na sociedade por Deus criador» (ib., 21). Em conseqüência, os que por este motivo sofrem atropelos ou perdem a vida são dignos de louvor e de piedosa lembrança.

Assim, pois, como há cinqüenta anos meu predecessor o Papa Pio XII, de venerada memória, solicitamente acompanhou com suas orações e consolou com suas palavras o povo húngaro quando defendia sua liberdade, também eu quero expressar estima pelas solenes celebrações que dentro de pouco acontecerão em Budapeste para comemorar o 50º aniversário daquela heróica defesa da liberdade nacional.

Estou profundamente certo de que este acontecimento poderá ajudar a fé e a unidade dessa nobre nação e de toda a Europa. Por isso, aceitei com prazer ao convite do senhor presidente da Hungria, Ladislao Solyon. Ao não poder ir eu pessoalmente, desejo encomendar o cumprimento desta singular tarefa a ti, venerado irmão, que com grande prudência e perícia te encarregaste durante tanto tempo dos compromissos mais importantes do Romano Pontífice para bem de toda a Igreja.

Portanto, com esta carta eu te nomeio legado meu para a solene comemoração que se terá em Budapeste nos dias 22 e 23 do próximo mês de outubro, por ocasião da celebração da liberdade da Hungria. Assim, pois, em meu nome presidirás os ritos solenes e transmitirás convenientemente a todos os presentes minha saudação, particularmente ao presidente da Hungria, às autoridades e aos pastores sagrados. A todos confirmarás minha benevolência, caridade e presença espiritual.

Podes exortar a todos com as palavras do Concílio Vaticano II, “principalmente àqueles que têm a seu cuidado a educação dos outros, a que se esforcem por formar homens que, respeitando a ordem moral, obedeçam à autoridade legítima e amem a autêntica liberdade” (Dignitatis humanae, 8).

Encomendo tua missão de legado à poderosa intercessão da Grande Senhora da Hungria, assim como a São Estevão e a São João de Capistrano, com a esperança de que esse acontecimento beneficie a nação, confirme sua fé e dê abundantes frutos de caridade e paz.

Quero, por último, que envies amorosamente a todos os participantes na celebração a bênção apostólica, prenda da graça celestial e testemunho de minha comunhão.

Vaticano, 23 de setembro de 2006, segundo ano de meu pontificado.

[Tradução realizada por Zenit. © Copyright 2006 - Libreria Editrice Vaticana]

Silêncio e contemplação

"Só se procederem do silêncio e da contemplação nossas palavras podem ter um certo valor e utilidade e não cair na inflação dos discursos do mundo que buscam o consenso da opinião pública."

Papa Bento XVI

6 de outubro de 2006

O nascimento da nova Eva

Alegra-te, Adão, nosso pai, e sobretudo tu, Eva, nossa mãe. Fostes ao mesmo tempo os nossos pais e os nossos assassinos; vós que nos destinastes à morte ainda antes de nos terdes dado à luz, consolai-vos agora. Uma das vossas filhas - e que filha! - vos consolará. Vem então, Eva, corre para junto de Maria. Que a mãe recorra à sua filha; a filha responderá pela mãe e apagará a sua falta. Porque a raça humana será agora elevada por uma mulher.

Que dizia Adão outrora? "A mulher que me deste ofereceu-me o fruto da árvore e eu comi." (Gn 3,12) Eram palavras más, que agravavam a sua falta em vez de a apagarem. Mas a divina Sabedoria triunfou sobre tanta malícia; aquela ocasião de perdoar que Deus tinha tentado em vão fazer nascer, ao interrogar Adão, eis que agora a encontra no tesouro da sua inesgotável bondade. A primeira mulher é substituida por outra, uma mulher sábia no lugar da insensata, uma mulher humilde tanto quanto a outra era orgulhosa.

Em vez do fruto da árvore da morte, ela apresenta aos homens o pão da vida; substitui aquele alimento amargo e envenenado pela doçura dum alimento eterno. Muda então, Adão, a tua acusação injusta em expressão de agradecimento e diz: "Senhor, a mulher que tu me deste apresentou-me o fruto da árvore da vida. Comi dele e o seu sabor foi para mim mais delicioso do que o mel (Sl 18,11), porque por este fruto me devolveste a vida." Eis porque é que o anjo foi enviado a uma virgem. Ó Virgem admirável, digna de todas as honras! Ó mulher que temos de venerar infinitamente entre todas as mulheres, tu reparas a falta dos nossos primeiros pais, tu dás vida a toda a sua descendência.

S. Bernardo (1091-1153)
Monge cisterciense e doutor da Igreja
Louvores da Virgem Maria: homilia 2.

27 de setembro de 2006

Assassinato e totalitarismo andam juntos

É interessante a combinação de querer liberdade para assassinar crianças e negar a liberdade de expressão "político-ideológica" a religiosos, como se não fossem também cidadãos.

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Nota da Arquidiocese do Rio de Janeiro sobre notificação ao cardeal Eusébio Scheid

RIO DE JANEIRO, terça-feira, 26 de setembro de 2006 (ZENIT.org).

A Assessoria de Imprensa da Arquidiocese do Rio de Janeiro divulgou esta terça-feira Nota Oficial, assinada pelo Bispo Auxiliar e Moderador da Cúria Metropolitana, Dom Assis Lopes, sobre o recebimento da notificação do TRE ao Cardeal Eusébio Scheid e a D. Dimas Lara Barbosa, Bispo auxiliar do Rio e a cassação dessa liminar pelo Colegiado do próprio TRE. Esta é a íntegra da Nota Oficial:

NOTA OFICIAL DA ARQUIDIOCESE DO RIO DE JANEIRO

Em setembro de 2005, a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, diretamente subordinada à Presidência da República, encaminhou à Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados um Projeto de Lei elaborado por uma Comissão Tripartite (integrada por representantes dos Poderes Executivo e Legislativo e de entidades da sociedade civil, em cuja participação a Igreja Católica não foi admitida), e que propunha a descriminalização do aborto no Brasil.

No dia 4 de outubro de 2005, a relatora, Deputada Jandira Feghali, apresentou parecer incorporando o relatório dessa Comissão Tripartite a um substitutivo do PL – Projeto de Lei 1135, de 1991, definindo o aborto como um direito da mulher, e propondo extinguir todos os artigos do Código Penal Brasileiro que definem o crime de aborto. Com isto, todos os tipos de aborto deixariam de ser crime e a prática se tornaria legal, por qualquer motivo, em qualquer momento da gravidez, isto é, durante todos os nove meses, desde a concepção até o momento do parto (1).

Diversos grupos da sociedade civil têm se organizado no sentido de tornar conhecida essa atividade, em si mesma pública, da Parlamentar. Na quinta-feira, dia 21 de setembro de 2006, no entanto, a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro foi surpreendida com um Mandado de Busca e Apreensão de “material de propaganda eleitoral em desfavor” da candidata Jandira Feghali ao Senado. Esse Mandado foi conseqüência de uma representação da Coligação “Um Rio Para Todos” (PT, PSB e PC do B) ao TRE – Tribunal Regional Eleitoral.

Em cumprimento ao Mandado de Busca e Apreensão, os Oficiais de Justiça e a Advogada da Coligação vistoriaram todas as dependências da Sede da Arquidiocese, não respeitando nem mesmo o Gabinete Oficial do Eminentíssimo Senhor Cardeal e os Gabinetes dos Excelentíssimos Senhores Bispos Auxiliares. O material procurado não foi encontrado, e não era de autoria nem de responsabilidade da Arquidiocese.

Ontem, dia 25 de setembro, às 15h11min, o Eminentíssimo Senhor Cardeal Dom Eusébio Oscar Scheid, Arcebispo do Rio de Janeiro e o Excelentíssimo Senhor Bispo Auxiliar, Dom Dimas Lara Barbosa, foram notificados do teor da seguinte liminar: que orientem “a todos os párocos, vigários paroquiais e diáconos ou eventuais celebrantes de ofícios religiosos, no sentido de que se abstenham de qualquer tipo de comentário ou referência político-ideológica, sob pena de caracterizar-se desobediência à presente ordem judicial”.

