4 de dezembro de 2007

Quiseram ver o que vedes

O desejo ardente dos patriarcas pela presença corporal de Jesus Cristo constitui para mim assunto de frequentes meditações. Não consigo pensar nisso sem que lágrimas de vergonha me assomem aos olhos. Porque avalio então o tédio e a sonolência desta época miserável em que vivemos. Recebemos esta graça, o corpo de Cristo é-nos mostrado no altar, mas ninguém de entre nós experimenta tão intensa alegria como o desejo que a simples promessa da Encarnação inspirava aos nossos antepassados…

O Natal está próximo e muitas pessoas apressam-se a celebrá-lo: possam elas rejubilar verdadeiramente com a Natividade, e não com vaidades!

São Bernardo (1091-1153),
monge cisterciense e doutor da Igreja
Sermão 2 sobre o Cântico dos Cânticos

Os três adventos de Cristo

Há três adventos do Senhor, o primeiro é na carne, o segundo na alma, o terceiro, pelo juízo. O primeiro advento deu-se a meio da noite, como está dito nas palavras do evangelho: «A meio da noite ouviu-se um grito: eis o Esposo!» (Mt 25,6). E esse primeiro advento já passou, pois Cristo foi visto na terra e conversou com os homens (Br 3,38).

Estamos agora no tempo do segundo advento, contanto porém que sejamos dignos de Ele vir até nós, pois Ele disse que, se O amamos, virá até nós e em nós estabelecerá a sua morada (Jo 14,23). Este segundo advento de Cristo é portanto para nós uma coisa envolta em alguma incerteza, pois quem, a não ser o Espírito Santo, conhece os que são de Deus? (1 Co 2,11)? Aqueles a quem o desejo das coisas celestes transporta para lá de si mesmos sabem quando Ele virá: porém «não sabem de onde vem nem para onde vai» (Jo 3,8).

Quanto ao seu terceiro advento, é certo que há-de acontecer, mas é incerto quando, pois nada é mais certo do que a morte, e nada é mais incerto do que o dia da morte. «No momento em que falarmos de paz e de segurança, então surgirá a morte, repentina, como as dores do parto das mulheres, e ninguém escapará» (1 Ts 5,3). O primeiro advento foi portanto humilde e escondido, o segundo é misterioso e cheio de amor, o terceiro será magnífico e terrível. No primeiro advento, Cristo foi julgado pelos homens com injustiça; no segundo, fez-nos justiça pela graça, no último, tudo julgará com equidade – Cordeiro no primeiro advento, Leão no último, Amigo cheio de ternura no segundo.

Pedro de Blois (c. 1130-1211),
arcediago na Inglaterra
(in Ephata 1, pg. 10-11)

2 de dezembro de 2007

Vigiai e orai continuamente

Quem quer orar em paz não terá apenas em consideração o local, mas o tempo. O momento do repouso é o mais favorável e assim que o sono da noite estabelece um silêncio profundo, a oração faz-se mais livre e mais pura (Lam 2,19). Com que segurança a oração sobe na noite, quando só Deus é testemunha, com o anjo que a recebe para a ir apresentar ao altar celeste! Ela é agradável e luminosa, pintada de pudor. Ela é calma, tranquila, já que nenhum barulho, nenhum grito a vem interromper. Ela é pura e sincera, quando o pó das preocupações terrenas não a podem sujar. Não há espectador que possa expô-la à tentação pelos seus elogios ou adulação.

É por isso que o Esposo (do Cântico dos Cânticos) agiu com tanta prudência como pudor assim que ela escolheu a solidão noturna do seu quarto para rezar, quer dizer, para procurar o Verbo, porque tudo é um. Tu rezas mal se ao rezar procuras outra coisa que não o Verbo, a Palavra de Deus, ou e tu não pedes que o assunto da tua oração seja relativo ao Verbo. Porque tudo está nele: o remédio para as feridas, o socorro nas tuas necessidades, a melhoria dos teus defeitos, a fonte dos teus progressos, em resumo, tudo o que um homem pode e deve desejar. Não há nenhuma razão para pedir ao Verbo outra coisa que não seja ele próprio, pois que ele é todas as coisas. Se, como é necessário, nós pedimos certos bens concretos, e se, como devemos, nós os desejamos pelo Verbo, são menos essas coisas em si mesmas que nós pedimos, que aquele que é a causa da nossa súplica.

S. Bernardo (1091-1153),
monge de Cister e doutor da Igreja
Sermão 86 sobre o Cântico dos Cânticos

30 de novembro de 2007

Progresso

Se ao progresso técnico não corresponde um progresso na formação ética do homem, no crescimento do homem interior, então aquele não é um progresso, mas uma ameaça para o homem e para o mundo.

Papa Bento XVI

26 de novembro de 2007

Misericórdia perfeita

A misericórdia merece ser louvada não só pela abundância de dádivas, mas sobretudo quando procede de um pensamento bom e misericordioso. Há pessoas que muito dão e muito distribuem mas não são tidas por misericordiosas aos olhos de Deus, e há pessoas que nada têm, nada possuem, mas têm piedade por todos no seu coração. Estas são consideradas seres verdadeiramente misericordiosos aos olhos de Deus, e de facto são-no. Portanto não digas: «Nada tenho para dar aos pobres»; não te angusties pensando que por esse motivo não podes ser misericordioso. Se tens qualquer coisa, dá o que tens; se nada tens, dá, ainda que seja um pão seco apenas, fá-lo com intenção verdadeiramente misericordiosa, e tal será considerado por Deus como misericórdia perfeita.

Nosso Senhor não louvou os que muito punham na caixa das esmolas; Ele louvou a viúva por aí ter posto as duas moedas que pôde poupar na sua vida de indigência, oferecendo-as em gratuidade, com um pensamento bom, para o tesouro de Cristo. O homem que no seu coração tem piedade pelos semelhantes, esse sim, é misericordioso aos olhos de Deus; mais vale uma boa intenção sem efeitos visíveis do que a abundância de obras magníficas mas realizadas sem boa intenção.

Youssef Bousnaya
(c. 869-979), monge sírio

14 de novembro de 2007

Mensagem aos pais sobre a catequese

Dez coisas que eu gostaria de dizer aos pais que não ajudam em nada a catequese

Confesso: eu deveria ser mais tolerante com os pais das crianças e jovens da catequese. Mas não estou conseguindo. Em muitas ocasiões, me sinto desrespeitado e desvalorizado como catequista em função deste descaso dos pais com a catequese. Isso me deixa "P" da vida. Fico estressado, chateado, acabo desanimando, me dá vontade de jogar tudo para o alto, fico mais agressivo e acabo descontando em pessoas que não tem nada haver com isso. Minha vida pessoal acaba sendo afetada.

Parece incrível, mas esta inegável omissão dos pais em relação aos seus filhos me atinge diretamente. Fico pensando: como pode um trabalho que faço de forma gratuita, voluntariamente, afetar tanto meus sentimentos, humor e paciência? Não deveria ser ao contrário, ou seja, por ser com esta finalidade, que eu ficasse alegre, feliz, paciente, otimista e agradecido?

Tem sido assim. Eu mais me estresso do que me alegro. Mais me indigno que me regozijo. Encontro mais motivos para dizer "tchau, não volto mais" do que para dizer "nos encontraremos em breve".

Esta inércia dos pais me irrita. Esta desconfiança e desinteresse pelas coisas de Deus me transtornam. Eu não consigo disfarçar a minha dor em relação isso. Preciso desabafar. Tem algumas coisas que eu gostaria de dizer aos pais que inscrevem os filhos na catequese. Mas não tive coragem de dizer tudo, de uma só vez. Mas se um dia eu disser, será num tom forte, olhando nos olhos de cada um, e estaria pronto para as reações contrárias.

Eu lhes diria:

*1º *Vocês não são obrigados a inscrever seus filhos na catequese. Por isso, se nos procuraram de livre e espontânea vontade, aceitem nossas regras e não fiquem reclamando de tudo;

*2º *Os catequistas de vossos filhos são pessoas normais, que tem família, trabalho, atividades pessoais, faculdade, problemas, alegrias, frustrações, desânimo, ou seja, sentimentos comuns a qualquer pessoa. Por isso, trate-o com mais carinho e com mais respeito. Pelo menos, tentem saber qual é o nome dele. Isso já será de grande valia.

*3º *Quando organizamos palestras, encontros e reuniões, é porque queremos construir uma ponte de relacionamento com vocês. Se não querem participar, não participem. Mas se quiserem, venham com vontade e não fiquem bufando na nossa frente ou olhando o relógio para ver que hora o encontro termina;

*4º *A catequese não é depósito de crianças e jovens que não tem o que fazer. A catequese é um lugar de aprofundamento dos assuntos de Deus. Eles precisam aprofundar aquilo que já deveriam saber através dos ensinamentos de vocês, pais. Se vocês nunca falam de Deus com seus filhos, não coloquem nas costas dos catequistas esta obrigação;

*5º* Não reclamem do tempo de duração da catequese. Isso nos entristece. A catequese é um processo contínuo. Se for um, dois, três ou quatro anos, isso não importa. Mas se você acha que é demais, não inscreva o seu filho. Vocês são livre para isso.

*6º* Não ensinem vossos filhos a mentir. Estamos carecas de saber que muitos pais, burlam as regras definidas na catequese, não participam de eventos e atividades, pois optam pela chácara, o jogo de futebol, o passeio ou até mesmo a preguiça. Sejam verdadeiros, não mintam e não ajudem os seus filhos a inventarem desculpas para tentar enganar os catequistas.

*7º *Se vocês são espíritas, sejam bons espíritas, mas não queiram ser católicos também. Uma coisa é bem diferente da outra. Não têm como andar junto. Uma religião prega a ressurreição. A outra, prega o oposto, a reencarnação. Ou vocês são católicos ou são espíritas. As duas, não dá para ser.

*8º* Antes de culpar a Igreja disso ou daquilo, fiquem sabendo que Igreja são vocês também. Então, ao invés de ficarem apenas arranjando defeitos, porque vocês não exercitam mais o vosso catolicismo, participando de algum serviço ou pastoral e tentando observar com mais atenção o imenso esforço que muitos leigos fazem?

*9º *O dia da primeira comunhão ou crisma não é formatura. Se vocês estão preocupados com roupa, janta e como será a festa , então vossos propósitos são completamente diferentes dos nossos.

*10º* E último, tratem a catequese da mesma forma que vocês tratam a escola, curso de inglês, escolinha de futebol, informática e as festivas no clube que seus filhos tanto gostam. Não precisam abrir mão de tudo isso por causa da catequese. É só dar a mesma importância. Para nós catequistas, já será bem melhor e nos fará, mais felizes.

Juro para vocês, gostaria de dizer isso, de uma tacada só para muitos pais. Tenho dito, nos últimos anos, não diretamente, mas indiretamente e em doses homeopáticas.

Mas todo ano, volto a sentir as mesmas coisas. São sentimentos que me acompanham e que me perturbam, pois eu gosto demais da catequese.

Se nada disso me afetasse, por certo, alguma coisa estaria errada na minha relação com as coisas de Deus. Não há quem não reclame, parece unânime. Se catequese não anda melhor por causa do desinteresse dos pais, precisamos fazer alguma coisa urgentemente.

Quanto a mim, não dêem bola, meus amigos catequistas, eu sou assim mesmo. Estou apenas pensando em voz alta. E nada melhor do que desabafar com vocês através destes textos.

Alberto Meneguzzi

Medianeira da eternidade

Maria, e somente ela, é o limite entre a natureza criada e a incriada.

Todos os que conhecem Deus devem saber que a Virgem mãe serviu de abrigo Àquele que nada pode conter, e todos os que sabem louvar a Deus, a louvarão após Deus.

Ele é a causa de tudo o que a precedeu, ela preside a tudo o que vem depois dela, ela é a medianeira da eternidade.

São Gregório Palamas
Monge ortodoxo 1296-1359

Julgamento

Tema o julgamento de Deus, não o dos homens.

Padre Pio de Pietrelcina

13 de novembro de 2007

Paz profunda e cheia de amor

Existem muitos graus de humildade. Há quem seja obediente e se censure a si mesmo em todas as coisas; isso é humildade. Há também quem se arrependa dos seus pecados e se considere um miserável diante de Deus; e também isso é humildade. Outra, porém, é a humildade de quem conheceu o Senhor pelo Espírito Santo: o seu conhecimento e os seus gostos são diferentes.

