31 de outubro de 2006

Eu farei de vós pescadores de homens

Orígenes (c. 185-253), sacerdote e teólogo
Contra Celso, I, 62

A palavra dos apóstolos Simão e Judas ressoou por toda a terra

Se Jesus tivesse escolhido para ministros dos seus ensinamentos homens sábios segundo a opinião pública, capazes de compreender e de exprimir ideias caras à multidão, poderiam tê-lo acusado de pregar segundo o método dos filósofos de escola, e o carácter divino da sua doutrina não se teria mostrado com toda a sua evidência. A sua doutrina e a sua pregação teriam consistido “em sabedoria de palavras” (1 Cor 1, 17) […]; e a nossa fé, semelhante àquela com que se adere às doutrinas dos filósofos deste mundo, assentaria na sabedoria dos homens e não no poder de Deus (cf. 1 Cor 2, 5). Mas, quando vemos pescadores e publicanos sem instrução terem a ousadia de discutir com os judeus a fé em Jesus Cristo, de a pregar ao resto do mundo, e de conseguir lá chegar, não podemos deixar de procurar a origem deste poder de persuasão. Como não podemos deixar de confessar que Jesus cumpriu a sua palavra – “Vinde após Mim e Eu farei de vós pescadores de homens” (Mt 4, 19) – nos seus apóstolos por meio de um poder divino.

Também Paulo manifesta este poder quando escreve: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em discursos persuasivos da sabedoria humana, mas na manifestação do Espírito e do poder divino” (1 Cor 2, 4) […]. O mesmo haviam já dito os profetas, quando anunciavam antecipadamente a pregação do Evangelho: “O Senhor dá a palavra e os anunciadores da Boa Nova são uma multidão”, a fim de que “rápida corra a sua palavra” (Sl 67, 12; 147, 4). E, de facto, vemos que “a voz” dos apóstolos de Jesus ressoa “por toda a terra, até aos confins do universo a sua palavra” (Sl 18, 5; Rom 10, 18). Eis por que motivo aqueles que escutam a palavra de Deus poderosamente enunciada se enchem, eles mesmos, de poder; e manifestam-no pela sua conduta e pela sua luta em prol da verdade até à morte.

Fonte: Evangelho quotidiano

Eu sou a luz do mundo

Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano de Estrasburgo
Sermão 10

“Imediatamente o homem começou a ver, e seguia Jesus pelo caminho”

“Eu sou a luz do mundo” (Jo 8, 12). Ele é a luz que dá brilho a todas as luzes da terra: às luzes materiais como o sol, a lua, as estrelas e os sentidos físicos do homem; e também à luz espiritual, à inteligência do homem, graças à qual todas as criaturas devem refluir para a sua origem. Sem este refluxo, estas luzes criadas são, em si mesmas, verdadeiras trevas, comparadas com a luz autêntica por essência, que é luz para o mundo inteiro.

Nosso Senhor disse-nos: “Renuncia à tua luz, que é trevas em comparação com a minha luz, e que me é contrária, porque Eu sou a verdadeira luz e quero dar-te, em troca das tuas trevas, a minha luz eterna, a fim de que ela te pertença como a Mim mesmo, e de que tu tenhas, como Eu mesmo, o Meu ser, a Minha vida, a Minha felicidade e a Minha alegria.”

Qual é, então, o caminho mais curto, que conduz a verdadeira luz? Eis tal caminho: renunciar verdadeiramente a si mesmo, amar e não ter em vista senão só Deus […], não querer em coisa alguma o próprio interesse, mas desejar e procurar somente a honra e a glória de Deus, esperar tudo imediatamente de Deus e, sem desvio nem intermediário, a Ele remeter todas as coisas, venham de onde vierem, a fim de que haja entre Deus e nós um fluxo e um refluxo imediatos. Eis o verdadeiro caminho, o caminho recto.


Fonte: Evangelho quotidiano

Instruções do Cardeal Mindszenty ao povo húngaro

Como seria bom para o Brasil este exemplo!

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O Cardeal Mindszenty, no dia em que foi elevado à dignidade de Príncipe-Primaz, invocando o nome de Deus, adjurou os fiéis nestes termos: "Sejamos um povo de orações. Se reaprendermos a rezar, iremos possuir uma fonte inesgotável de força e de confiança. Eu deposito minha confiança nessas milhões de orações dos peregrinos e no terço de minha Mãe."

Em 1948 o Cardeal declara: "Meu voto, meu desejo mais profundo é que um milhão de famílias húngaras tomem o terço nas mãos e rezem a Maria." E, em uma de suas cartas pastorais: "Nós vemos a Mão de Deus nos acontecimentos da História, - mesmo nos perigos e nas tormentas - "É por este motivo que a nossa confiança n´Ele jamais se enfraquecerá. É por este motivo que nós vos conclamamos a colocar o vosso destino - por meio de Maria - nas mãos de Deus. Voltemos às mais antigas fontes do nosso Patrimônio Húngaro! Vamos dar à Virgem Maria o nome de rainha, para que ela tome o nosso destino em suas mãos."