Nesse mesmo dia 25 de setembro, no entanto, o Colegiado do próprio TRE cassou essa liminar, por cinco votos a um. Afinal, a Constituição Brasileira foi respeitada e prevaleceu a democracia.
A Arquidiocese do Rio de Janeiro, na fidelidade à sua missão evangélica, reafirma sua posição com relação às eleições 2006 – expressa no documento intitulado “Voto Consciente”, distribuído às Paróquias - em que incentiva a participação dos católicos na política e a escolha de candidatos comprometidos com os princípios e valores éticos e cristãos; reafirma, ainda, o ponto principal do documento: o respeito à vida e à dignidade da pessoa humana desde a concepção até a morte natural.

É direito do eleitor conhecer seus candidatos e sua atuação. Por outro lado, espera-se de todo candidato a devida transparência em todos os seus atos e propostas.

Rio de Janeiro, 26 de setembro de 2006

Dom Assis Lopes Bispo Auxiliar do Rio e Moderador da Cúria Metropolitana

***
1. Esse fato pode ser constatado no site oficial da Câmara dos Deputados: www.camara.gov.br/sileg/integras/361656.pdf. Veja-se: http://www.jandirafeghali.com.br/site/index.php?option=content&task=view&id=913&Itemid=2.

Fonte: zenit.org -- ZP06092618

Defesa do direito à vida não depende de motivação religiosa

Muito boa esta explicação. Principalmente pela comparação com a "vida tartarugal"...

Defesa do direito à vida não depende de motivação religiosa, afirma jurista

Ives Gandra Martins diz que aborto é «homicídio de seres humanos concebidos»

SÃO PAULO, terça-feira, 26 de setembro de 2006 (ZENIT.org).- Segundo um jurista brasileiro, os promotores do aborto tentam desqualificar os defensores da vida afirmando que estes agem por motivação religiosa.

Ives Gandra da Silva Martins afirma que «os abortistas -e não tenho receio de chamá-los assim, visto que defendem o aborto, ou seja, o homicídio de seres humanos concebidos, no ventre materno- na ânsia de desqualificarem os defensores dos inocentes, dizem que estes são movidos por motivos religiosos, como se, numa democracia, só quem não tem religião tenha o direito de opinar».

O jurista recorda o direito à vida «sempre foi defendido por ateus, agnósticos e crentes em Deus, desde que não vocacionados ao direito de matar».

Em artigo intitulado O Direito de Viver, difundido essa segunda-feira pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), Ives Gandra lembra que o Brasil é signatário do Pacto de São José, tratado internacional que reconhece que a vida tem início na concepção.

«O zigoto já é um ser humano, com todos os sinais que se desenvolverão até sua morte, dentro ou fora do ventre materno», afirma o jurista.

«Se assim não fosse --prossegue--, tais pessoas que conseguiram aprovar o projeto Tamar, considerando crime destruir ovos de tartarugas, não precisariam preocupar-se, porque os ovos de tartarugas ou os fetos não seriam embriões de tartarugas e nem haveria vida “tartarugal” a proteger».

De acordo com Ives Gandra, por ter a Constituição brasileira garantido o “direito à vida” (art. 5º), sem qualquer restrição, e pelo fato de o Brasil ter assinado o Pacto de São José, «matar embriões de seres humanos no útero ou fora dele, é crime e torna quem o autoriza ou pratica promotor de homicídio».

«Tampouco me parece possível que lei ordinária possa autorizar a eliminação sumária de seres humanos pelos métodos dolorosos que se conhecem (dilaceração, queimaduras, envenenamento, retirada do líquido do cérebro para fazê-lo passar pela vagina materna etc., que estão descritos pelos professores de medicina que participaram comigo do livro “Direito fundamental à vida” – Editora Quartier Latin), visto que a Constituição proíbe tais práticas, assim como o Pacto de São José, para os países signatários, como o Brasil, que não tinham antes adotado o aborto, em sua legislação maior ou inferior», escreve o jurista.

Fonte: zenit.org
ZP06092615

15 de agosto de 2006

Não existem duas Missas

Bento XVI é gritante em ensinar que o problema atual é uma crise de Fé. Nada mais e nada menos. A repercussão desta crise se dá na liturgia também, claro. Mas, não da forma esperada pelos tradicionalistas ou pela SSPX e simpatizantes.

Assim como não existem duas Igrejas, uma pré-conciliar, e a outra pós-conciliar, também não existem duas Missas, a de ontem e a de hoje. A Missa é uma só e a mesma de sempre. A questão não é que rito se reza, seja ele romano, seja ele tridentino. Pelo contrário, a questão reside em como se reza! Novamente, é uma questão interna do fiel, portanto uma questão de fé.

Mauro do Carmo na lista Tradição Católica

14 de agosto de 2006

S. Maximiliano Maria Kolbe

No dia 14 de Agosto celebra-se:

S. Maximiliano Maria Kolbe
Presbítero, mártir, +1941

Nasceu na Polónia, em 1894. Morreu num campo de concentração nazista, oferecendo a sua vida em favor de um pai de família condenado à morte. Era franciscano conventual. Ensinou teologia em Cracóvia. Devotadíssimo de Nossa Senhora, fundou, na Polônia, a Milícia da Imaculada. E para maior divulgação da devoção à Imaculada, criou a Revista Azul, destinada aos operários e camponeses, alcançando, em 1938, cerca de 1 milhão de exemplares. A "Cidade da Imaculada" abrigava 672 religiosos e um vasto parque gráfico. Foi percursor das comunicações. Perto de Nagasaki fundou uma segunda Cidade da Imaculada com o seu boletim mariano e missionário, impresso em japonês.

Regressado à Polônia, foi preso pelos nazistas devido à influência que a revista e publicações marianas exerciam. Foi dia 7 de Fevereiro de 1941, em Varsóvia. Dali foi levado para Auschwitz e condenado a trabalhos forçados. Exerceu um verdadeiro apostolado no meio dos companheiros de infortúnio, encorajando-os a resistir com firmeza de ânimo. Foi ali que se ofereceu para morrer no lugar de Francisco Gajowniczek. Único sobrevivente do grupo, no subterrâneo da morte, Maximiliano Kolbe resistiu por quinze dias à fome, à sede, ao desespero na escuridão do cárcere. Confortava os companheiros, os quais, um após outro, aos poucos sucumbiam. Morreu com uma injecção de fenol que lhe administraram. Era o prisioneiro com o nº 16.670. Foi no dia 14 de Agosto de 1941. Beatificado por Paulo VI em 1971, foi canonizado por João Paulo II, em 1982.

Toda a razão de ser, de sofrer e de morrer do Padre Kolbe esteve em perscrutar - para dela viver e fazer que se vivesse - a resposta de Maria a Bernardette: "Sou a Imaculada Conceição".

Fonte: EVANGELHO QUOTIDIANO

11 de agosto de 2006

Vim lançar fogo sobre a terra

“Foi o fogo do teu amor, Senhor, que permitiu ao diácono São Lourenço permanecer fiel” (Coleta)

O exemplo de São Lourenço encoraja-nos a dar a vida, ilumina a fé, atrai a devoção. Não são as chamas da fogueira, mas as chamas de uma fé viva, que nos consomem. O nosso corpo não foi queimado pela causa de Jesus Cristo, mas a nossa alma é transportada pelos ardores do seu amor […], o nosso coração arde de amor por Jesus. Não foi o próprio Salvador que disse, acerca deste fogo sagrado: “Vim lançar fogo sobre a terra; e que quero Eu senão que ele já se tenha ateado?” (Lc 12, 49)? Cléofas e o companheiro experimentaram os seus efeitos quando diziam: “Não estava o nosso coração a arder cá dentro, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” (Lc 24, 32).

Foi também graças a este incêndio interior que São Lourenço permaneceu insensível às chamas do martírio; arde em desejo de estar com Jesus, e não sente a tortura. Quanto mais cresce nele o ardor da fé, menos sofre a tortura. […] A força do braseiro divino que tem aceso no coração acalma as chamas do braseiro ateado pelo carrasco.

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África) e doutor da Igreja
Sermão 206 (atrib.)