Quando a alma compreende, no Espírito Santo, como o Senhor é manso e humilde, humilha-se a si mesma até ao fim. Esta humildade é bem peculiar, e impossível de descrever. Se os homens quisessem saber, por meio do Espírito Santo, que Senhor é o nosso, mudariam por completo: os ricos desprezariam as suas riquezas; os sábios, a sua ciência; os governantes, o poder e o prestígio de que dispõem. Todos viveriam numa paz profunda e cheia de amor e reinaria na terra uma grande alegria.

São Siluane (1866-1938),
monge ortodoxo

12 de novembro de 2007

Deus nos manifestou o Seu amor e a Sua verdade

“Todos os caminhos do Senhor são graça e verdade para os que guardam a sua aliança e os seus preceitos” (Sl 24, 10). O que este salmo diz acerca do amor e da verdade é da maior importância. […] Fala do amor, porque Deus não olha aos nossos méritos, mas à sua bondade, a fim de nos perdoar os nossos pecados e de nos prometer a vida eterna. E fala igualmente da verdade, porque Deus nunca falta às suas promessas. Reconheçamos este modelo divino e imitemos a Deus, que nos manifestou o Seu amor e a Sua verdade. […] Tal como Ele, realizemos neste mundo obras cheias de amor e de verdade. Sejamos bons para com os fracos, os pobres, e mesmo para com os nossos inimigos.

Vivamos na verdade evitando fazer o mal. Não multipliquemos os pecados, porque aquele que presume da bondade de Deus está a permitir que nele se introduza a vontade de tornar Deus injusto. Imagina esse que, mesmo que se obstine nos seus pecados e se recuse a arrepender-se deles, Deus lhe há-de conceder um lugar entre os seus fiéis servidores. Mas seria justo Deus colocar-te no mesmo lugar que aqueles que renunciaram aos seus pecados, quando tu perseveras nos teus? […] Por que pretendes, então, dobrá-lo à tua vontade? Sê tu a submeter-te à Sua.

A este propósito diz justamente o salmista: “Quem procurará a misericórdia e a verdade do Senhor junto Dele?” (Sl 60, 8). […] E por que dirá “junto Dele”? Porque são muitos os que procuram instruir-se acerca do amor do Senhor e da Sua verdade nos Livros sagrados. Porém, uma vez aí chegados, vivem para si próprios e não para Ele. Procuram os seus próprios interesses, e não os interesses de Jesus Cristo. Apregoam o amor e a verdade, mas não os praticam. Já aquele que ama a Deus e a Cristo, quando prega a verdade e o amor divinos, é para Deus que os procura, e não no seu próprio interesse. Não prega para daí retirar vantagens materiais, mas para o bem dos membros de Cristo, ou seja, dos seus fiéis. Distribui-lhes aquilo que aprendeu em espírito de verdade, de tal maneira que “os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Cor 5, 15). “Quem procurará a misericórdia e a verdade do Senhor?”

Santo Agostinho (354-430),
bispo de Hipona (norte de África) e doutor da Igreja
Discursos sobre os Salmos, Sl 60, 9

Os caminhos da vida

Encaminhavam-se três viajantes para um país longínquo, em busca de honras e fortunas. Por algum tempo andaram juntos, consultando o mesmo roteiro, comendo do mesmo pão e dormindo sob a mesma tenda.

Apesar de ser o rumo determinado com relativa facilidade pelas constelações, começaram eles a preocupar-se com os acidentes do terreno, e bem cedo suas opiniões se dividiram. Por esse tempo, atravessavam uma vasta zona deserta, e sentiram-se aflitos ao ver quase terminada a provisão de água. Temendo as torturas da sede, depois de acalorada discussão resolveram separar-se, tomando cada um os caminhos que lhes pareciam mais razoáveis.

O primeiro, desprezando o mapa que levavam, saiu sozinho pelo areal ardente, ansioso por achar uma fonte e depois o país remoto. Andou dias e dias, até se esgotarem todos os recursos para a longa viagem. Em meio de sua angústia, entreviu ao longe um córrego de águas cristalinas. Correu para ele, fazendo os derradeiros esforços para chegar à margem. Mas tombou moribundo e sem esperanças, quando verificou que a corrente era apenas uma enganadora miragem.

O segundo viajante também desprezou o roteiro e seguiu o rumo aconselhado por outros, antes da partida. Mas esses eram homens que jamais quiseram arriscar-se a empreender a perigosa jornada. Após alguns dias de inauditas canseiras, viu, à distância, o que lhe pareceu um lago. Estugou o passo até chegar à margem, e exultou de alegria ao ver que tinha água fresca à disposição. Mas em seguida sofreu decepção amarga, ao provar da água e verificar que era salgada. Tinha diante de si apenas um braço de mar, avançando por solitárias regiões. Ali mesmo expirou exânime o louco aventureiro.

Mas o terceiro caminhante agiu de outro modo. Assentado na areia, poupando as forças, examinou detidamente o roteiro e orientou-se pelas estrelas. Foi-lhe fácil, afinal, acertar com uma quase apagada vereda. Alcançou breve um delicioso oásis, onde descansou, comeu frutos e bebeu água fresca e límpida. Uma caravana que passava levou-o seguramente à terra desejada, e aí encontrou muito mais do que havia sonhado em honras e riqueza.

Um velho contou esta história a um grupo de jovens, que o escutava atentamente, e acrescentou: Meus filhos, o roteiro que nos ensina o caminho para o país longínquo é a Palavra de Deus Nosso Senhor.

O primeiro viajante é o homem que, desprezando os ensinamentos sagrados, deixando de olhar para o alto e preocupando-se apenas com os interesses mundanos, se dirige tão somente com a fraca luz de sua inteligência. No final da vida, verifica que perseguiu miragens enganadoras, e já não tem mais forças nem tempo para retroceder.

O segundo viajante é o que espera achar o rumo através da filosofia e da opinião dos homens. Segue conselhos, faz esforços bem intencionados, porém tudo em vão, porque seus conselheiros são homens que apenas dizem "fazei assim", mas eles mesmos nunca empreenderam a heróica jornada.

Mas o terceiro viajante é o que lê atentamente a Sagrada Escritura, medita nos seus profundos ensinamentos, olha para o alto e obedece com fidelidade aos divinos preceitos. A despeito de toda a aridez da vida, não tarda a encontrar-se no consolador oásis da fé, e são as virtudes evangélicas que o levam, pela graça divina, à presença de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Quereis um conselho? Não desprezeis filhos meus esse roteiro, enquanto fazeis vossa jornada pelo caminho da vida.

Athalicio Pitham,
"Lendas e Alegorias" - Edições Brasília, Porto Alegre, 1945

Fátima é escola de fé

Apraz-me pensar em Fátima como escola de fé com a Virgem Maria por Mestra; lá ergueu Ela a sua cátedra para ensinar aos pequenos Videntes e depois às multidões as verdades eternas e a arte de orar, crer e amar. Na atitude humilde de alunos que necessitam de aprender a lição, confiem-se diariamente, a Mestra tão insigne e Mãe do Cristo total, todos e cada um de vós e os sacerdotes vossos directos colaboradores na condução do rebanho, os consagrados e consagradas que antecipam o Céu na terra e os fiéis leigos que moldam a terra à imagem do Céu.

Bento XVI
aos bispos de Portugal

8 de novembro de 2007

Nada preferir a Cristo

Nosso Senhor Jesus Cristo disse a todos, por várias vezes e dando diversas provas: "Se alguém quiser vir após mim, que renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me" e também "Aquele de entre vós que não renunciar a tudo o que tem não pode ser meu discípulo". Parece, pois, exigir a renúncia mais completa... "Onde estiver o teu tesouro, diz noutra altura, aí estará o teu coração" (Mt 6,21). Portanto, se reservarmos para nós bens terrestres ou qualquer provisão fugaz, o nosso espírito permance ali atolado como que na lama. É então inevitável que a nossa alma fique incapaz de contemplar Deus e se torne insensível aos desejos dos esplendores do céu e dos bens que nos foram prometidos. Só poderemos obter esses bens se os pedirmos sem cessar, com um desejo ardente que, de resto, nos tornará leve o esforço para os atingir.

Renunciar a nós mesmos é, pois, soltar os laços que nos prendem a esta vida terrestre e passageira, libertar-nos das contingências humanas, a fim de sermos mais capaz de caminhar na via que conduz a Deus. É libertar-nos dos entraves a fim de possuir e usar bens que são "muito mais preciosos do que o ouro e a prata" (Sl 18,11). E, para dizer tudo, renunciar a nós mesmos é transportar o coração humano para a vida no céu, de tal forma que possamos dizer: "A nossa pátria está nos céus" (Fl 3,20). E, sobretudo, é começar a tornar-nos semelhantes a Cristo, que se fez pobre por nós, ele que era rico (2 Co 8,9). Devemos assemelhar-nos a ele se quisermos viver conforme o Evangelho.

S. Basílio (c. 330-379),
monge bispo de Cesareia na Capadócia, doutor da Igreja

Grandes Regras Monásticas; questão 8

Acabando com todas as divisões

Nossa fé em Cristo exige que nos comprometamos em uma união efetiva, sacramental, entre os membros da Igreja, acabando com todas as divisões.

Papa Bento XVI
Sobre a superação da divisão entre os cristãos do Oriente (em sua maioria ortodoxos), e do ocidente.

Para que quem está dividido possa unir-se

A Igreja não existe para que os que estiveram reunidos se dividam, mas para que quem está dividido possa unir-se.

São João Crisóstomo

5 de novembro de 2007

Imitar a generosidade de Deus

Não há nada em que o homem seja tão parecido com Deus como na capacidade de fazer o bem; e, mesmo tendo nós essa capacidade numa medida completamente diferente da de Deus, façamos pelo menos tudo o que podemos. Deus criou o homem e reergueu-o depois da queda. Não desprezes, pois, aquele que caiu na miséria. Comovido pelo enorme sofrimento do homem, deu-lhe a Lei e os profetas, depois de lhe ter dado a lei não escrita da natureza. Teve o cuidado de nos conduzir, de nos aconselhar, de nos corrigir. Finalmente, deu-Se a Si mesmo em resgate pela vida do mundo. […]

Quando navegas de vento em popa, estende a mão aos que naufragam. Quando tens saúde e vives na abundância, socorre os infelizes. Não esperes aprender à tua custa o mal que é o egoísmo e como é bom abrir o coração àqueles que têm necessidade. Presta atenção porque a mão de Deus corrige os presunçosos que se esquecem dos pobres. Aprende com os males dos outros e prodigaliza ao indigente o auxílio que estiver ao teu alcance, por pequeno que seja. Para ele, a quem tudo falta, será alguma coisa.

Como o será para Deus, se tiveres feito tudo o que podes. Que a tua disponibilidade para dar aumente a insignificância do dom. E, se nada tens, oferece-lhe as tuas lágrimas. A piedade que brota do coração é um grande reconforto para o infeliz, e a compaixão sincera adoça a amargura do sofrimento.

São Gregório de Nazianzo (330-390),
Bispo, doutor da Igreja

Sobre o amor aos pobres, 27-28

Cardeal convida a rezar o Terço

«Em qualquer momento disponível», assinala Dom Eusébio Scheid

RIO DE JANEIRO, segunda-feira, 5 de novembro de 2007 (ZENIT.org).- Ao convidar os fiéis católicos a rezarem o Terço diariamente, «em família, em pequenos círculos, durante seus trajetos, ou em qualquer momento disponível», o cardeal do Rio de Janeiro destaca: «felizes aqueles que rezam o Terço».

Em mensagem aos fiéis difundida pelo site de sua arquidiocese, Dom Eusébio Scheid explica que o Santo Rosário «nos permite percorrer os grandes momentos da obra salvífica de Cristo, acompanhados por nossa Mãe Maria, de quem tomamos o exemplo de “guardar todas estas coisas no coração”».

«Além de ter como centro os Mistérios de Cristo, em conexão com a Trindade Santa e a vida de Nossa Senhora, o Rosário torna presentes as circunstâncias de nossa existência: alegrias, esperanças, angústias, inspirações, bem como dores e decepções.»

Dom Eusébio recorda que o Rosário é composto de quatro blocos de Mistérios, conforme o acréscimo, feito pelo Papa João Paulo II, com a edição da Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae.

«Os Mistérios de Esperança, também chamados Mistérios Gozosos, abrem o Rosário com o anúncio da Encarnação de Jesus, profetizada durante milhares de anos, ao longo da Antiga Aliança: “Céus, gotejem lá de cima, e as nuvens chovam a justiça; que a terra se abra e produza a salvação, e junto com ela brote a justiça” (Is 45,8).

Segundo explica o arcebispo do Rio de Janeiro, «logo depois de Nossa Senhora ter concebido, por obra do Espírito Santo, a presença do Cristo Jesus suscita nela o impulso de visitar sua prima Isabel». Esta «saúda-a, com devotamento, como “Mãe do meu Senhor”».

Medita-se, em seguida, sobre «a grande alegria da noite de Natal, porque nasceu para nós um Salvador, como fora anunciado aos pastores. E essa alegria se transmite a todos os lares em que reine a paz.»

Já a respeito da apresentação de Jesus ao templo, Dom Eusébio afirma que «naquele oferecimento ao Pai, cumpriu-se a profecia do Salmo: “Eis que venho para fazer vossa vontade, meu Deus. É o que me agrada” (Sl 39[40],8-9)».

Ao destacar os Mistérios Dolorosos, Dom Eusébio explica que eles «meditam sobre a tristeza, a angústia, o sofrimento e a própria morte, realidades presentes na vida de cada ser humano. Sobre tudo isso o Rosário projeta a luz da Páscoa de Cristo».

Na agonia do Horto das Oliveiras, no caminho do Calvário e na Cruz «está o nosso Irmão e Salvador, Aquele que nos amou primeiro, quando éramos ainda pecadores, e que continua a amar-nos (cf. Rm 5,8)».

Os próximos Mistérios – prossegue o arcebispo do Rio de Janeiro – foram acrescentados por iniciativa do Papa João Paulo II - os Mistérios da Iluminação.

«Eles espargem a luz do Cristo sobre aquelas áreas de nossa vida que ainda se encontram em trevas.»

Contempla-se Jesus sendo batizado; em Caná da Galiléia «vamos encontrar Nossa Senhora, ajudando um neo-casal em dificuldades».

«Nos nossos dias, a família é um dos maiores problemas», afirma o arcebispo. «Mas Nossa Senhora está presente, atenta e cuidadosa, basta que a invoquemos».

Encontra-se ainda «o Cristo pregando o Evangelho, depois de quase 30 anos de silêncio, em Nazaré. Diante do Mistério da exaltação no Monte Tabor – o Cristo que se transfigura – aprendemos a descobrir o seu Rosto nos nossos irmãos e irmãs, tantas vezes sofredores, angustiados, desanimados, desfigurados».

Chega-se então à Última Ceia, na qual Jesus institui a Eucaristia. «Nesse Mistério devemos, sempre, deter-nos com especial atenção – destaca Dom Eusébio –, porque a Eucaristia é o Cristo presente, vivo e glorioso».

Fortalecidos pela Eucaristia, explica o cardeal Scheid, «podemos viver o presente com os olhos voltados para o nosso fim último, que contemplamos nos Mistérios Gloriosos». Estes apontam para nosso destino escatológico, que iremos enfrentar com a morte.

«Mas, como afirma São Paulo: “Nem a morte, nem a vida, nem qualquer outra criatura nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8,38-39).»

«No momento final, é que mais precisamos da força de Cristo. Ele foi aos céus para nos preparar um lugar, como Ele próprio afirmou. E para lá nos conduzirá, para que desfrutemos da contemplação da sua Face, na companhia de Maria, nossa Mãe, e da multidão dos santos e santas que nos antecederam e nos esperam», afirma o arcebispo.

4 de novembro de 2007

O Milagre da Virgem

É difícil perseverar na justiça, por causa da corrupção do mundo. O mundo está, atualmente, tão corrompido, que é quase necessário que os corações religiosos sejam manchados, se não pela lama, ao menos pela poeira dessa corrupção; de modo que se pode considerar um milagre o fato de uma pessoa manter-se firme no meio dessa torrente impetuosa sem que o turbilhão a arraste; no meio desse mar tempestuoso sem que o furor das ondas a submerja ou a pilhem os piratas e corsários; no meio desse ar empestado sem que os miasmas a contaminem. É a Virgem, a única fiel, na qual a serpente não teve parte jamais, que se faz este milagre em favor daqueles e daquelas que a servem da mais bela maneira.

São Luís Grignon de Montfort
Tratado da Verdadeira Devoção à Virgem Maria

Chamados a ser santos

Queridos irmãos e irmãs:

Nesta solenidade de Todos os Santos, nosso coração, ultrapassando os confins do tempo e do espaço, se amplia para as dimensões do Céu. No início do cristianismo, os membros da Igreja também eram chamados «os santos». Na Primeira Carta aos Coríntios, por exemplo, São Paulo escreve «aos santificados em Cristo Jesus, chamados a ser santos, com todos que em qualquer lugar invocam o nome de Jesus Cristo, Senhor nosso» (1 Coríntios 1,2). O cristão, de fato, já é santo, pois o Batismo lhe une a Jesus e a seu mistério pascal, mas ao mesmo tempo tem que chegar a ser santo, conformando-se com Ele cada vez mais intimamente.

Às vezes se pensa que a santidade é um privilégio reservado a alguns poucos eleitos. Na realidade, chegar a ser santo é a tarefa de cada cristão, mais ainda, poderíamos dizer, de cada homem!

Escreve o apóstolo que Deus nos abençoou desde sempre e nos elegeu em Cristo «para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença, no amor» (Efésios 1, 3-4). Todos os seres humanos são chamados à santidade que, em última instância, consiste em viver como filhos de Deus, nessa «semelhança» a Ele, segundo a qual, foram criados.

Todos os seres humanos são filhos de Deus, e todos têm que chegar a ser o que são, através do caminho exigente da liberdade. Deus convida a todos a tomarem parte de seu povo santo. O «Caminho» é Cristo, o Filho, o Santo de Deus: ninguém pode chegar ao Pai senão por Ele (Cf. João 14, 6).

Sabiamente a Igreja estabeleceu a imediata sucessão da festa de Todos os Santos com a da comemoração de todos os fiéis defuntos. A nossa oração de louvor a Deus e de veneração aos espíritos bem-aventurados, que nos apresenta hoje a liturgia como «uma multidão imensa, que ninguém poderia contar, de toda nação, raças, povos e línguas» (Apocalipse 7, 9), se une à oração de sufrágio por aqueles que nos precederam na passagem deste mundo à vida eterna. A eles dedicaremos de maneira especial amanhã nossa oração e por eles celebraremos o sacrifício eucarístico. Em verdade, cada dia, a Igreja nos convida a rezar por eles, oferecendo também os sofrimentos e os cansaços cotidianos para que, completamente purificados, possam gozar para sempre da luz e a paz do Senhor.

No centro da assembléia dos santos, resplandece a virgem Maria, «humilde e a mais alta criatura» (Dante, «Paraíso», XXXII, 2). Ao dar-lhe a mão, nos sentimos animados a caminhar com mais impulso pelo caminho da santidade. A ela dirigimos nosso compromisso cotidiano e lhe encomendamos hoje nossos queridos falecidos, com a íntima esperança de voltarmos a nos encontrar um dia, todos juntos, na comunhão gloriosa dos santos.

Bento XVI
Intervenção no Ângelus da solenidade de Todos os Santos
1 de novembro de 2007

O quanto valemos?

Nós valemos o preço da vida de um Deus!

31 de outubro de 2007

Ó Rosário bendito de Maria

Ó Rosário bendito de Maria,
doce cadeia que nos prende a Deus,
vínculo de amor que nos une aos Anjos,
torre de salvação contra os assaltos do inferno,
porto seguro no naufrágio universal,
não te deixaremos jamais.

Serás o nosso conforto na hora da agonia.
Seja para ti o último beijo da vida que se apaga,
e a última palavra dos nossos lábios
há de ser o teu nome suave,
ó Rainha do Rosário de Pompéia,
ó nossa Mãe querida,
ó Refúgio dos pecadores,
ó Soberana consoladora dos tristes.

Sê bendita em todo lugar,
hoje e sempre,
na terra e no céu.

João Paulo II
Carta Apostólica Rosarium Virginis Marie

30 de outubro de 2007

Feroz perseguição religiosa

No dia 28 de Outubro próximo, no Vaticano serão beatificados 498 mártires da feroz perseguição religiosa, que explodiu na Espanha depois de 1931 e especialmente entre 1934 e 1936. Uma cerimônia de massa de tais proporções não tem precedente. João Paulo II começara beatificando, em 1987, três freiras carmelitas que tinham sido cruelmente massacradas pelas ruas de Madri. Depois, Papa Wojtyla celebrou outras onze cerimônias de beatificação num total de 465 mártires espanhóis. Domingo próximo serão declarados beatos 2 Bispos, 24 Padres, 462 religiosos e religiosas, 2 diáconos, 1 seminarista e 7 leigos, todos vítimas daquela perseguição. Será a, ocasião de conhecer uma das mais sanguinárias tempestades anticristãs desencadeadas na Europa em nosso tempo, por obra dos revolucionários republicanos (uma mistura de comunismo, socialismo, anarquia e laicismo). “Jamais na história da Europa, e talvez na do mundo”, escreveu Hugh Thomas, “se havia visto um ódio tão encarniçado à religião e a seus homens”. Igrejas e conventos (com uma quantidade de obras de arte) foram queimados e destruídos. Em poucos meses, foram mortos 13 Bispos, 4.184 sacerdotes e seminaristas, 2.365 religiosos, 283 freiras, e um número incalculável de simples cristãos, cuja única culpa era ter um crucifixo no pescoço, ou ter um terço no bolso, ou por ter ido à Missa, ou por ter escondido um padre, ou por ser mãe de um sacerdote, como aconteceu com uma senhora, que, por isso, foi sufocada com um crucifixo enfiado na garganta.

Muitos Bispos ou sacerdotes teriam podido fugir, mas ficaram em seu posto, mesmo sabendo o que lhes esperava, para não abandonar seus fiéis. Não impressiona apenas a sanha com que se enfureceram sobre as vítimas inermes e inofensivas (por exemplo, houve quem foi amarrado a um cadáver e largado assim, ao sol, até sua decomposição, vivo, com o morto).

Mas impressiona ainda mais a vontade de obter das vítimas a renegação da fé, ou a profanação dos sacramentos, ou horríveis sacrilégios. Há nisso, algo sobre que não se refletiu suficientemente. Dou alguns exemplos. Os revolucionários decidiram que o pároco de Torrijos, que se chamava Liberio Gonzales Nonvela, dada a sua ardente fé devesse morrer como Jesus. Assim, ele foi desnudado e chicoteado de modo bestial. Depois, se começou a crucificação, a coroação de espinhos, fizeram-lhe beber vinagre, afinal, o mataram com um disparo, enquanto ele abençoava os seus carrascos. Mas é significativo que estes, precedentemente, lhe haviam dito: “Blasfema e te perdoaremos”. O sacerdote, esgotado pelas sevícias, respondeu que era ele que os perdoava e os bendizia. Mas deve ser sublinhada a vontade de arrancar dele uma traição da Fé. Também de outros sacerdotes pretendiam a profanação dos sacramentos. Ou de freiras que violentaram. Que sentido podia haver, do ponto de vista político, per exemplo, a exumação dos corpos de freiras em decomposição, expostas em praça pública para ridicularizá-las? Não há algo de simplesmente satânico nisso?

E o jovem Juan Duarte Martin, diácono de vinte e quatro anos, torturado com agulhas em todo os eu corpo, e, através deles, com terríveis descargas elétricas? Pretendiam fazê-lo blasfemar e gritar “Viva o comunismo!”, enquanto ele gritou até o fim “Viva Cristo Rei!”. O molharam com gasolina e lhe puseram fogo. Aqui não estamos apenas em presença de um louco objetivo político de fazer desaparecer a Igreja. Há algo mais. Definir a natureza e a verdadeira identidade deste horror foi tentado por Richard Wurmbrand, um romeno de origem hebraica que na juventude militou entre os comunistas, em 1935, ele se tornou cristão e pastor evangélico, depois sofreu 14 anos de perseguição, muitos dos quais no Gulag do regime comunista de Ceausescu.