Fonte: EVANGELHO QUOTIDIANO

Ver o Filho do homem vir com o seu Reino

A Sagrada Escritura, confirmada pela experiência dos séculos, ensina à família humana que o progresso humano, tão grande bem para o homem, traz consigo também uma grande tentação: perturbada a ordem de valores e misturado o bem com o mal, os homens e os grupos consideram apenas o que é seu, esquecendo o dos outros. Deixa assim o mundo de ser um lugar de verdadeira fraternidade, enquanto que o acrescido dos homens ameaça já destruir o próprio género humano.

E se alguém quer saber de que maneira se pode superar esta situação miserável, os cristãos professam que todas as actividades humanas... devem ser purificadas e levadas à perfeição pela cruz e ressurreição de Cristo. Porque, remido por Cristo e tornado nova criatura no Espírito Santo, o homem pode e deve amar até as coisas criadas por Deus...

O Verbo de Deus, pelo qual todas as coisas foram feitas, fazendo-se homem e vivendo na terra dos homens, entrou como homem perfeito na história do mundo, assumindo-a e recapitulando-a (Ef 1,10). Ele revela-nos que «Deus é amor» (1 Jo 4, 8) e ensina-nos ao mesmo tempo que a lei fundamental da perfeição humana e, portanto, da transformação do mundo, é o novo mandamento do amor (Jo 13,34). Dá, assim, aos que acreditam no amor de Deus, a certeza de que o caminho do amor está aberto para todos e que o esforço por estabelecer a universal fraternidade não é vão. Adverte, ao mesmo tempo, que este amor não se deve exercitar apenas nas coisas grandes, mas, antes de mais, nas circunstâncias ordinárias da vida. Suportando a morte por todos nós pecadores, ensina-nos com o seu exemplo que também devemos levar a cruz que a carne e o mundo fazem pesar sobre os ombros daqueles que buscam a paz e a justiça.

Concílio Vaticano II
Constituição sobre a Igreja no Mundo Contemporâneo, Gaudium et Spes, §37-38

Fonte: EVANGELHO QUOTIDIANO

3 de agosto de 2006

A pérola de grande valor

Entre os dons espirituais recebidos da generosidade de Deus, Francisco obteve em particular o de sempre enriquecer o seu tesouro de simplicidade graças ao amor de uma enorme pobreza. Ao ver que aquela que tinha sido a companheira habitual do Filho de Deus se tinha tornado então o objecto de uma aversão universal, ele tomou a peito desposá-la e dedicar-lhe um amor eterno. Não contente com "deixar por causa dela o seu pai e a sua mãe" (Gn 2,24), distribuiu aos pobres tudo o que podia possuir (Mt 19,21). Ninguém guardou o seu dinheiro de forma mais ciosa do que Francisco guardou a sua pobreza; ninguém vigiou o seu tesouro com mais cuidado do que ele dispendeu para guardar essa pérola de que fala o EvangelhoNada o feria tanto como encontrar entre os irmãos alguma coisa que não fosse absolutamente conforme à pobreza dos religiosos. Desde o início da sua vida religiosa até à morte, ele próprio só teve como riquezas uma túnica, uma corda como cinto e uma espécie de calções; nada mais lhe fazia falta. Às vezes, acontecia-lhe chorar ao pensar na pobreza de Cristo e de sua Mãe: "Eis porque é que a pobreza é a rainha das virtudes, dizia ele; é por causa do brilho com que irradiou no Rei dos reis (1Tm 6,15) e na Rainha sua Mãe".

Quando os irmãos lhe perguntavam um dia qual era a virtude que nos torna mais amigos de Cristo, respondeu, abrindo por assim dizer o segredo do seu coração: "Sabei, irmãos, que a pobreza espiritual é o caminho privilegiado da salvação, porque é a seiva da humildade e a raiz da perfeição; os seus frutos são incontáveis se bem que ocultos. Ela é esse 'tesouro escondido num campo' para cuja compra, diz o Evangelho, é preciso tudo vender e cujo valor deve impelir-nos a desprezar todas as outras coisas".

Fonte: EVANGELHO QUOTIDIANO

2 de agosto de 2006

A Virgem Maria, nossa esperança

A Virgem Maria foi assunta ao Céu de corpo e alma.

Ela é, portanto, a primeira e por enquanto a única pessoa humana a estar fisicamente junto de Jesus Cristo. Ela é o sinal da glória que Jesus reservou para os justos.

Assim, ela é a nossa esperança, porque nela já se concretizou aquilo que esperamos que se concretize também para nós.

1 de agosto de 2006

Não considerar apenas uma metade de Deus

Santo Agostinho observa que, para enganar os homens, o demônio emprega ora o desespero, ora a confiança. Após o pecado, o demônio nos mostra o rigor da justiça de Deus para que desconfiemos de Sua misericórdia. Entretanto, antes do pecado, o demônio nos coloca diante dos olhos a grande misericórdia de Deus, a fim de que o receio dos castigos, devidos aos pecados, não nos impeça de satisfazer nossas paixões.

"... Essa misericórdia sobre a qual vós cantais para poder pecar, dizei-me, quem vo-la prometeu? Não Deus, certamente, mas o demônio, obstinado em vos perder. Cuidado!", diz São João Crisóstomo, "de dar ouvidos a este monstro infernal que vos promete a misericórdia celeste... 'Deus é cheio de misericórdia, eu pecarei e em seguida confessar-me-ei.' Eis aí a ilusão, ou antes, a armadilha que o demônio usa para arrastar tantas almas para o inferno!"

Nosso Senhor, aparecendo um dia a Santa Brígida, queixou-Se: "Eu sou justo e misericordioso, mas os pecadores não querem ver senão minha misericórdia."

"Não duvideis", diz São Basílio, "que Deus é misericordioso, mas saibamos que Ele também é justo, e estejamos bem atentos para não considerar apenas uma metade de Deus."

Uma vez que Deus é justo, é impossível que os ingratos escapem do castigo... Misericórida! Misericórdia! Sim, mas para aquele que teme a Deus, e não para aquele que abusa da paciência divina.

(Sermons de S. Alphonse de Liguori, Analyses, commentaires, exposé du système de sa prédication, par le R.P. Basile Braeckman, de la Congrégation du T.S. Rédempteur, Tome Second. Jules de Meester-Imprimeur-Editeur, Roulers, pp. 55-60)

Os anjos lançarão os iníquos na fornalha ardente

Nos dias de hoje quase não se ouve mais a proclamação desta verdade anunciada por Jesus:

«Assim, pois, como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será no fim do mundo: o Filho do Homem enviará os seus anjos, que hão-de tirar do seu Reino todos os escandalosos e todos quantos praticam a iniquidade, e lançá-los na fornalha ardente; ali haverá choro e ranger de dentes. Então os justos resplandecerão como o Sol, no Reino de seu Pai. Aquele que tem ouvidos, ouça!»

(Mateus 13,40-43)

31 de julho de 2006

O fermento da nova Eva

Evangelho segundo S. Mateus 13,31-35:

Jesus propôs-lhes outra parábola: «O Reino do Céu é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. É a mais pequena de todas as sementes; mas, depois de crescer, torna-se a maior planta do horto e transforma-se numa árvore, a ponto de virem as aves do céu abrigar-se nos seus ramos.» Jesus disse-lhes outra parábola: «O Reino do Céu é semelhante ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha, até que tudo fique fermentado.» Tudo isto disse Jesus, em parábolas, à multidão, e nada lhes dizia sem ser em parábolas. Deste modo cumpria-se o que fora anunciado pelo profeta: Abrirei a minha boca em parábolas e proclamarei coisas ocultas desde a criação do mundo.

Da Bíblia Sagrada

Comentário ao Evangelho do dia feito por :
S. Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, doutor da Igreja Sermão 99

O fermento que faz levedar toda a humanidade

Cristo comparava há pouco o Seu reino a um grão de mostarda; agora, identifica-o com fermento. Ele contava que um homem semeara uma sementinha e nascera uma grande árvore; agora a mulher incorpora uma pitada de fermento para fazer crescer a sua massa. Na verdade, como diz o apóstolo Paulo: «Diante do Senhor, a mulher é inseparável do homem, e o homem da mulher» (1Cor 11,11)... Nestas parábolas, Adão, o primeiro homem, e Eva, a primeira mulher, são conduzidos da árvore do conhecimento do bem e do mal ao sabor ardente dessa árvore da mostarda do evangelho...

Eva recebera do demónio o fermento da má fé; e essa mulher recebe de Deus o fermento da fé... Eva, pelo fermento da morte, corrompera, na pessoa de Adão toda a massa do género humano; uma outra mulher renovará na pessoa de Cristo, pelo fermento da ressurreição, toda a massa humana. Depois de Eva, que amassou o pão dos gemidos e do suor (Gn, 3,19), esta cozerá o pão da vida e da salvação. Depois daquela que foi, em Adão, a mãe de todos os mortos, esta será em Cristo a «verdadeira mãe de todos os vivos» (Gn, 3,20). Pois se Cristo quis nascer, foi para que nessa humanidade em que Eva semeou a morte, Maria restaurasse a vida. Maria oferece-nos a perfeita imagem desse fermento, ela propõe-nos a parábola, quando em seu seio recebe do céu o fermento do Verbo e o derrama em seu seio virginal sobre a carne humana, que digo eu? Sobre uma carne que, no seu seio virginal, é toda celeste e que ela faz, assim, levedar.

Fonte: EVANGELHO QUOTIDIANO

28 de julho de 2006

Subtraí-vos durante umas horas às vossas preocupações materiais

Comentário ao Evangelho feito por São Cesário de Arles (470-543), monge e bispo
Sermões ao povo

Receber a Palavra na boa terra

Que Cristo vos ajude, caríssimos irmãos, a acolher sempre a Palavra de Deus de coração ávido e sedento; assim, a vossa obediência fidelíssima encher-vos-á de alegria espiritual. Mas, se quereis que as Sagradas Escrituras vos sejam doces e que os preceitos divinos vos aproveitem como devem, subtraí-vos durante umas horas às vossas preocupações materiais. Relede na vossa casa as palavras de Deus, consagrai-vos inteiramente à Sua misericórdia. Assim, conseguireis realizar em vós aquilo que está escrito acerca do homem feliz: “Meditará dia e noite na lei do Senhor” (Ps 1, 2), e também: “Felizes aqueles que perscrutam os Seus mandamentos, aqueles que O buscam de todo o coração” (Ps 118, 2).

Os comerciantes não procuram retirar lucros de uma só mercadoria, mas de muitas. Os lavradores procuram melhorar o seu rendimento semeando diferentes tipos de sementes. Vós, que procurais benefícios espirituais, não vos contenteis com ouvir os textos sagrados na igreja. Lede os textos sagrados em casa; quando os dias são curtos, aproveitai os longos serões. E assim, podereis ajuntar o trigo espiritual no celeiro do vosso coração, e guardar no tesouro da vossa alma as pérolas preciosas das Escrituras.

Fonte: EVANGELHO QUOTIDIANO -- www.evangelhoquotidiano.org
Evangelho segundo S. Mateus 13,18-23

Temos necessidade do Deus que vence na cruz

Reflexão de Bento XVI sobre a paz
No ato de oração pelo Oriente Médio, presidido por ele no domingo

RHÊMES-SAINT GEORGES, terça-feira, 25 de julho de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos as palavras que Bento dirigiu, sem papéis, na tarde deste domingo, no ato de oração pela paz no Oriente Médio que ele presidiu na igreja paroquial de Rhêmes Saint-Georges, no Vale de Aosta.

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Eu gostaria somente de oferecer umas breves palavras de meditação sobre a leitura que acabamos de escutar. Com o fundo da dramática situação do Oriente Médio, impressiona-nos a beleza da visão ilustrada pelo apóstolo Paulo (cf. Efésios 2, 13-18): Cristo é a nossa paz. Ele reconciliou uns e outros, judeus e pagãos, unindo-os em seu Corpo. Ele superou a inimizade com o seu Corpo, na Cruz. Com sua morte, superou a inimizade e uniu todos em sua paz.

No entanto, mais que a beleza dessa visão, o que nos impressiona é o contraste com a realidade que vivemos e vemos. E, em um primeiro momento, não podemos fazer outra coisa senão perguntar ao Senhor: «Mas, Senhor, o que é que teu apóstolo está nos dizendo: “Foram reconciliados”?» Na verdade, nós vemos que não estão reconciliados... Ainda há guerras entre cristãos, muçulmanos, judeus; e outros fomentam a guerra, e tudo continua repleto de inimizade, de violência. Onde está a eficácia do teu sacrifício? Onde está, na história, esta paz da qual o teu apóstolo nos fala?

Nós, os homens, não podemos resolver o mistério da história, o mistério da liberdade humana que diz «não» à paz de Deus. Não podemos resolver todo o mistério da relação entre Deus e o homem, de sua ação e de nossa resposta. Temos de aceitar o mistério. No entanto, há elementos de resposta que o Senhor nos oferece.

Um primeiro elemento é que essa reconciliação do Senhor, esse sacrifício seu, não foi ineficaz. Existe a grande realidade da comunhão da Igreja universal, de todos os povos, da rede da Comunhão eucarística, que transcende as fronteiras de culturas, de civilizações, de povos, de tempos. Existe essa comunhão, existem essas «ilhas de paz» no Corpo de Cristo. Existem. E existem forças de paz no mundo. Se contemplarmos a história, podemos ver os grandes santos da caridade que criaram «oásis» dessa paz de Deus no mundo, que acenderam novamente sua luz, e foram capazes de reconciliar e de criar de novo a paz. Existem os mártires que sofreram com Cristo, que deram esse testemunho da paz, do amor, que coloca um limite à violência.

E vendo que a realidade da paz existe, ainda que a outra realidade tenha permanecido, podemos aprofundar ainda mais na mensagem desta carta de São Paulo aos Efésios. O Senhor venceu na cruz. Ele não venceu com um novo império, com uma força mais poderosa que as outras, capaz de destruí-las; não venceu de uma maneira humana, como imaginamos, com um império mais forte que o outro. Ele venceu com um amor capaz de chegar até a morte. Esta é a nova maneira de vencer de Deus: à violência não opõe uma violência mais forte. À violência opõe precisamente o contrário: o amor até o final, sua Cruz. Esta é a maneira humilde de vencer de Deus: com seu amor -- e só assim é possível -- põe um limite à violência. Esta é uma maneira de vencer que nos parece muito lenta, mas é a verdadeira forma de vencer o mal, de vencer a violência, e temos que confiar nesta forma divina de vencer.

Confiar quer dizer entrar ativamente nesse amor divino, participar desse trabalho de pacificação, para estar em linha com o que o Senhor diz: «Bem-aventurados os pacificadores, os agentes de paz, porque eles são os filhos de Deus». Temos de levar, na medida das nossas possibilidades, nosso amor a todos os que sofrem, sabendo que o Juiz do Juízo Final se identifica com os que sofrem. Portanto, o que fazemos aos que sofrem, estamos fazendo ao Juiz Último da nossa vida. Isso é importante: neste momento, podemos levar sua vitória ao mundo, participando ativamente de sua caridade. Hoje, em um mundo multicultural e multirreligioso, muitos têm a tentação de dizer: «É melhor para a paz do mundo, entre as religiões, entre as culturas, não falar demais do específico do cristianismo, isto é, de Jesus, da Igreja, dos Sacramentos. Contentemo-nos com o que pode ser mais ou menos comum...». Mas não é verdade. Precisamente neste momento, momento de um grande abuso em nome de Deus, temos necessidade do Deus que vence na cruz, que não vence com a violência, senão com seu amor. Precisamente neste momento, temos necessidade do Rosto de Cristo para conhecer o verdadeiro rosto de Deus e para poder levar assim a reconciliação e a luz a este mundo. Por este motivo, junto com o amor, temos que levar também o testemunho desse Deus, da vitória de Deus, precisamente mediante a não-violência de sua Cruz.

Desta forma, voltamos ao ponto de partida. O que podemos fazer é dar testemunho do amor, testemunho da fé; e, sobretudo, elevar um grito a Deus: podemos rezar! Estamos certos de que nosso Pai escuta o grito de seus filhos. Na missa, ao preparar-nos para a santa Comunhão, para receber o Corpo de Cristo que nos une, pedimos com a Igreja: «Livrai-nos, Senhor, de todos os males, e concedei a paz em nossos dias». Que esta seja a nossa oração neste momento: «Livrai-nos de todos os males e dai-nos a paz». Não amanhã, ou depois de amanhã: dai-nos, Senhor, a paz hoje! Amém.