Também ele notara – nos lager do Leste – esse obscuro objetivo na perseguição religiosa. Em um livro seu, escreveu: “Pode-se entender que os comunistas detivessem padres e pastores, porque os consideravam contra revolucionários. Mas por que os padres eram constrangidos pelos marxistas, na prisão romena de Piteshti, a dizer Missa sobre o esterco e a urina? Por que os cristãos eram torturados fazendo-os receber a Comunhão usando essas matérias come elementos?”. Não era somente “deboche obsceno”. Ao sacerdote Roman Braga “arrancaram-lhe os dentes, um a um, com uma verga de ferro”, para fazê-lo blasfemar. Seus torturadores diziam-lhe: “Se os matarmos, vocês cristãos irão ao paraíso. Mas nós não queremos que vocês recebam a coroa do martírio. Vocês devem antes blasfemar contra Deus, e depois irem para o inferno”. A um prisioneiro cristão do cárcere de Piteshti, conta Wurmbrand, os comunistas todo dia repetiam de modo blasfemo o rito do Batismo imergindo-lhe a cabeça no “vaso” onde todos deixavam seus excrementos e obrigavam naqueles minutos os outros prisioneiros cantarem o ritual batismal. Outros cristãos “eram golpeados até enlouquecerem para obrigá-los a se ajoelharem diante de uma imagem de blasfema de Cristo”.

Pergunta-se Wurmbrand, “que tem isso que ver com o socialismo e com o bem estar do proletariado? Não são estas coisas simples pretextos para organizar orgias e blasfêmias satânicas? Supõe-se que os marxistas sejam ateus que não crêem no Paraíso e no Inferno. Nessas extremas circunstâncias o marxismo se tirou a máscara atéia revelando o próprio verdadeiro rosto, que é satanismo”.

Com efeito, o livro de Wurmbrand se intitula “Was Karl Marx a satanist?” (Era Karl Marx um satanista?) e foi traduzido para o italiano pela “Editora Homens Novos” com o título “A Outra face de Karl Marx”. O autor se lança, indagando nos escritos juvenis de Marx e nas suas vicissitudes biográficas, até a considerar que ele tivesse trato com seitas satanistas. Por outro lado, no fervilhar de seitas e sociedades esotéricas de meados do século XIX, são tantas as personalidades que tiveram estranhas contatos. E sobre Marx também outros autores levantaram hipóteses do mesmo gênero. Wurmbrand sustenta sobretudo que a filantropia socialista não era a verdadeira inspiração de Marx, mas apenas o disfarce, o pretexto de sua verdadeira motivação que era a guerra contra Deus. Realizada depois em larga escala com a Revolução de Outubro e com o que se seguiu (nos regimes comunistas: fatos, correntes, episódios e personagens que vão naquela direção são claros).

Sobre o satanismo não me pronunciarei, mas os efeitos satânicos da experiência marxista (planetária) estão sob os olhos de todos mesmo que sejam removidos clamorosamente da reflexão pública: o mais colossal e feroz massacre de seres humanos que a história lembra, e a mais vasta guerra ao cristianismo destes dois mil anos. Como acontece ouvir, em ambientes católicos, julgamentos indulgentes sobre os “ideais dos comunistas”, que teriam sido traídos na pratica ou mal traduzidos, chegou a hora de definir, de uma vez por todas, a natureza satânica da ideologia em si, e de tudo aquilo que aconteceu. Visto que um grande filósofo como Augusto Del Noce, há anos, demonstrou quanto o ateísmo é fundamental no marxismo e de nenhum modo marginal ou facultativo. A tragédia espanhola, sobre a qual o povo cristão não sabe quase nada (e que foi perpetrada também por outras forças revolucionárias e laicas) deveria fazer refletir se não por outra razão, pelas proporções daquele martírio.

Antonio Socci. Da “Libero”, 21 de Outubro de 2007
http://www.antoniosocci.it/Socci/index.cfm


Traduzido pela Associação Montfort

Uma dura lição por nossas infidelidades

“Nos encontramos em uma situação de extrema gravidade como muito poucas em nossa história. Um governo eleito democraticamente há sete anos perdeu seu rumo democrático e apresenta lampejos de ditadura, onde todos os poderes estão praticamente nas mãos de uma só pessoa que os exerce arbitrária e despoticamente, não para procurar o bem maior da nação, mas para um torcido e anacrônico projeto político: o de implantar na Venezuela um regime desastroso como o que Fidel Castro, a custa de tantas vidas humanas e do progresso de sua nação, impôs a Cuba.”

“Nosso Senhor Jesus Cristo quis dar-nos uma dura lição por nossas infidelidades, por não termos sabido aproveitar os dons que nos deu de uma natureza tão fértil e rica, de um povo inteligente, trabalhador e generoso, e por não termos ajudado devidamente os mais necessitados e não termos vivido limpamente nossa fé cristã.”

“Ante a triste situação que vivemos e ante o perigo de que, se o povo venezuelano não tomar consciência de sua gravidade, e não se pronunciar categoricamente a favor da democracia e da liberdade, nos encontraremos submetidos a uma ditadura de tipo marxista, vamos pedir, todos unidos, à Divina Pastora: ‘Virgem Santíssima, que em nossa história manifestaste muitas vezes tua benevolência e carinho por este povo, te pedimos que não nos abandones neste momento! Apoia-nos, doce Divina Pastora, a aprender a lição e dá-nos a todos a clareza da mente para conhecer e evitar o perigo, e a força para superar democraticamente este momento difícil’.”

Cardeal Rosario Castillo Lara
Homilia em Barquisimeto
14 de janeiro de 2006
dia da Divina Pastora

26 de outubro de 2007

Ela é onipotente por graça

O Rosário é ao mesmo tempo meditação e súplica. A imploração insistente da Mãe de Deus apóia-se na confiança de que a sua materna intercessão tudo pode no coração do Filho.

Ela é “onipotente por graça”, como dizia o Beato Bartolo Longo, com expressão audaz, a ser bem entendida, na sua Súplica à Virgem. Uma certeza esta que, a partir do Evangelho, foi-se consolidando através da experiência do povo cristão.

O grande poeta Dante, na linha de S. Bernardo, interpreta-a de forma admirável, quando canta: “Donna, se' tanto grande e tanto vali, / che qual vuol grazia e a te não ricorre, / sua disianza vuol volar sanz'ali”. "Senhora, tu és tão magnífica e possuis um valor tão elevado, que, aquele que implora uma graça e não vem a ti, pretende voar, sem asas possuir."

No Rosário, Maria, Santuário do Espírito Santo (cf. Lc 1, 35), ao ser suplicada por nós, apresenta-se em nosso favor diante do Pai, que a cumulou de graça, e do Filho, nascido das suas entranhas, pedindo conosco e por nós.

Papa João Paulo II
Carta Apostólica Rosarium Virginis Marie

Nem tudo depende de nós

Santa Teresa do Menino Jesus chamava de ‘pequena via’ o caminho de aceitar com humildade que nem tudo depende de nós.

Fomos chamados a pôr nossas vidas nas mãos amorosas de Deus, com a confiança de que Ele nos levantará.

Bispo Anthony Fisher
coordenador da JMJ 2008

O testemunho dos mártires foi mais forte

Ao longo do século XX, a Espanha e a Europa se viram arrastadas por ideologias totalitárias que foram causa de terríveis violências e fizeram novamente da Igreja uma Igreja de mártires.

Mas o testemunho dos mártires foi mais forte que as insídias e violências dos perseguidores da religião.

Os mártires não estavam em guerra com ninguém e morreram dando testemunho de amor e de perdão àqueles que lhes tiravam a vida pelo simples fato de serem católicos.

Ao beatificar os mártires, a Igreja não pretende acusar ninguém – especifica –, mas apresentá-los aos crentes de hoje como modelos de fidelidade, e à sociedade espanhola atual como convite à reconciliação e à paz pelo amor e o perdão sem limites.

Dom Carlos López Hernández
bispo de Salamanca

25 de outubro de 2007

Cristo é tudo para nós

Cristo é tudo para nós! Se queres curar uma ferida, ele é o médico; se estás ardendo de febre, ele é a fonte; se estás oprimido pela iniqüidade, ele é a justiça; se tens necessidade de ajuda, ele é a força, se tens medo da morte, ele é a vida; se desejas o céu, ele é o caminho; se estás nas trevas, ele é a luz... Provai e vede que bom é o Senhor, bem-aventurado o homem que espera nele!

Santo Ambrósio,
bispo de Milão

Eu vim lançar fogo sobre a terra

«Vim trazer o fogo à terra, e como desejaria que já estivesse aceso». O Senhor quer-nos vigilantes, esperando a todo o momento a vinda do Salvador. […] Mas porque o ganho é magro e fraco o mérito quando é por temor do suplício que não nos deixamos cair na perdição, e porque o amor é o valor superior, o próprio Senhor inflama-nos no desejo de chegar a Deus, ao dizer-nos: «Vim trazer o fogo à terra». Certamente não é este o fogo que destrói, mas o fogo que produz a vontade boa, que torna mais valiosos os vasos de ouro da casa do Senhor ao queimar o feno e a palha (1 Co 3, 12ss), ao devorar as podres entranhas do mundo, amassadas pelo gosto do prazer terrestre, obras da carne que devem ser destruídas.

Era o fogo divino que queimava os ossos dos profetas, como declara Jeremias: «Tornou-se um fogo devorador, encerrado em meus ossos» (Jr 20,9). Porque há um fogo que vem do Senhor, sobre o qual se diz: «à frente d’Ele avançará o fogo» (Sl 96, 3). O próprio Senhor é um fogo, diz ele, «que arde sem se consumir» (Ex 3,2). O fogo do Senhor é a luz eterna; neste fogo acendem-se as lâmpadas dos crentes: «Tende os rins cingidos e as lâmpadas acesas» (Lc 12, 35). É porque os dias desta vida são noite ainda que são necessárias as lâmpadas. É este o fogo que, segundo o testemunho dos discípulos de Emaús, o próprio Senhor pusera neles: “Não sentíamos o coração a arder, durante o caminho, enquanto Ele nos explicava as Escrituras?» (Lc 24,32). Eles ensinam-nos pela evidência qual é acção deste fogo, que ilumina o fundo do coração do homem. É por isso que o Senhor virá no fogo (Is 66, 15), para consumir os vícios no momento da ressurreição, para com a sua presença realizar os desejos de cada um de nós, e projectar a sua luz sobre as glórias e os mistérios.


Santo Ambrósio (c.340-397),
bispo de Milão e doutor da Igreja
Tratado sobre S. Lucas 7, 131-132

24 de outubro de 2007

O orgulho

Todos os vícios se apegam ao mal, para que se realize; só o orgulho se apega ao bem, para extingui-lo.

Santo Agostinho

23 de outubro de 2007

Ofereçamos todos os dias fervorosas orações

Com esta solene celebração chega ao fim a missão que o Santo Padre me confiou de O representar aqui em Fátima por ocasião do 90º aniversário das aparições da Virgem Maria aos três Pastorinhos, na Cova da Iria. Ontem, como aliás aquele 13 de Outubro de 1917, era sábado. Hoje reunimo-nos de novo aqui nesta primorosa igreja que, há dois dias, tive a alegria de dedicar à Santíssima Trindade para celebrar a Eucaristia no Dia do Senhor, a páscoa da semana. Ouvimos há pouco estas palavras do apóstolo Paulo: "Lembra-te de Jesus Cristo, que ressuscitou dos mortos" (2 Tim 2, 8). Tal é o apelo que não cessa de nos fazer o domingo, cada domingo; e nós damos graças a Deus por nos ter dado a possibilidade de o escutar novamente hoje aqui, em Fátima, lugar escolhido por Nossa Senhora para oferecer, através dos três Pastorinhos, uma mensagem maternal à Igreja e ao mundo inteiro.

Desejo manifestar a minha gratidão ao Bispo de Leiria-Fátima e seus colaboradores pelo acolhimento que me reservaram como Legado Pontifício. Com alegria pude constatar, mais uma vez, a profunda veneração pelo Sucessor de Pedro que se respira em Portugal, e de modo particular nesta terra abençoada. Saúdo os Bispos, os sacerdotes, os religiosos e as religiosas, as autoridades e todos os peregrinos presentes. Saúdo os fiéis que, através das transmissões televisivas, estão unidos connosco em Portugal, na Itália e noutras partes do mundo. Uma saudação especial aos paroquianos de Fátima e das outras três paróquias confinantes com o Santuário. A todos e cada um transmito com alegria a saudação e a bênção de Sua Santidade o Papa Bento XVI, cuja voz nos vai chegar de Roma, ouvindo o Angelus mesmo no fim desta Santa Missa.