[Traduzido por Zenit © Copyright 2006 - Libreria Editrice Vaticana]
ZP06072506

26 de julho de 2006

A secularização da família

Cardeal Cañizares: Totalitarismo, direitos humanos e democracia (I)
Entrevista ao primaz da Espanha e vice-presidente da Conferência Episcopal

TOLEDO, terça-feira, 25 de julho de 2006 (ZENIT.org).- Tendo como pano de fundo o V Encontro Mundial das Famílias, recentemente realizado em Valência, Jaime Antúnez, diretor de Humanitas, revista de antropologia e cultura cristã da Pontifícia Universidade Católica do Chile, entrevistou detalhadamente o cardeal Antonio Cañizares, arcebispo de Toledo, primado da Espanha e vice-presidente da Conferência Episcopal espanhola. Estes são alguns dos principais pontos da conversa.

-- Em uma cultura como a que se impõe na Espanha, na Europa e em todo o Ocidente, com uma forte carga ideológica secularista, podemos afirmar que é no âmbito da família onde este secularismo se manifesta de forma mais evidente e agressiva?

-- Cardeal Antonio Cañizares: Acho que não é a família o âmbito onde se gera esse secularismo, senão que é o âmbito mais afetado por ele. A família na Espanha é concretamente uma família cristã, ainda quando não for praticante, ainda que seja muito sacudida pelos ventos da secularização, por todo o poder mediático que a ideologia relativista difunde. Existem recursos ainda muito valiosos na família espanhola, e estamos a tempo de que ela recupere sua verdade. Mas também é certo que a família espanhola, pelas pressões desse poder mediático, pelas legislações tão agressivas contra ela, está sofrendo um forte relativismo, que se baseia em viver fora da verdade que a constitui, com o qual as pessoas caem muitas vezes em situações lamentáveis.

-- Suas declarações descarregaram fortes responsabilidades no Governo socialista pelo que acontece com a família.

-- Cardeal Antonio Cañizares: Nos últimos anos, assistimos a uma escalada contra a família por parte do Governo socialista, ajudado por outras forças políticas e outros poderes ou grupos, como o do império gay ou o de certas ideologias e organizações feministas, que tentam impor a ideologia de gênero. A Espanha ocupa um dos últimos lugares da Europa em política familiar, o de menos ajuda à família; é, junto com a Grécia, a nação européia com o menor índice de natalidade, onde a população jovem mais decresceu nos últimos 25 anos, e onde mais se incrementou o número de abortos nos últimos dez anos; ocupa o terceiro lugar no crescimento de rupturas matrimoniais na última década. E, simultaneamente, foi mais longe que nenhum outro país da Comunidade Européia em matéria legislativa contrária e nociva para a família.

Novamente, é preciso dizer que o futuro da família depende de que esta possa viver sua verdade, de que supere o relativismo ao qual é empurrada. A família poderá ser educadora e transmissora da fé se superar esse relativismo. Se não o superar, continuará em uma crise, crise de fé que arraiga em uma crise de verdade, porque não tem fundamento principal para apoiar-se e viver com toda esperança o que ela é.

-- No final do passado mês de março, por ocasião dos 40 anos da clausura do Concílio Vaticano II, a Assembléia Plenária da Conferência Episcopal espanhola, da qual o senhor é o Vice-presidente, emitiu uma estudada declaração titulada «Teologia e secularização na Espanha» -- de ampla repercussão em todo o mundo católico ibero-americano -- na que se expõem os efeitos destrutivos da ideologia secularista no interior da teologia moral. Isso também tem relação com o tema da família, concretamente com a missão que ela tem de transmitir a fé, tema central do V Encontro Mundial em Valência?

-- Cardeal Antonio Cañizares: Efetivamente. O ensinamento teológico-moral na Espanha não ajudou a viver a verdade da família, não ajudou a que a família cristã seja essa pequena igreja doméstica que a «Familiaris consortio» deseja. Não ajudou a que se viva a família cristã como sinal e como ícone da aliança de Deus com a humanidade, a que a família seja lugar de encontro com Deus na comunidade.

-- E como se produziu isso, que uma teologia moral induza à secularização da família?

-- Cardeal Antonio Cañizares: Isso se produziu porque a base dessa teologia moral não foi precisamente a antropologia que a Revelação mostra em Jesus Cristo. E, claro, tudo isso se difundiu depois em cursos pré-matrimoniais, difundiu-se através de movimentos familiares que propagaram, por exemplo, uma leitura falsa da «Humanae vitae» de Paulo VI, ou inclusive contrária a ela, encontrando-se nela muitas das chaves dessa teologia moral. Propugnou-se, por conseguinte, que o importante era simplesmente o amor e não a abertura à vida. Ensinou-se que, sendo o matrimônio efetivamente indissolúvel, essa indissolubilidade radicava somente em uma decisão dos cônjuges.

É, como podemos ver, uma moral que se baseia unicamente na decisão pessoal e não no que são as realidades objetivas, que nos são dadas pela Revelação e com a mesma natureza criada. Essa teologia moral, em resumo, não difundiu o Deus criador, a realidade suprema que fez o homem, e o fez à sua imagem, homem e mulher.
Tudo isso influenciou muito negativamente na secularização da família. E se a família se seculariza, seculariza-se a sociedade inteira.

-- Alguns bispos espanhóis deram a conhecer, em diferentes declarações, que nesta nação se dá atualmente um fato inédito na história da civilização: a supressão do matrimônio.

-- Cardeal Antonio Cañizares: Aqui na Espanha, com efeito, o mais grave que aconteceu na legislação é que no Código Civil desaparece a realidade do matrimônio, sendo substituída simplesmente pela união de pessoas; e que as condições de «pai» e «mãe» são substituídas simplesmente pela denominação de «cônjuge». Conseqüentemente, o matrimônio não existe. Em nenhum lugar do mundo se fala de matrimônio de pessoas do mesmo sexo; matrimônio propriamente dito só existe entre homem e mulher. No Código Civil, isso é um fato enorme, desapareceu de fato a expressão jurídica natural do matrimônio entre um homem e uma mulher.

-- Conversando sobre essa situação com o arcebispo de Granada, Dom Javier Martinez, ele me dizia o seguinte: «Eu acho que há dois aspectos bastante visíveis na revolução niilista que se vive atualmente na Espanha. Um é o desejo de fazer desaparecer da vida cultural e social qualquer elemento, inclusive residual, da tradição cristã ou de referência à tradição cristã, ao conceito cristão do humano. Depois, unido a isso, está a invenção de ‘novos direitos’, porque o homem é concebido como um pequeno absoluto para quem tudo é possível, e tudo aquilo que é possível e agradável, imediatamente agradável, sem considerar as conseqüências, simplesmente se converte em um direito de forma fictícia». O senhor poderia comentar este segundo aspecto, referente aos «novos direitos»?

-- Cardeal Antonio Cañizares: Direitos humanos, nessa nova concepção, já não são os que estão inscritos na natureza humana. Direitos humanos já não são algo que antecede a decisão do homem, a decisão das maiorias, a decisão do poder, senão algo que se estabelece pelo poder, seja este o poder totalitário de um homem, o das maiorias, ou o que se gera através da manipulação da opinião pública. Em definitiva, o poder. Desta forma, é o ser humano quem decide e quem dá explicação absoluta de si mesmo, com o qual não há direitos humanos.

Neste momento, estamos assistindo -- e a Espanha é um dos expoentes mais nítidos -- a uma crise profundíssima dos direitos humanos, mas com essa crise profundíssima não pode haver democracia.

-- O senhor fala de totalitarismo...

-- Cardeal Antonio Cañizares: É uma atitude totalitarista. Não importa se é um totalitarismo parlamentar, ou seja, o totalitarismo de um senhor, mas é totalitarismo. O que vale é o que a maioria ou o poder supremo define, e se define algo alheiro à ordem natural criada, por que não... E isso se eleva como critério. É o que vimos com o discurso da investidura do presidente, onde ele afirmou que promoveria que cada um pudesse decidir sobre o seu sexo. Mas se cada um pode decidir sobre tudo isso e tudo é questão de decisão, por que não será também legítima a violência, por que não será legítimo o roubo, se é a pessoa que decide. Nesta concepção, não há nada objetivamente bom nem mau.

-- O positivismo em sua expressão mais radical.

-- Cardeal Antonio Cañizares: Exato.

--Chamou muito a atenção nos países americanos – e uma vez mais de modo exemplar – a reação dos católicos espanhóis em defesa do verdadeiro matrimônio e da família tradicional. Não é habitual que dois milhões de pessoas saiam às ruas, como um junho passado, e que um grupo importante de bispos acompanhe uma manifestação dessa natureza convocada por uma organização civil. De que maneira crê Sua Eminência que o V Encontro Mundial das Famílias fortalecerá essa capacidade de resistência frente ao claro e inédito propósito que se dá na Espanha de eliminar a instituição do matrimônio?

--Cardeal Antonio Cañizares: Quando as famílias recolheram firmas, quando as famílias saíram às ruas em duas ocasiões, foi para dizer sim à família, sim ao matrimônio entre o homem e a mulher, sim à vida, sim ao que está na entranha da verdade da família; sim ao direito e ao dever inalienável que os pais têm de educar seus filhos conforme suas próprias convicções, sim a esse ensino religioso que os pais pedem, sim a uma educação que seja verdadeiramente humanitária. O Encontro Mundial das Famílias foi a ratificação por parte do Papa e por parte também de outras famílias, de outras partes do mundo, disso mesmo que as famílias espanholas estão defendendo, propondo. E têm se sentido muito alentadas; o Encontro de Valência terá sido pra elas não somente um ar fresco que chegou, mas que com a grande força do Espírito e a grande força da Igreja que lhes disse: adiante!, tende confiança em seus próprios recursos e em sua própria realidade, que por aí vai o futuro e o melhor serviço que podeis fazer à sociedade.

[A segunda parte desta entrevista será publicada esta quarta-feira, 26 de julho]

ZP06072520

25 de julho de 2006

Educação ao silêncio

RUMO AO SACERDÓCIO do mons. Massimo Camisasca

"Educação ao silêncio" Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Não existe possibilidade de estar diante de uma Presença, da pessoa de Cristo presente agora, se não se é educado ao silêncio. O eremita Laurentius dizia: «Então compreendi que a minha vida seria transcorrida na memória daquilo que me tinha ocorrido. E a tua recordação me enche de silêncio». O nosso conhecimento de Cristo é um donum Dei altissimi, por isso, deve ser implorado, tenazmente e fielmente.

Assim, um tempo do dia sistematicamente dedicado ao silêncio é fundamental na vida de um padre, que de outro modo acaba disperso entre mil particulares e preocupações. A vida de um padre, inclusive do mais ativo missionário, deve ter no fundo uma ossatura monástica, ou permanece frágil, sem capacidade de construção autêntica. É no silêncio que se aprende a estar com as pessoas de maneira diferente, a falar com as pessoas de maneira diferente, a rir com as pessoas de maneira diferente. Ao mesmo tempo, torna-se mais felizes e mais profundos.

O silêncio não pode ser reduzido a um tempo de "atualização". Mesmo que seja um tempo de leitura - da vida dos santos ou da história da Igreja - este tem a estrutura da oração. Por isso, ensino aos meus seminaristas a começar a hora que cotidianamente fazemos na nossa Casa de Formação com dez minutos de oração em joelhos diante de Cristo e a conclui-la com o Terço: oração que é pergunta, que é oferta de si, oração que é invocação da bênção de Deus sobre a Igreja, sobre as pessoas que nos são confiadas. Somente uma razão persuasiva de caridade poderia dispensar deste tempo do dia doado diretamente a Cristo.

(Agência Fides 14/7/2006)

Fonte: Lista Tradição Católica

A importância do descanso

Que interessante este comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap, pregador da Casa Pontifícia, sobre a importância do descanso:

Jesus, no Evangelho, jamais dá a impressão de estar agitado pela pressa. Às vezes, ele até perde o tempo: todos o buscam e Ele não se deixa encontrar, absorto como está na oração. Às vezes, como em nossa passagem evangélica, Ele inclusive convida seus discípulos a perderem tempo com Ele: «Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco». Ele recomenda freqüentemente que não se agitem. Também o nosso físico, quanto bem recebe através de tais «folgas».

Entre essas «pausas», estão precisamente as férias de verão que estamos vivendo [na Europa ndr.]. Elas são, para a maioria das pessoas, a única oportunidade de descansar um pouco, para dialogar de forma distendida com o próprio cônjuge, brincar com os filhos, ler algum bom livro ou contemplar a natureza em silêncio; em resumo, para relaxar. Fazer das férias um tempo mais frenético que o resto do ano significaria arruiná-las.

Ao mandamento «Lembrai-vos de santificai as festas», seria preciso acrescentar: «Lembrai-vos de santificar as férias». «Parai (literalmente: vacate, tirai férias!), sabei que eu sou Deus», diz Deus em um salmo (Salmo 46). Um meio simples de fazer isso poderia ser entrar em uma igreja ou em uma capela de montanha, em uma hora onde estiver deserta, e passar um pouco de tempo «solitário» lá, a sós conosco mesmos, a sós frente a Deus.

Fonte: Zenit -- ZP06072101

Orações pela conversão dos terroristas

Que interessante... Rezar pela conversão dos terroristas.

Isto é que é um exemplo de coragem e fé digno de um Papa!

Essa visita do Papa às carmelitas foi feita em apoio ao bombardeio do Monte Carmelo pelos terroristas no dia de Nossa Senhora do Carmo.




Bento XVI pede orações pela conversão dos terroristas

INTROD, sexta-feira, 21 de julho de 2006 (ZENIT.org).- Em pleno agravamento do conflito no Oriente Médio, Bento XVI pediu orações pela conversão dos terroristas.

Este foi o compromisso que deixou às carmelitas de Quart, localidade próxima a Les Combes (Introd), ao visitar-lhes em 14 de julho, em sua primeira excursão nestes dias que passa em férias nos Alpes italianos. As próprias religiosas revelaram agora conteúdos de sua conversa à imprensa.

«Rezai também pelos terroristas, pois não sabem que não só causam dano ao próximo, mas antes de tudo a si mesmo», disse o Papa, segundo revelou à imprensa Irmã Maria, uma das dez carmelitas da comunidade religiosa.

Preocupado pelo que acontece na Terra Santa, o Papa acrescentou: «Agora experimentamos um agravamento do conflito no Líbano, mas também em outras muitas partes do mundo há pessoas que sofrem por causa da fome e da violência».

«A vida contemplativa e rica de caridade abre o céu à humanidade, que tanto o necessita, pois hoje no mundo parece como se Deus não existisse. E onde não está Deus há violência e terrorismo».

O Santo Padre, segundo revelou a religiosa ao diário italiano La Repubblica em 18 de julho, manifestou também sua preocupação pela contínua saída de cristãos da Terra Santa.

O convento de Quart foi inaugurado por João Paulo II em 1989.

Bento XVI convocou para o próximo domingo, 23 de julho, uma Jornada de oração e penitência pela paz no Oriente Médio.

Fonte: ZENIT -- ZP06072110

21 de julho de 2006

O Padre

QUANDO SE PENSA...