Amados irmãos e irmãs, procuremos agora compreender a Palavra de Deus, que acabou de ser proclamada. O Evangelho fala do encontro de dez leprosos com Jesus. Ficam curados por Ele, mas apenas um um samaritano volta atrás para Lhe agradecer; e é a este estrangeiro agradecido que Jesus diz: "Foi a tua fé que te salvou" (Lc 17, 19). Deste modo, os dez viram-se "curados" da sua doença, mas só um foi "salvo": aquele que, movido pela sua fé, deu glória a Deus e agradeceu a Jesus. São Lucas põe em relevo o facto de o leproso salvo ser um estrangeiro. Como estrangeiro era também Naamã, comandante do exército dos Arameus mas ferido de lepra, de que nos fala a primeira Leitura. Naamã ficou curado quando, obedecendo à palavra do profeta Eliseu, foi lavar-se nas águas do rio Jordão. A Palavra de Deus põe em evidência, como cantámos no refrão do Salmo Responsorial, que "a salvação do Senhor é para todos os povos". O destino universal da salvação e a fidelidade a Israel, que à primeira vista podem parecer em contradição, são na realidade dois aspectos inseparáveis e recíprocos do mesmo mistério salvífico: é precisamente a intensidade e a solidez do amor de Deus pelo povo por Ele escolhido que torna este amor uma "bênção" para todos os povos (cf. Gn 12, 3). A manifestação mais alta disto mesmo está na cruz de Cristo, o máximo sinal da sua dedicação às ovelhas perdidas da Casa de Israel e, simultaneamente, da redenção da humanidade inteira.

A Palavra de Deus, que hoje na liturgia ressoa em todo o mundo, adquire um significado muito particular para nós que a escutamos neste lugar abençoado, marcado há 90 anos pela especial presença de Maria. Tudo aqui continua a ser iluminado por esta presença espiritual, a qual nos oferece também uma perspectiva de leitura da mensagem das Escrituras, que podemos sintetizar assim: Maria foi preservada da lepra do pecado, viveu em perene acção de graças a Deus e tornou-se ícone da salvação; "cheia de graça", Ela é sinal da fidelidade de Deus às suas promessas, imagem e modelo da Igreja, novo Israel aberto a todos os povos; Maria participou plenamente no mistério pascal do Filho; morreu com Ele e vive com Ele, com Ele perseverou e com Ele reina para sempre (cf. 2 Tm 2, 11-12).

A bela Senhora apresenta-se aos Pastorinhos resplandecente de luz; mas nas suas palavras e também no seu rosto, velado às vezes pela tristeza, é constante a referência à realidade do pecado; mostra às crianças o seu Coração Imaculado coroado de espinhos, e explica que são necessários a sua oração e o seu sacrifício para reparar tantos males que ofendem Deus, para fazer cessar a guerra e obter ao mundo a paz. A linguagem de Maria é simples, adequada às crianças, sem ser suavizada ou fabulosa; aliás, em termos muito realistas ela os introduz no drama da vida; pede a sua colaboração e, encontrando Jacinta, Francisco e Lúcia cheios de generosa disponibilidade, revela: "Então, deveis sofrer muito, mas a graça de Deus será o vosso conforto" (Primeira aparição, 13 de Maio de 1917).

A Virgem escolhe crianças inocentes como seus colaboradores privilegiados para combater, com as armas da oração e da penitência, do sacrifício e do sofrimento, a terrível lepra do pecado que corrompe a humanidade. Por quê? Não é talvez porque isto corresponde ao método de Deus, "o que é fraco, segundo o mundo, é que Deus escolheu para confundir o que é forte... aquelas coisas que nada são, para destruir as que são" (1 Cor 1, 27.28)? Vem ao pensamento o exemplo de tantas crianças que enfrentaram, e continuam ainda hoje a enfrentar, o sofrimento e a doença com serenidade, dando conforto aos pais e aos parentes nos momentos de tão grande provação. Entre estas maravilhosas figuras de pequenos apóstolos de Cristo apraz-me recordar aquela extraordinário de Sílvio Dissegna, um menino piemontês, que morreu de cancro com 12 anos, cuja causa de beatificação já foi iniciada.

Completados noventa anos das aparições, Fátima continua a ser um farol de consoladora esperança, mas também um forte apelo à conversão. A luz que Maria fez resplandecer aos olhos dos Pastorinhos e se manifestou a tanta gente no milagre do sol em 13 de Outubro, indica que a graça de Deus é mais forte do que o pecado e a morte. Maria, porém, pede a todos conversão e penitência; quer corações simples que aceitem generosamente rezar e sofrer em reparação dos pecados, pela conversão dos pecadores e pela salvação das almas. Maria conta com a resposta de todos os seus filhos! Amados irmãos e irmãs, acolhamos o seu convite e permaneçamos fiéis à nossa vocação cristã. Ofereçamos todos os dias fervorosas orações especialmente o santo Terço e as nossas tribulações de cada dia, em reparação dos pecados e pela paz no mundo. Consideremo-nos a nós mesmos seus filhos pequenos e humildes, desejosos de viver para louvor e glória da Santíssima Trindade, a Quem em boa hora quiseram dedicar esta igreja. Amém!

Cardeal Tarcísio Bertone
Secretário de Estado vaticano
Na conclusão das cerimônias do 90º aniversário das aparições de Nossa Senhora de Fátima, no domingo, 14 de outubro de 2007

Vigilantes e atentos

Temos de estar vigilantes e atentos à obra da salvação que se realiza em nós, porque é com admirável subtileza e com a delicadeza de uma arte divina que o Espírito Santo realiza continuamente esta obra no mais íntimo do nosso ser. Que esta unção que tudo nos ensina não nos seja retirada sem que tenhamos consciência disso, e que a sua vinda não nos apanhe desprevenidos. Pelo contrário, convém-nos estar permanentemente atentos, com o coração totalmente aberto, para recebermos esta bênção generosa do Senhor. Em que disposições quer o Espírito encontrar-nos? “Sede como os servos que esperam o seu senhor, quando ele regressa das núpcias”. Ele nunca regressa de mãos vazias da mesa celeste, com todas as alegrias que esta prodigaliza.

Temos, pois, de velar, e de velar em todo o momento, porque nunca sabemos a que horas virá o Espírito, nem a que horas voltará a partir. O Espírito vai e vem (Jo 3, 8); se, graças à Sua presença, nos mantemos de pé, quando Ele Se retira caímos inevitavelmente, mas sem nos magoarmos, porque o Senhor nos sustenta com a Sua mão. E o Espírito não cessa de comunicar esta alternância de presença e ausência aos que são espirituais, ou antes, àqueles que tem a intenção de tornar espirituais. É por isso que os visita de madrugada, pondo-os em seguida subitamente à prova.

São Bernardo (1091-1153),
monge cisterciense e doutor da Igreja
Sermão sobre o Cântico dos Cânticos, nº 17, 2

Optar entre a vida e a fidelidade a Deus

O que mais chama a atenção na biografia dos mártires é essa mistura de fortaleza, e ao mesmo tempo de humildade, com a qual os mártires assumiram esta situação trágica de ter de optar entre sua vida ou sua fidelidade a Deus e à Igreja, sem voltar atrás.

A fortaleza é a primeira coisa que chama a atenção, mas também a humildade, a alegria e a simplicidade com que enfrentaram esta situação, que era dramática, mas que eles viveram com a alegria da fé, cantando nos caminhões que os levavam ao fuzilamento, apoiando-se com a oração e com as palavras na prisão, escrevendo desde lá a seus familiares horas antes de ser assassinados, deixando sobretudo seu testemunho de perdão e de serenidade a seus familiares, em alguns casos à namorada.

Isso chama a atenção deles, a fortaleza de sua fé, a alegria de sua esperança e o calor da caridade vivida naqueles momentos, ou seja, a vida cristã vivida em maneira plena.

Pe. Martinez Camino
Sobre 498 mártires do século XX na Espanha

22 de outubro de 2007

Presságio de fatos graves

Jesus prometeu que, em sua Igreja, aconteceriam milagres maiores dos que Ele mesmo realizou e Ele não colocou limites nem no número nem no tempo em que estes milagres aconteceriam, de forma que, enquanto a Igreja existisse, nós sempre veríamos a mão do Senhor a manifestar o seu poder por meio de fatos prodigiosos (...)

Porém, estes sinais sensíveis vindos de todo o poder divino, representam o presságio de fatos graves que manifestam a misericórdia e a bondade de Deus, ou a sua justiça e indignação; e sempre, para a sua grande glória e para o bem das almas. Façamos com que estes sejam, para nós, uma fonte de graças e bênçãos, contribuindo a estimular uma fé viva, bastante ativa, uma fé que nos leva a fazer o bem e a evitar o mal, para que nos tornemos dignos da infinita misericórdia nesses nossos tempos e para toda a eternidade.

São João Bosco (1815-1888)
Aparição da Bem-aventurada Virgem, no alto da montanha de La Salette, Turim, 1875.

Quem te criou quer-te todo para Si

Irmãos, examinai pois com atenção a vossa morada interior, abri os olhos e apreciai o vosso capital de amor, e depois aumentai a soma que tiverdes descoberto em vós. E guardai esse tesouro, a fim de serdes ricos interiormente. Chamam-se caros os bens que têm um preço elevado, e com razão. […] Mas que coisa há mais cara do que o amor, meus irmãos? Em vossa opinião, que preço tem ele? E como pagá-lo? O preço de uma terra, o preço do trigo, é a prata; o preço de uma pérola é o ouro; mas o preço do amor és tu mesmo. Se queres comprar um campo, uma jóia, um animal, procuras em teu redor os fundos necessários para isso. Mas, se desejas possuir o amor, procura apenas em ti mesmo, pois é a ti mesmo que tens de encontrar.

Que receias ao dar-te? Receias perder-te? Pelo contrário, é recusando-te a dar-te que te perdes. O próprio Amor exprime-se pela boca da Sabedoria e apazigua com uma palavra a desordem que em ti lançava a expressão: “Dá-te a ti mesmo!” Se alguém quisesse vender-te um terreno, dir-te-ia: “Dá-me prata”; ou, se quisesse vender-te outra coisa qualquer: “Dá-me dinheiro”. Pois escuta o que diz o Amor, pela boca da Sabedoria: “Meu filho, dá-me o teu coração” (Prov 23, 26). O teu coração sofria quando estava em ti; eras presa de futilidades, ou mesmo de más paixões. Afasta-te delas! Para onde hás-de levá-lo? A quem o hás-de oferecer? “Meu filho, dá-me o teu coração”, diz a Sabedoria. Se ele for Meu, já não te perderás. […]

“Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento” (Mt 22, 37). […] Quem te criou quer-te todo para Si.

Santo Agostinho (354-430),
bispo de Hipona (norte de África) e doutor da Igreja
Sermão 32: sobre o Salmo 149

19 de outubro de 2007

Senhora da Conceição Aparecida

A história da pequenina imagem da Virgem Aparecida nos remete ao começo do plano divino de salvar o povo de Israel. Moisés foi resgatado das águas para que pudesse livrar seu povo da escravidão do Egito. E, com fortaleza de Deus, o conduziu por 40 anos no deserto, tornando-o uma raça forte como nenhuma outra, para que reafirmasse perpetuamente o santo nome de Javé.

Nos anos setecentos, pobres pescadores labutavam na pesca premidos pela obrigação de levar peixes para o Conde de Assumar que passava por aquelas paragens, por onde serpenteava o Rio Paraíba. Lançando as redes viram, retirada do fundo das águas, uma imagem enegrecida e partida. De novo arremessada a rede, trouxe ela a cabeça da imagem e, a seguir, a riqueza da pesca.

Levada a uma ermida, aquela imagem da Virgem concebida sem pecado começa a ser venerada pelo povo humilde e a abençoá-lo, mostrando-lhe o caminho da salvação e da vida.

A cada dia que se passava, graça sobre graça era derramada por intercessão da Senhora Aparecida. Por ela era mostrado o caminho da conversão. A ela se elevava a o clamor nas aflições.