Quando se pensa que nem a Santíssima Virgem pode fazer o que faz um sacerdote;

quando se pensa que nem os anjos, nem os arcanjos, nem São Miguel, nem São Gabriel, nem São Rafael, nem um dos principais daqueles que venceram Lúcifer pode fazer o que faz um sacerdote;

quando se pensa que Nosso Senhor Jesus Cristo, na Última Ceia, realizou um milagre maior que a Criação do universo com todos os seus esplendores, ou seja, o de converter o pão e o vinho em Seu Corpo e Seu Sangue para alimentar o mundo, e que este portento, diante do qual se ajoelham os anjos e os homens, pode repeti-lo cada dia o sacerdote;

quando se pensa em outro milagre que somente um sacerdote pode realizar: perdoar os pecados, e o que liga no fundo de seu humilde confessionário, Deus, obrigado por sua própria palavra, o liga no Céu, e o que ele desliga, no mesmo instante desliga Deus;

quando se pensa que um sacerdote faz mais falta que um rei, mais que um militar, um banqueiro, um médico, que um professor, porque ele pode substituir a todos e nenhum deles pode substituí-lo;

quando se pensa que um sacerdote, quando celebra no altar tem uma dignidade infinitamente maior que um rei; e não é nem um símbolo, nem sequer um embaixador de Cristo, mas o próprio Cristo que está ali repetindo o maior milagre de Deus;

quando se pensa tudo isto...

compreende-se o afã que, em tempos antigos, cada família ansiava para que de seu seio brotasse, como uma vara de nardo, uma vocação sacerdotal;

compreende-se o imenso respeito que os povos tinham pelos sacerdotes, o que se refletia nas suas leis;

compreende-se que se um pai ou uma mãe obstruem a vocação sacerdotal de um filho é como se renunciassem a um título de nobreza incomparável;

compreende-se que um seminário ou um noviciado é mais que uma igreja, uma escola e um hospital;

compreende-se que dar para custear os estudos dum jovem seminarista ou noviço é aplanar o caminho pelo qual chegará ao altar um homem que durante meia hora cada dia será muito mais que todas as dignidades da terra e que todos os santos do céu, pois será o próprio Cristo, sacrificando Seu Corpo e Seu Sangue, para alimentar o mundo.

Hugo Wast

18 de julho de 2006

Passio Christi, conforta me

O texto abaixo foi extraído, com autorização, de uma mensagem de Jorge Ferraz à lista Tradição Católica, em 18/07/2006:

<< Pus-me agora a pensar na Cruz de Cristo. Ele, sendo Deus, não conhecia desde já a triste situação pela qual a Igreja passaria nos dias de hoje? Não sofreria já pelos bofetões e cusparadas que, dois mil anos depois, a Sua Noiva iria sofrer até mesmo daqueles que deveriam cuidá-la e zelar por ela? É claro que sofria! E é com este pensamento que eu creio estarmos - todos os católicos fiéis - unidos de alguma maneira aos sofrimentos de Cristo, posto que, certamente, sofremos por algo que O fez sofrer também, pelo qual Ele também sofreu. Os chicotes e os espinhos a ferir o corpo de Nosso Senhor não podem, também, ferir o nosso corpo; mas os chicotes e os espinhos espirituais, que Lhe afligiam a alma... ah, esses afligem a minha alma também. Esses, numa só tacada atingem a alma de Cristo e as dos cristãos. E que grande honra e que grande consolo: pregado na Cruz de Nosso Senhor, não com os mesmos cravos físicos, mas com os mesmos cravos espirituais, que tanto Lhe provocaram dor.

Sempre gostei daquela oração "Anima Christi", em particular da frase "Passio Christi, conforta me". Paixão de Cristo, confortai-me. Sim, porque os meus sofrimentos tornam-se pequenos diante dos sofrimentos de Nosso Senhor; e, neste caso, onde os sofrimentos são oriundos da situação da Igreja, a Paixão de Cristo conforta-me porque estes são parte integrante dos sofrimentos da Paixão. Cristo, da maneira mais literal possível, sofreu os sofrimentos pelos quais agora passo. >>

Jorge Ferraz

12 de julho de 2006

Sentido do Santo Cálice da Última Ceia

Sentido do Santo Cálice da Última Ceia, que o Papa venerará em Valência
Segundo o professor Salvador Antuñano Alea

MADRI, sexta-feira, 7 de julho de 2006 (ZENIT.org).- O Santo Cálice da Última Ceia, que a Catedral da cidade espanhola de Valência custodia e que Bento XVI venerará no sábado, funda sua verossimilhança em indícios muito razoáveis -- arqueológicos, históricos e de tradição --, mas para os cristãos o mais importante é «sua condição de ícone sacro».

E o povo cristão o venera porque «o representa e o traslada ao momento sublime em que o Filho de Deus nos deixou seu Sangue como bebida antes de derramá-lo na Cruz»: este é o sentido do Cálice de Valência, explica Salvador Antuñano Alea à agência Zenit.

Doutor em Filosofia e professor universitário em Madri (na Universidade Francisco de Vitória), Antuñano se interessou pelo Santo Gral a partir das conjunturas, os supostos «poderes mágicos» que a lenda lhe atribui, e a confusão de fronteiras com história e realidade. Fruto de seu estudo foi o volume «O mistério do Santo Gral. Tradição e lenda do Santo Cálice» (EDICEP, http://www.edicep.com/, Valência 1999).

A voz firme da arqueologia

Desde o ponto de vista arqueológico, o conjunto do Santo Cálice «está formado por três partes -- descreve --: duas taças de pedra e uma montagem de ourivesaria». Esta «pode datar-se, de acordo com seu estilo artístico, entre o século XIII e o início do XIV», enquanto que «o vaso que serve de pé para o Cálice» «pode datar-se na Medina Azahara de Almanzor, do século X o, se procedesse de outra oficina, entre esse século e o XII».

«A Taça propriamente dita [o Cálice], contudo, é muito mais antigo», expõe o professor Antuñano, seguindo agora o catedrático de Arqueologia da Universidade de Zaragoza, Antonio Beltrán, que estudou o Cálice por encargo do Arcebispo Olaechea (emérito de Valência, falecido em 1972).

Sua precisão científica, a comparação que realizou com objetos similares e a análise crítica de documentos «apontam a uma oficina oriental -- Egito ou Palestina -- e aos últimos momentos da arte helenística (séculos II a.C. – I d.C.) -- comenta Antuñano. Corresponde ao tipo de taças usadas nas solenidades ou pertencentes a casas ricas».

Após seus estudos, o catedrático de Arqueologia concluiu que esta ciência confirma a verossimilhança histórica do Santo Cálice, assim como que «o pé é um copo egípcio ou califal do século X ou XI e foi acrescentado, com rica ourivesaria, à taça, por volta do século XIV, porque se acreditava firmemente, então, que era uma peça excepcional».

História e tradição

«O documento histórico escrito mais antigo que nos fala com toda clareza do Santo Cálice é a escritura de doação do Cálice, feita pelos monges de São João da Pena ao Rei de Aragão Don Martín I o Humano», datado «de 26 de setembro de 1399», continua explicando à agência Zenit o professor Antuñano.

O texto descreve «fielmente o cálice de pedra que se conserva hoje em Valência. A partir desse momento, sua trajetória está completamente documentada», ainda que «antes dessa data não conservemos nenhum documento que nos fale dele», constata.

Portanto, «à própria realidade material do Cálice» soma-se «uma antiga tradição apoiada por vestígios e indícios razoáveis», declara.

É assim que uma antiga tradição, que corrobora o fundamento arqueológico, aponta que o Cálice passou de Jerusalém a Roma com São Pedro, e com ele os primeiros Papas celebraram os mistérios. E chegaria por volta do ano 258 à Espanha, à zona de Huesca, enviado por São Lorenzo após o martírio do Papa Sisto e antes do seu próprio, com a intenção de preservá-lo assim da espoliação da perseguição contra a Igreja, decretada por Valeriano.

«Estaria lá até a invasão muçulmana, quando os fiéis o salvariam, ocultando-o em diversos pontos da montanha -- relata o professor Antuñano. À medida que a Reconquista avança, se consolida também uma discreta veneração em diversas igrejas», e «é muito possível que a meados do século XI estivesse em Jaca, conservado pelos bispos e que, ao instaurar-se o rito romano no Reino de Aragão -- ano 1071 -- passasse ao Mosteiro de São João da Pena», em cujo silêncio «se conservaria durante mais de três séculos».

«Indícios suficientemente verossímeis» se desprendem por sua parte do Novo Testamento: «é possível que Cristo tenha celebrado a Última Ceia na casa de São Marcos»; este era como um «secretário de São Paulo e de São Pedro, com quem parece que vai a Roma», pelo que «não seria estranho que o evangelista tivesse conservado o copo -- de sua vasilha -- no qual o Mestre consagrara a Eucaristia», nem será estranho «que o entregasse a Pedro e este a Lino», e de um a outro a Cleto, a Clemente, e assim sucessivamente.