Daquela capela primitiva, onde o povo se recolhia para a reza do terço, até hoje, no santuário-basílica, a gente sente, com alegria, na voz de todos os romeiros o murmúrio da oração de São Bernardo: "Lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria que jamais se ouvir dizer fosse por Vós abandonado quem recorreu à vossa proteção. Eu, animado com tal confiança, me prostro a vossos pés. Não desprezeis minha súplica, nem me abandoneis, o Virgem gloriosa e bendita, ó Mãe do Verbo Divino, mas atendei-me benignamente."

Da colina de Aparecida jorra a misericórdia de Deus sobre o povo.

A devoção à Maria é uma dádiva de Deus para todos nós. Ainda colônia de Portugal, foi o Brasil consagrado à Imaculada Conceição. Apesar de todas as dificuldades da evangelização pela extensão do território, pelos problemas de comunicação e diversidade dos costumes, a nação brasileira sempre manteve firme no coração o amor à nossa Mãe do Céu. Por onde andamos, sentimos sua presença misericordiosa e os cantos a seu louvor a ecoar nas grotas, nas planícies e nos montes.

Ela é a glória de nosso povo, a sua alegria e seu refúgio, pois vence o dragão da maldade, como Judite que libertou a sua cidade do poder de Holofernes.

Por isso a Igreja canta o próprio refrão do amor divino à Maria, revelado no Livro dos Cânticos: "Quem é esta que avança como a aurora, formosa como a lua, fulgurante como o sol, terrível como um exército em linha de batalha" (Cf. Cant.6,9)

A pequena imagem da Mãe Aparecida, na sua cor, a cor de barro e da terra, faz-nos lembrar a sua formosura e beleza, cantada no mesmo Livro sagrado: "Sou morena, mas formosa...".

A beleza de Maria está na sua fé, na sua fidelidade perfeita e abertura do coração à voz de Deus. Não titubeou em momento algum de sua vida, nem mesmo nas agruras da cruz que foi imposta a seu Filho diante de seu olhar e de seu coração. Permaneceu de pé, Ela que se fez a serva do Senhor, para que nela se cumprisse a vontade divina.

Eis porque todas as gentes a proclamam bem-aventurada. Nela fez grandes coisas Aquele que é poderoso, que cumula de bens os famintos e cujo nome é santo.

Ao celebrarmos a festa de nossa Rainha e Mãe, a padroeira de nossa Pátria, renovemos nossa fé e esperança naquele que, vindo a nós por Maria, derrama sua bênção sobre nós e sobre todo o seu povo. Unamo-nos aos milhares de vozes e entoemos o cântico de ação de graças que de seus lábios brotou quando, saudada como bendita entre todas as mulheres porque trazia em seu seio o Libertador e Redentor, "A minha alma engrandece o Senhor e meu espírito exulta no Senhor."

Dom Eurico
Arquidiocese de Juiz de Fora - MG

13 de outubro de 2007

Reconciliar-se com a chusma terrorista

Que espécie de bispos são que, para reconciliar-se com a chusma terrorista que atacou a sociedade argentina, não vacilam em somar-se aos ataques contra os que a defenderam?

[...]

Creio que chegou o momento de definir de que lado estão, tirando definitivamente a máscara: se do lado dos que impulsionaram a agressão marxista e atacaram sistematicamente a Santa Igreja Católica Apostólica Romana ou do lado dos que jamais nos afastamos dela.

Emilio Guillermo Nani
notalatina

3 de outubro de 2007

Dignidade humana

O respeito da dignidade humana é a base ética mais profunda na busca da paz e na construção de relações internacionais que correspondam às verdadeiras necessidades e esperanças de todos os povos da terra.

Arcebispo Dominique Mamberti,
secretário vaticano para as relações com os Estados

21 de setembro de 2007

Levantou-se e seguiu-O

«Levantou-se e seguiu-O.» A concisão da frase põe claramente em evidência a prontidão de Mateus a responder à chamada. Para ele isso significava tudo abandonar, sobretudo o que lhe garantia uma fonte segura de recursos, que era no entanto desonrosa e muitas vezes injusta. Mateus compreendeu pela evidência que a intimidade com Jesus o impedia de seguir uma atividade desaprovada por Deus. Facilmente se tira daqui uma lição para o presente: também hoje é inadmissível o apego a coisas incompatíveis com a caminhada de seguir a Jesus, como é o caso das riquezas desonestas.

Certa vez, Ele disse sem rodeios: «Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que possuis, dá-o aos pobres e terás um tesouro nos céus. Depois vem e segue-Me» (Mt,19,21). Foi o que fez Mateus: «Levantou-se e seguiu-O». Neste «levantou-se» conseguimos ler um nítido repúdio pela situação de pecado e simultaneamente a adesão consciente a uma nova existência, reta, na comunhão com Jesus.

Papa Bento XVI
Audiência geral de 30/08/06

12 de setembro de 2007

Humildade: felizes os pobres

Como quase todos os homens são naturalmente conduzidos ao orgulho, o Senhor começa as Bem-aventuranças por afastar o mal original da auto-suficiência, aconselhando-nos a imitar o verdadeiro Pobre voluntário que é verdadeiramente feliz – de maneira a parecermo-nos com Ele por via de uma pobreza voluntária, segundo as nossas capacidades, para participarmos na Sua bem-aventurança, na Sua felicidade. “Tende entre vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus: Ele, que era de condição divina, não reivindicou o direito de ser equiparado a Deus. Mas despojou-Se a Si mesmo, tomando a condição de servo” (Fil 2, 5-7).

Haverá coisa mais miserável para Deus do que tomar a condição de servo? Haverá coisa mais ínfima para o Rei do universo do que partilhar a nossa natureza humana? O Rei dos reis e Senhor dos senhores, o Juiz do universo, paga impostos a César (1 Tim 6, 17; Heb 12, 23; Mc 12, 17). O Senhor da criação abraça este mundo, vem por uma gruta por não ter lugar na estalagem, refugia-se num estábulo, na companhia de animais irracionais. Aquele que é puro e imaculado toma sobre Si as manchas da natureza humana e, depois de ter partilhado toda a nossa miséria, vai a ponto de fazer a experiência da morte. Considera a desmesura da Sua pobreza voluntária! A Vida toma o gosto da morte, o Juiz é levado a tribunal, o Senhor da vida de todos submete-Se a um magistrado, o Rei das potências celestes não se subtrai às mãos dos carrascos. É por estes exemplos, diz o apóstolo Paulo, que podemos medir a Sua humildade (Fil 2, 5-7).

São Gregório de Nissa (c. 335-395), monge e bispo
Homilias sobre as Bem-aventuranças, 1

11 de setembro de 2007

A CNBB é contra o aborto

A CNBB é contra o aborto. De acordo com uma liderança pró-aborto, as pastorais da CNBB não praticam militância contra o aborto.

A CNBB é contra o aborto. Em São Paulo, a CNBB e a organização feminista pró-aborto chamada “Católicas pelo Direito de Decidir” ocupam o mesmo edifício, cujos proprietários são religiosos católicos da ordem carmelita.

A CNBB é contra o aborto. No último dia 7 a CNBB, por meio da pastoral do migrante, foi parceira de movimento pró-aborto durante o “Grito dos Excluídos”.

Wagner Moura

2 de setembro de 2007

Teria eu o direito de ter vergonha da minha fé católica?

“Teria eu o direito de ter vergonha ou de pedir desculpas pela minha fé católica? Será que um país como o nosso, tão bonito, com gente tão alegre, será que eu não tenho o direito de ter orgulho de ter a minha fé católica?”

Carlos Alberto Direito
Ministro do Supremo Tribunal Federal

1 de setembro de 2007

Devolvamos ao Senhor

"Que tens tu que não tenhas recebido?", diz-nos S. Paulo (1 Co, 4,7). Não sejamos, pois, avaros dos nossos bens como se eles nos pertencessem... Confiaram-nos a sua responsabilidade; temos o uso de uma riqueza comum, não a posse eterna de um bem que nos seja próprio. Se reconheceres que esse bem só é teu cá em baixo por um tempo limitado, poderás adquirir no céu uma possessão que não terá fim. Lembra-te daqueles servos que, no Evangelho, tinham recebido talentos do seu patrão e do que o patrão, ao regressar, entregou a cada um deles; compreenderás então que depositar o seu dinheiro no banco do Senhor para o fazer dar frutos é muito mais proveitoso do que conservá-lo com uma fidelidade estéril sem que renda nada para o credor e com grande prejuizo para o servo inútil, cujo castigo será tanto mais pesado...

Apresentemos, pois, ao Senhor os bens que dEle recebemos. Com efeito, não possuimos nada que não seja um dom do Senhor e só existimos porque Ele o quer. Que poderíamos considerar como nosso, se nada nos pertence, devido a uma dívida enorme e privilegiada? Porque Deus criou-nos, mas também nos resgatou. Rendamos-Lhe graças por isso: resgatados por grande preço, o preço do sangue do Senhor, nós não somos coisas sem valor... Devolvamos ao Senhor o que Ele nos deu. Devolvamos Àquele que recebe na pessoa de cada pobre. Devolvamos com alegria, para receber dEle com júbilo, tal como nos prometeu.

S. Paulino de Nola (355-431), bispo
Carta 34, 2-4

30 de agosto de 2007

Não sejas mais justo do que o justo

Se quiseres avançar corretamente, com discrição e dando frutos no caminho da verdadeira religião, deves ser austero e rígido contigo mesmo, mas parecer sempre alegre e aberto para com os outros, esforçando-te no teu coração por caminhar nos cumes da retidão, sabendo inclinar-te com bondade para com os mais fracos. Numa palavra, perante o juízo da tua consciência, deves moderar os rigores da justiça, de tal forma que não sejas duro para com os pecadores, mas acessível ao perdão e indulgente...

Considera o teu pecado como perigoso e mortal; o dos outros, considera-o como fragilidade da condição humana. A falta que, em ti, consideras digna de severa correção, pensa que, nos outros, não merece mais do que uma pequena admoestação. Não sejas mais justo do que o justo: receia cometer o pecado, mas não hesites em perdoar ao pecador. A verdadeira justiça não é a que precipita as almas dos irmãos no laço do desespero… É muito perigoso o fogo que, ao queimar o mato, ameaça abrasar a própria casa com o ardor das suas chamas. Não, aquele que se compraz a escalpelizar os defeitos dos outros não evitará o pecado porque, ainda que seja movido pelo zelo da justiça, tarde ou cedo acabará por o denegrir.

Evidentemente, se a nossa vida não nos parecesse tão brilhante, a dos outros não nos pareceria tão feia. E se, como se deveria, fôssemos para nós mesmos juízes severos, as faltas dos outros não encontrariam em nós censores tão rigorosos.

S. Pedro Damião (1007-1072), eremita, depois bispo, doutor da Igreja
Opúsculo 51

29 de agosto de 2007

A santidade é a verdadeira beleza

A maior beleza que posso encontrar em uma pessoa é a santidade. [...]

A plena realização do homem consiste na santidade, em uma vida vivida no encontro com Deus, que deste modo se torna luminosa também para os demais, também para o mundo. [...]

O homem ficou degradado pelo pecado. Procuremos voltar à grandeza originária: somente se Deus está presente, o homem alcança sua verdadeira grandeza. O homem, portanto, reconhece dentro de si o reflexo da luz divina: purificando seu coração, volta a ser, como era no início, uma imagem límpida de Deus, Beleza exemplar. [...]

O homem tem, portanto, como fim, a contemplação de Deus. Só nela poderá encontrar sua plenitude. Para antecipar, em certo sentido, este objetivo já nesta vida, tem de avançar incessantemente para uma vida espiritual, uma vida de diálogo com Deus.

Papa Bento XVI

Para chegar a esta conclusão, o Papa meditou no elogio do homem escrito por São Gregório:

«O céu não foi feito à imagem de Deus, nem a lua, nem o sol, nem a beleza das estrelas, nem nada do que aparece na criação. Só tu [alma humana], foste feita à imagem da natureza que supera toda inteligência, semelhante à beleza incorruptível, impressão da verdadeira divindade, espaço de vida bem-aventurada, imagem da verdadeira luz. Se com um estilo de vida diligente e atento lavas as fealdades que foram depositadas em teu coração, resplandecerá em ti a beleza divina... Contemplando-te a ti mesmo, verás em ti o desejo de teu coração e serás feliz.»

Almas recurvadas

Desgraçadamente, o homem distanciou-se livre e conscientemente das coisas do céu, preferindo-lhes os bens da terra. Antepondo seus próprios interesses aos de Deus, e recurvando-se sobre si mesma, sua alma transformou-se de “anima recta” em “anima curva”.

É verdade que mesmo neste estado a alma retém sua semelhança com Deus, graças à sua grandeza; mas desassemelha-se de Deus em consequência daquela “curvatura”. Pela mesma razão ela se desassemelha de si mesma. Pois uma vez perdida a semelhança com o modelo original, a imagem deixa, pelo mesmo fato, de assemelhar-se a si mesma. Todavia, a alma conserva a consciência de sua grandeza: sabe-se ao menos parcialmente semelhante a Deus, e, por conseguinte à sua própria natureza, pois sua capacidade para o divino permanece. Ao mesmo tempo, porém, ela se dá conta de haver sido infiel à sua própria natureza. Este estado anormal dá origem a um penoso sentimento de desequilíbrio interior em que a alma, com saber-se de certo modo semelhante a si, sente-se, contudo, dessemelhante de si mesma.

São Bernardo de Claraval

Fonte: Blog Fidei Depositum

Uma luz diferente

Aconselhado pelas minhas leituras a debruçar-me sobre mim mesmo, entrei no fundo do meu coração, conduzido por ti. Pude fazê-lo porque te fizeste o meu suporte. Entrei em mim e vi, não sei com que olhos, mais alta do que o meu pensamento, uma luz imutável. Não era a luz habitual que os olhos do corpo apreendem, nem sequer uma luz do mesmo tipo mas mais poderosa, mais brilhante, que enchesse tudo com a sua imensidade. Não, não era isso, mas uma luz diferente, muito diferente de tudo isso.

Também não estava acima do meu pensamento como o azeite que fica por cima da água, nem como o céu que se estende por cima da terra. Estava acima porque foi ela que me criou, e eu por baixo porque sou a sua obra. Para a conhecer, é preciso conhecer a verdade; e aquele que a conhece, conhece a eternidade; é a caridade que a conhece. Ó eterna verdade, verdadeira caridade, querida eternidade! Tu és o meu Deus e eu suspiro por ti dia e noite.

Quando comecei a conhecer-te, elevaste-me para ti para me mostrares que eu tinha ainda muitas coisas a compreender e como era ainda incapaz de o fazer. Fizeste-me ver a fraqueza do meu olhar, lançando sobre mim o teu esplendor, e eu estremeci de amor e de espanto. Descobri que estava longe de ti, na região da dissemelhança, e a tua voz vinha a mim como que das alturas : "Eu sou o pão dos grandes; cresce e comer-me-ás. E não serás tu que me transformarás em ti, como acontece com o alimento do teu corpo ; mas tu é que serás transformado em mim".

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África) e doutor da Igreja
Confissões, VII, 10

20 de agosto de 2007

A Igreja não pode jamais ser apolítica

[...] Similarmente, quando querem protestar contra a ocupação comunista dos púlpitos, dizem que a Igreja deveria ficar fora da política, em vez de exigir, como deveriam, que ela cumpra a missão política que lhe cabe, que sempre lhe coube e que ao longo dos séculos ela sempre cumpriu, que é a de educar e mobilizar os fiéis para a defesa permanente e incondicional dos princípios e valores que justificam a sua própria existência como instituição, princípios e valores esses que são o que há de mais oposto e hostil a toda mentalidade revolucionária, seja ela socialista, nazista, fascista, anarquista, o diabo. Como depositária da mais imutável e supra-histórica das mensagens, a Igreja não pode jamais ser apolítica, no mínimo porque foi ela mesma que, inspirada nessa mensagem, criou as bases de todas as noções essenciais da política no Ocidente, a começar pelas de liberdade civil e direitos humanos. Principalmente não poderia sê-lo numa época em que a tendência dominante se inspira na ambição revolucionária de historicizar o Evangelho, trazendo o Juízo Final para dentro do acontecer temporal e usurpando para um partido político o papel de juiz da humanidade, que incumbe exclusivamente a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Olavo de Carvalho
http://www.olavodecarvalho.org/semana/070820dc.html

8 de agosto de 2007

A riqueza pode comprometer a salvação

A riqueza não só não assegura a salvação como, inclusive, pode comprometê-la seriamente. A riqueza não deve ser considerada um bem absoluto. É sábio não se apegar aos bens deste mundo, porque tudo passa e tudo pode acabar bruscamente.

Os fiéis são convidados a saberem administrar os bens evitando todo tipo de cobiça, para, assim, poderem compartilhá-los com seus irmãos, especialmente os mais necessitados. O verdadeiro tesouro deve ser buscado onde Cristo está.

Papa Bento XVI

6 de agosto de 2007

Por todos

É um elemento básico da mensagem bíblica que o Senhor morreu por todos. [...] O desejo abrangente de Deus de salvar as pessoas não envolve a salvação propriamente dita de todas as pessoas. Ele nos concede o poder de recusar. Deus nos ama; nós precisamos apenas ter a humildade de nos permitir sermos amados.

Joseph Ratzinger
God Is Near Us: The Eucharist, the Heart of Life

Ambivalência

Onde o verdadeiro e o falso são intercambiáveis, também têm de sê-lo o certo e o errado, o lícito e o ilícito.

Olavo de Carvalho

19 de julho de 2007

Pelas almas dos mortos do vôo JJ3054

Pie Iesu Domine, dona eis requiem.

Dona eis requiem sempiternam.

17 de julho de 2007

Nenhum poder coercitivo do Estado

Nenhum poder coercitivo do Estado, nenhum ideal puramente terreno, por grande e nobre que seja em si, poderá substituir por muito tempo os estímulos tão profundos e decisivos que provêm da fé em Deus e em Jesus Cristo.

Papa Pio XI
Encíclica «Mit Brenneder Sorge», de 1937

16 de julho de 2007

Após a Santíssima Trindade, é Ela a quem devemos amar

Não devemos duvidar do fato de que a bem-aventurada Mãe e Virgem Maria, possuidora de um coração vigoroso e determinação sempre constante, desejava dar seu Filho para a salvação do gênero humano, de tal forma que a Mãe viveu, em tudo, conforme o Pai. E, em relação a esta verdade, o que mais devemos louvar e prezar é que Ela tenha aceitado que seu Filho único fosse sacrificado para a salvação dos homens. E, no entanto, Ela se condoía tanto com as dores do Filho que, de bom grado, e se possível, teria tomado sobre si os tormentos sofridos por Ele. Maria foi verdadeiramente forte e terna, doce e rigorosa ao mesmo tempo, rígida consigo mesma, pródiga para conosco! É, pois, a Ela que devemos amar e venerar acima de todas as coisas, em segundo lugar, após levarmos nosso amor à suprema Trindade e a seu Santíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, cujo mistério divino não pode ser expressado por língua alguma.

São Boaventura

15 de julho de 2007

O coração da vida cristã

O amor é o ‘coração’ da vida cristã: de fato, só o amor, suscitado entre nós pelo Espírito Santo, nos torna testemunhas de Cristo.

Papa Bento XVI

12 de julho de 2007

Bento XVI e a Liturgia

Bento XVI defende que "a simplicidade dos gestos e a sobriedade dos sinais, situados na ordem e nos momentos previstos, comunicam e cativam mais do que o artificialismo de adições inoportunas".

A decisão de facilitar a celebração no Rito de São Pio V já era algo que o Papa defendia enquanto Cardeal. A 5 de Setembro 2003, numa entrevista concedida ao Canal Católico EWTN, Joseph Ratzinger deixava claro que a "antiga Liturgia não se proibiu nunca".

O então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé mostrava-se agastado com a questão dos "abusos" a que se assistia na Liturgia. Nessa mesma entrevista não escondia a sua paixão pelo latim, indicando que a presença desta língua "ajudaria a dar uma dimensão universal" às celebrações.

Octávio Carmo
Agência Ecclesia

11 de julho de 2007

O que devo fazer para ser um bom católico

"Um jovem aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna?"
(Mateus, 19,16)

Do discurso do Papa Bento XVI aos jovens no Brasil:

A pergunta do Evangelho não contempla apenas o futuro. Não trata apenas de uma questão sobre o que acontecerá após a morte. Há, ao contrário, um compromisso com o presente, aqui e agora, que deve garantir autenticidade e conseqüentemente o futuro. Numa palavra, a pergunta questiona o sentido da vida. Pode por isso ser formulada assim: que devo fazer para que minha vida tenha sentido? Ou seja: como devo viver para colher plenamente os frutos da vida? Ou ainda: que devo fazer para que minha vida não transcorra inutilmente?

Jesus é o único capaz de nos dar uma resposta, porque é o único que nos pode garantir vida eterna. Por isso também é o único que consegue mostrar o sentido da vida presente e dar-lhe um conteúdo de plenitude.

Íntegra:
http://www.universocatolico.com.br/content/view/14256/98/

Em silêncio há de ser ouvida

"Una palabra habló el Padre, que fue su Hijo, y ésta habla siempre en eterno silencio, y en silencio ha de ser oída del alma."

(“Uma só palavra falou o Pai, que foi seu Filho, e a diz sempre em eterno silêncio e em silêncio há de ser ouvida pela alma.”)

San Juan de la Cruz
Dichos de luz y amor 104; cfr. Subida II, 22,3-6

A presença da Virgem Maria está implícita neste pensamento do santo. Maria Santíssima é o silêncio contemplativo que acolheu a Palavra.

Ordo Carmelitarum Discalceatorum
http://www.ocd.pcn.net/mad_es2.htm

10 de julho de 2007

Julgarei entre uma ovelha e outra

Eu um sermão sobre pastores, Santo Agostinho comentou:

"Ele mantém guarda sobre nós quando estamos acordados e quando dormimos. Se um rebanho terreno está a salvo na guarda vigilante de um pastor humano, o quanto mais seguros estamos nós, que temos Deus como nosso pastor, não apenas porque Ele deseja nos ensinar e ajudar, mas porque Ele é nosso criador. Quanto a vós, meu rebanho, assim diz o Senhor Deus: Julgarei entre uma ovelha e outra, entre carneiros e bodes (Ezequiel, 34,17). Por que há bodes no meio do rebanho do Senhor? Bodes que serão mandados para a esquerda, e ovelhas que serão chamadas para o lado direito de Deus, se encontram nos mesmos campos e junto aos mesmos córregos; e Ele cuida juntos daqueles que mais tarde serão separados. A paciência humilde das ovelhas é uma emulação da paciência de Deus. Ele irá separar o rebanho depois, mandando alguns para a direita e alguns para a esquerda."

(Sermões, 47)

Confiança no coração dos jovens

Virgem Santíssima que, sem hesitar,
ofereceste a ti mesma ao Onipotente,
para a realização do seu projeto de salvação,
infunde confiança no coração dos jovens
para que haja sempre pastores zelosos
que guiem o povo cristão pelo caminho da vida,
e almas consagradas que saibam testemunhar
na castidade, na pobreza e na obediência,
a presença libertadora de teu Filho Ressuscitado.

João Paulo II
Mensagem para o 38º Dia de oração pelas vocações,
6 maio 2001

9 de julho de 2007

Uma pessoa, uma consciência

O leigo que é simultaneamente fiel e cidadão deve sempre se guiar em ambas as ordens por uma única consciência cristã.

Apostolicam Actuositatem
Concílio Vaticano II

A casa de Deus

Que terrível é este lugar! Aqui é a casa de Deus, aqui é a porta do céu.

Jacó
Livro de Gênesis 28,10-22

8 de julho de 2007

Batismo no Espírito Santo

É uma prática que tem origem nos protestantes anabatistas, que consideram inválido o batismo de outras igrejas cristãs, e rebatizam quem nelas ingressa. No pentecostalismo americano, surgiu o tal do "batismo no Espírito", que seria a versão herética do sacramento da confirmação.

Nessas seitas, quem não é "batizado no Espírito" ainda não é considerado membro ativo. Foi exatamente dessas igrejas que o pentecostalismo entrou na igreja católica, levando consigo essas práticas.

Na RCC, quem não é "batizado no Espírito" não é considerado "graduado", ainda não tem os seus "dons". Se alguém participa vários anos da RCC e nunca foi "batizado no Espírito" é porque tem o coração fechado a Deus.

Apesar de diversos pronunciamentos de bispos e até do Papa sobre o tema, proibindo essa terminologia, o uso continua corrente. O problema que vejo no entanto não é de terminologia, mas de copiar um ritual de rebatismo importado do protestantismo.