Não se pode esquecer que «o cânon romano da missa se elabora sobre o rito usado pelos Papas dos primeiros séculos» (recém-citados), e «em uma de suas partes mais antigas, a fórmula da consagração, apresenta uma ligeira variante com outras liturgias», pois estabelece as palavras: «do mesmo modo, ao fim da ceia, tomou este cálice glorioso em suas santas e veneráveis mãos, dando graças o abençoou, e o deu a seus discípulos dizendo...», «de tal forma que parece insistir em um cálice particular e concreto: o mesmo que usara o Senhor em sua Ceia», aponta Salvador Antuñano.

O itinerário histórico, bem documentado a partir de 1399, nos leva à cidade de Valência, que está a ponto de ser visitada por Bento XVI, onde em 1915 o Cabido catedralesco decide transformar a antiga sala capitular da Catedral na Capela do Santo Cálice, onde este ficou instalado na Solenidade da Epifania de 1916.

Teve de ser tirado dali a toda pressa depois de vinte anos, no estouro da guerra civil, três horas antes que a Catedral ardesse. «Quando se extinguiu o fogo da guerra, se entregou solenemente o Cálice ao Cabido em 9 de abril de 1939, Quinta-feira Santa , e se instalou em sua capela reconstruída em 23 de maio de 1943», recorda o professor Antuñano.

A partir de então, intensifica-se o culto e a devoção ao Santo Cálice. E «o arcebispo atual, Dom Agustín García-Gasco, conseguiu difundir a veneração além dos limites da Comunidade Valenciana», reconhece.

A verdadeira mística do Santo Cálice da Ceia

Visto o fundo de arqueologia, história e tradição desta relíquia, se algo importa é seu valor como ícone sacro. E é que, «para o cristianismo, um ícone sagrado não é só uma imagem piedosa», nem sequer uma «representação de um motivo religioso»; é muito mais -- adverte o estudioso --: «é um meio para a contemplação espiritual, para a meditação e para a oração».

Longe de albergar «propriedade "mágica"» alguma, «o ícone é sagrado porque sua imagem evoca um mistério salvífico e, de uma forma espiritual mas real, tem como finalidade pôr a quem contempla em comunhão com esse mistério, fazê-lo partícipe dele», sublinha.

E como «os dados da tradição e da história nos apontam seriamente a possibilidade de que fosse o mesmo Cálice que o Senhor usou na noite em que ia ser entregue», os cristãos o veneram porque «translada ao momento sublime em que o Filho de Deus nos deixou seu Sangue como bebida antes de derramá-lo na Cruz» por nossa salvação, precisa.

«Por isso -- sintetiza -- o núcleo e fundamento da veneração do Santo Cálice está no Mistério Eucarístico.»

Para o professor Salvador Antuñano, um dos momentos mais importantes da história do Santo Cálice foi a visita do Santo Padre João Paulo II a Valência em 8 de novembro de 1982: «após venerar a Relíquia em sua Capela, o Papa celebrou a Missa com ela no passeio da Alameda».

«A história do Santo Cálice continuará, como continua a história da própria Igreja, mas o gesto de João Paulo II ao consagrar nele o Sangue do Senhor pode considerar-se como o rito que introduz a relíquia no terceiro milênio», conclui.

Fonte: ZENIT
Código: ZP06070701
Data de publicação: 2006-07-07

Papa celebra Eucaristia com o Santo Graal

Como João Paulo II em 1982

VALÊNCIA, domingo, 9 de julho de 2006 (ZENIT.org).- Com um gesto sumamente significativo, Bento XVI celebrou a missa conclusiva do Encontro Mundial das Famílias, com a participação de mais de um milhão de pessoas, com o Santo Cálice, considerado o cálice que Jesus utilizou na Última Ceia.

O também chamado «Santo Graal» havia sido transladado na madrugada à Cidade das Artes e das Ciências de Valência, onde o Papa presidiu a missa, pelo decano da Catedral de Valência, João Pérez Navarro.

A relíquia, uma das mais antigas da cristandade documentada desde os primeiros séculos pelos historiadores, foi transladada em um veículo da Polícia local, escoltado por unidades motorizadas, segundo informa AVAN, agência de informação da arquidiocese de Valência.

João Paulo II já empregou a relíquia para a consagração quando visitou Valência em 8 de novembro de 1982, na missa de ordenação sacerdotal de 141 jovens diáconos, que presidiu no Passeio da Alameda.

Segundo as investigações realizadas por diferentes historiadores, recolhidas por AVAN, foi o próprio São Pedro que levou de Jerusalém a Antioquia, e depois a Roma, o cálice utilizado por Jesus Cristo em sua última ceia antes de sua paixão e morte.

O Santo Graal foi utilizado desde então por 23 papas até a perseguição imperial contra os cristãos no ano 258, quando o papa Sisto II, antes de ser martirizado, ordenou enviar a relíquia a Huesca, custodiada pelo diácono Lorenzo.

Diversas paragens e igrejas de Aragão foram cenários da passagem do Santo Cálice, como a gruta de Yebra, São Pedro de Siresa, São Adrián de Sasabe, Santa Maria de Sasabe, São Pedro da Sede Real de Balio, a própria Catedral de Jaca, até chegar no ano 1071 ao mosteiro de Huesca de São João da Pena.

Em 1399, o rei Martín I levou a relíquia ao Palácio da Aljafería em Zaragoza, onde permaneceu 20 anos até que, depois de uma breve estadia em Barcelona, foi levada ao Palácio Real de Valência no ano 1424, por ordem de Alfonso o Magnânimo, que agradecia assim a Valência por sua ajuda nas lutas mediterrâneas.

Finalmente, em 1437, o Santo Cálice foi entregue como doação ao cabido da Catedral de Valência.

[Mais informação em Sentido do Santo Cálice da Última Ceia, que o Papa venerará em Valência]

ZP06070909

Catecismo ajuda famílias a descobrir beleza da fé

«Catecismo ajuda famílias a descobrir beleza da fé», explica cardeal Levada
O prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em Valência

VALÊNCIA, sexta-feira, 7 de julho de 2006 (ZENIT.org).- O Catecismo da Igreja Católica constitui uma ajuda única para que as famílias descubram a beleza da fé, constatou o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé nesta sexta-feira, em sua intervenção ante o Congresso Teológico-Pastoral sobre a Família que se encerrou em Valência.

Este volume e o recém-publicado «Compêndio», que o resume, disse o cardeal William J. Levada, «podem ajudar as famílias e a cada um de nós a descobrir a beleza da fé católica e vivê-la gozosamente, para transmiti-la às novas gerações, aos pais e mães de amanhã».

O substituto do cardeal Joseph Ratzinger dividiu sua intervenção em três partes. A primeira foi dedicada a apresentar o Catecismo; a segunda à família na tradição da Igreja; e a terceira à presença do Catecismo nas famílias.

Recordou que João Paulo II ressaltou a importância do novo Catecismo como «instrumento de renovação e unidade na Igreja».

«O Catecismo -- sublinhou o cardeal Levada -- ajuda a Igreja a assegurar a unidade de fé pela qual Jesus mesmo orou na Última Ceia. Esta unidade da Igreja está acompanhada pela consciência que os fiéis têm de estar em comunhão com os cristãos de todos os tempos, desde a época dos Apóstolos até os nossos dias.»

Na segunda parte, o cardeal assinalou que «a família é com razão chamada a célula fundamental da sociedade humana. De fato, estamos acostumados a pensar na família como o lugar onde vivemos e transmitimos nossa fé católica, sem dar muita atenção a como ela mesma responde a um desígnio de salvação em Cristo, que Deus nos revelou na Sagrada Escritura».

Denunciou que «um dos grandes desafios dos últimos tempos é a tentativa, em sociedades secularizadas, de mudar as leis que, durante séculos, inclusive milênios, reconheceram o plano de Deus para o matrimônio e a família como se apresenta na ordem da Criação, e que constitui um patrimônio comum para toda a humanidade governada pela lei natural».

Concluiu sublinhando a importância da presença do Catecismo no seio da família, indicando que «poderia ser uma ferramenta sumamente útil na realização de sua vocação e missão».

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