E isso não é um aspecto secundário, mas está na base de tudo que é a RCC. Toda a idéia do movimento é fazer com que cada católico do mundo seja "batizado no Espírito". Toda a teologia do movimento está centrada nos efeitos que o "batismo no Espírito" tem na vida da pessoa.

Os padres, bispos, teólogos, que participam do movimento falam o tempo todo que "não é um novo batismo", é um "reavivamento do Espírito Santo dentro da pessoa" (no sentido de que a pessoa se torna mais consciente da presença e ação do E.S.), mas é tudo uma tentativa de dar uma roupagem católica a uma prática em essência anti-católica (originada em quem nega o batismo católico).

Por isso creio que é impossível conciliar essa prática com a doutrina católica.

Carlos H. Correia

6 de julho de 2007

O Estado é laico, mas a sociedade não é

Não queremos voltar a um Estado religioso nem a um Estado que mande na Igreja. Mas que se entenda bem a laicidade do Estado. Ela não pode ser pretexto para que sejam suprimidas as liberdades religiosas, a liberdade de consciência, a liberdade de expressão. Que, a pretexto de laicidade do Estado, quem de alguma forma professa fé religiosa, seja ela qual for, seja considerado um cidadão de segunda categoria e por isso tenha de ficar quieto e não se manifeste. A Constituição brasileira diz que o Estado não tem uma religião. Portanto, ele não privilegia uma religião, mas respeita as propostas e as idéias religiosas dos cidadãos. O Estado é laico, mas a sociedade não é. A grande maioria dos brasileiros professa uma fé religiosa. Não se deve confundir Estado com sociedade. Me parece que no Brasil se pretende que o Estado substitua a sociedade. Essa discussão tem de ser mais bem colocada.

Dom Odilo Scherer
arcebispo de São Paulo

Laico:

adjetivo e substantivo masculino
1 que ou aquele que não pertence ao clero nem a uma ordem religiosa; leigo
Ex.: um membro l. da congregação; um l. no meio do clero
2 que ou aquele que é hostil à influência, ao controle da Igreja e do clero sobre a vida intelectual e moral, sobre as instituições e os serviços públicos
Ex.: é próprio de um espírito l. reverenciar o conhecimento científico; os l. se opõem ao ensino religioso nas escolas públicas

adjetivo
3 que é independente em face do clero e da Igreja, e, em sentido mais amplo, de toda confissão religiosa
Ex.: educação l.
4 relativo ao mundo profano ou à vida civil
Ex.: moral l.; virtude l.

Dicionário Houaiss

Quem é pecador?

Quem é pecador, senão aquele que recusa ver-se como tal? Não será afundar-se no seu pecado e, a bem dizer, identificar-se com ele, o deixar de se reconhecer pecador? E quem é injusto, senão aquele que se acha justo?

S. Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, doutor da Igreja
Sermão 30

Deus veio ao homem

Deus veio ao homem para que o homem chegue até Deus.

S. Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, doutor da Igreja
Sermão 30

5 de julho de 2007

Somente o Infinito pode encher o coração

A verdade é que as coisas finitas podem dar centelhas de alegria, mas somente o Infinito pode encher o coração. Disse-o outro grande convertido, Santo Agostinho: "Criastes-nos para Vós, ó Senhor, e o nosso coração está inquieto, enquanto não descansa em Vós" (Confissões, 1, 1).

Discurso de Bento XVI aos jovens em Assis

4 de julho de 2007

O Vaticano é o testemunho do martírio de Pedro

O Vaticano não é um conjunto de monumentos, por mais preciosos que sejam, nem uma sede de instituições, por mais prestigiosas e influentes que sejam.

É antes de tudo o lugar histórico e espiritual do martírio e do túmulo de Pedro: onde testemunhou com seu sangue essa fé sobre a qual se segue baseando a nossa, unindo-se através do tempo como uma corrente ininterrupta de testemunhos de fé.

Padre Federico Lombardi
porta-voz da Santa Sé

Deus-objeto

Cria-se uma religião de resultados, que solucione todas as crises, cure todas as doenças, resolva todos os problemas. Uma religião-terapia e não uma religião-aliança. Em vez de relacionar-se com Deus, como um amigo íntimo, um companheiro fiel, um pai extremoso, faz-se dele objeto de uso.

Dom Eusébio Scheid

Inclinados para o mal

Quando o homem olha para dentro do próprio coração, descobre-se inclinado também para o mal, e imerso em muitos males, que não podem provir de seu Criador, que é bom. Muitas vezes, recusando reconhecer Deus como seu princípio, perturbou também a devida orientação para o fim último e, ao mesmo tempo, toda a sua ordenação quer para si mesmo, quer para os demais homens e para toda a criação.

Concílio Vaticano II
Constituição sobre a Igreja no mundo actual « Gaudium et spes », § 13

Lex orandi, lex credendi

O sacerdote, que celebra fielmente a Missa segundo as normas litúrgicas, e a comunidade, que às mesmas adere, demonstram de modo silencioso mas expressivo o seu amor à Igreja.

Carta Encíclica ECCLESIA DE EUCHARISTIA
do Sumo Pontífice João Paulo II

Latim: a língua da Igreja, nossa mãe

A linguagem da Mãe (a Igreja) se torna nossa; aprendemos a falar nela e com ela, de modo que as suas palavras se tornam, pouco a pouco, sobre os nossos lábios, as nossas palavras.
Cardeal Joseph Ratzinger (Papa Bento XVI)

Que o antigo uso da Língua Latina seja mantido, e onde houver caído quase em abandono, seja absolutamente restabelecido. – Ninguém por afã de novidade escreva contra o uso da Língua Latina nos sagrados ritos da Liturgia.
(Papa João XXIII, Encíclica Veterum Sapientia)

Se me mandarem falar latim, vou fazer: “Au, au, au!”
(Padre Marcelo Rossi)

O aborto é inseguro para os bebês

"Usar a linguagem como um recurso para influir no moral de uma população é uma técnica que sempre foi empregada com muito sucesso nas guerras ; a propaganda é um instrumento de comprovada eficiência que o nazismo e o comunismo usa com maestria. A esquerda sabe que com uma população de baixos padrões morais é mais fácil fazer prosperar os ideais revolucionários ,por isto não quer centrar o debate sobre o direito de um inocente viver mas sim na segurança das técnicas para provocar a sua morte!"

C. Márcio Ferreira

"Muitos pró-vida estão preocupados por causa do assunto do aborto inseguro, esquecendo-se que não somos contra o aborto porque é inseguro para a mãe, mas sim porque mata o bebê."

Colin Mason

3 de julho de 2007

Aquele a quem Deus chama por seu nome

Temos uma idéia muito redutiva e jurídica de pessoa que gera muita confusão no debate sobre o aborto. É como se uma criança adquirisse a dignidade de pessoa a partir do momento em que esta lhe é reconhecida pelas autoridades humanas. Para a Bíblia, pessoa é aquele que é conhecido por Deus, aquele a quem Deus chama por seu nome; e Deus, nos é assegurado, conhece-nos desde o seio materno, seus olhos nos viam quando éramos ainda embriões no seio de nossa mãe. A ciência nos diz que no embrião existe, em desenvolvimento, todo o homem, projetado em cada mínimo detalhe; a fé acrescenta que não se trata só de um projeto inconsciente da natureza, mas de um projeto de amor do Criador.

Padre Raniero Cantalamessa, ofmcap. -- pregador da Casa Pontifícia

2 de julho de 2007

Pecados que clamam ao céu

A tradição catequética lembra também que existem "pecados que bradam ao céu".

Bradam ao céu:

  • o sangue de Abel,
  • o pecado dos sodomitas;
  • o clamor do povo oprimido no Egito;
  • a queixa do estrangeiro, da viúva e do órfão;
  • a injustiça contra o assalariado.
Catecismo da Igreja Católica §1867

Diálogo com os que negam a Deus

O diálogo com os que negam a Deus é contrário ao espírito do Evangelho.

Todos os padres que defendem a possibilidade de um diálogo com os marxistas perderam a cabeça, perderam a fé.

Embora afirmem o contrário, eu lhes asseguro de Deus não pensa assim.

São padre Pio
Olívio Cesca, PADRE PIO - O santo do terceiro milênio, Ed. Myrian.

Bem-aventurada pobreza

Bem-aventurada pobreza, que prodigaliza riquezas eternas aos que a amam e a abraçam! Santa pobreza – a quantos a possuem e a desejam, promete Deus seguramente o Reino dos céus, a glória eterna e a vida feliz. Querida pobreza, que o Senhor Jesus Cristo Se dignou preferir a tudo o resto, Ele que reinava e reina sobre o céu e a terra, Ele que “falou e as coisas existiram” (Sl 32, 9).

Santa Clara (1193-1252), monja franciscana
I Carta a Inês de Praga, § 15-23

27 de junho de 2007

Seremos reconhecidos pelos nossos frutos

"Ninguém peca se professar a fé; ninguém odeia se professar a caridade."

Esforçai-vos por vos reunirdes com mais freqüência e por dardes ações de graças e louvores a Deus. Pois, quando vos reunis com freqüência, o poder de Satanás é abatido e as suas obras de ruína destruídas pela unanimidade da vossa fé. Nada ultrapassa a paz, que triunfa de todos os assaltos que nos fazem as potências celestiais e terrestres.

Nada disso vos está oculto, se dais a Jesus Cristo uma fé e um amor perfeitos, que são o começo e o fim da vida: o começo é a fé e o fim a caridade. Deus é as duas reunidas. Todas as outras virtudes que conduzem à perfeição decorrem destas duas primeiras. Ninguém peca se professar a fé; ninguém odeia se professar a caridade. “As árvores conhecem-se pelos seus frutos”; assim também, será pelas suas obras que se reconhecerão aqueles que fazem profissão de ser de Cristo. Porque a obra que hoje se nos pede não é uma simples profissão de fé, mas a prática da fé até ao fim.

Mais vale calar-se e ser do que falar sem ser. É bom ensinar, se aquele que ensina age. Temos um único mestre, aquele que “disse e todas as coisas foram feitas” (Sl 32, 9); até as obras que fez no silêncio são dignas de seu Pai. Aquele que compreende verdadeiramente a palavra de Jesus também pode compreender o seu silêncio; e então será perfeito: agirá pela sua palavra e dar-se-á a conhecer pelo seu silêncio. Nada está oculto ao Senhor; até os nossos segredos lhe são conhecidos. Façamos, pois, tudo com o pensamento de que Ele permanece em nós; seremos assim templos seus, e Ele será em nós o nosso Deus.

Santo Inácio de Antioquia (?-c. 110), bispo e mártir
Carta aos Efésios, 13-15

O patrimônio da Igreja

A grande maioria do patrimônio da Igreja Católica está nos imóveis como igrejas (templos), templos esses espalhados nas cidades pequenas e grandes em todo mundo, nos seminários para formação de padres, nas casas religiosas, nas obras de assistência aos pobres, milhares e milhares pelo mundo afora. A igreja da sua paróquia é do padre? Ele pode vendê-la quando bem entender? Claro que não! A igreja é do povo da paróquia, o conjunto das igrejas (templos) de uma diocese e outros imóveis como salões e casas paroquiais, é administrado pela própria diocese, mas não que o bispo possa dispor desses bens imóveis ao seu bel prazer ou usá-los em proveito próprio. Jamais.

Obras como a Fazenda da Esperança, hoje em evidência devido à visita do Papa, com muitas terras e boas construções – onde se recuperam milhares de jovens anualmente, constituem uma riqueza, mas frei Hans, seu fundador, não pode dispor dela e fazer o que bem quer. Estes bens existem para a recuperação de filhos de Deus que perderam sua dignidade.

E o Vaticano, com seu ouro, suas jóias? Esta conversa é mesmo de quem não conhece a Igreja. O Vaticano tem muitas peças sacras, pinturas e histórias gravadas nas paredes de suas capelas, tapetes e obras literárias. É patrimônio da humanidade. Ali estão, porque ao longo dos séculos pessoas de todas as partes do mundo foram presenteando os pontífices. Sua venda não mataria a fome de nem de 0,001% dos necessitados num curto espaço de tempo. O Estado do Vaticano é o menor país do mundo circundado pela cidade de Roma, do tamanho de uma quadra. O Papa não pode vender aquele pequeno pedaço de terra, ele é dos cristãos.

Pe. Crispim Guimarães
FONTE: http://www.progresso.com.br:80/not_view.php?not_id=30165