Ouvi a prece que fez à Mãe de Deus: "Maria, nossa Mãe, o que nós suportamos em angústias, oferecemos em expiação. Que os suspiros e lágrimas, o medo, a amargura, o mudo lamento do mundo sirvam de expiação para nossos pecados. Estamos prestes a sofrer, Mãe dolorosa, tanto quanto teu Filho julgue necessário para a nossa salvação. Entretanto, nós te suplicamos, reerga a nação sofrida como Jó e mostra que tu continuas a ser a nossa Mãe."

P.Werenfried van Straaten,
Dans l’Homme nouveau de 15.06.1975

Fonte: Um minuto com Maria

O Rosário de Grignion de Montfort

Missionário, Grignon de Montfort subia o Rio Sena em uma embarcação cumulada de, pelo menos, umas 200 pessoas a se acotovelarem, rindo grosseiramente, cantando canções lascivas. Há pouco engajado neste vaivém de comerciantes de gado e peixeiros, o senhor de Montfort começa por ajustar o seu crucifixo, na ponta do próprio bastão. Em seguida, prostrando-se, grita: "Aqueles que amam Jesus Cristo, juntem-se a mim, para adorá-Lo."

Balançares desdenhosos de ombros, risadas e chacotas o acolheram. Então, voltando-se para o Irmão Nicolas, disse: "De joelhos, recitemos o Rosário!" Sob uma avalanche de deboches, os dois homens, cabeças descobertas, rostos concentrados e tranqüilos, desfiavam as Ave-Marias. Assim que terminaram o primeiro terço do Rosário, o Santo se levantou e com a voz doce convidou a assistência a se unir a ele para invocar Maria. Ninguém se mexeu, mas as vaias serenaram no momento em que a oração recomeçava. À medida que as invocações "Santa Maria, rogai por nós, pobres pecadores" se sucediam, o rosto do Santo se transfigurava.

Concluídas as cinco novas dezenas, nota-se em seu olhar tal súplica e, em sua voz, tanta unção e autoridade que, no momento em que conjura a assistência a recitar com ele a terceira parte do Rosário, todos caem de joelhos e repetem docilmente as suas palavras, esquecidas desde a infância. O santo sacerdote pôde então se alegrar: de um teatro de obscenidades, ele fez um santuário; aos lábios acostumados às blasfêmias, ele restituiu o nome de Maria.

Antologia Mariana 1975 p. 12


Fonte: Um minuto com Maria

Celebrar ou não celebrar Halloween?

Entrevista com Paolo Gulisano, autor de um livro sobre o tema

ROMA, segunda-feira, 30 de outubro de 2006 (ZENIT.org).- Grandes abóboras vazias iluminadas em seu interior, como se fossem caveiras, esqueletos e sombrias figuras encapuzadas, risadas assustadoras e um estribilho obsessivo; doce ou brincadeira? Tudo isso é Halloween, uma moda, uma festa, um novo costume que se impôs nos últimos anos, graças, em parte, à persuasão do cinema e da televisão.

A festa de Halloween se introduziu inclusive nas escolas de países nos quais há apenas alguns anos se desconhecia a existência da festa: em muitos centros escolares, desde a escola primária à superior, os professores organizam a festa junto aos alunos, com jogos e desenhos.

O tema de Halloween foi abordado em todos seus aspectos pelo escritor italiano Paolo Gulisano, autor de numerosos ensaios sobre literatura de fantasia e sobre a cultura anglo-saxônica. Junto à pesquisadora irlandesa, residente nos Estados Unidos, Brid O’Neill, publicou nestes dias em italiano um livro titulado «A noite das abóboras» («La notte delle zucche», editora Ancora).

Para aprofundar no significado da festa de Halloween, Zenit entrevistou Paolo Guiliano.

--Em alguns setores, ante a expansão de Halloween, começou a manifestar-se uma certa preocupação. O que você pensa ao respeito?

--Guliano: É verdade. Há quem vê no Halloween um retorno a formas de «paganismo» e quem, ao contrário, vê um rito folclórico e de consumismo, uma espécie de inócuo carnaval fora de temporada. O fato é que ninguém recorda, não só entre as crianças e jovens e no âmbito mediático popular, a festividade cristã que Halloween está suplantando, Todos os Santos. Em 1º de novembro se confundiu com a comemoração dos Fiéis Defuntos, que cai na realidade no dia seguinte.

--Mas o que significa Halloween?

--Gulisano: O nome Halloween é a deformação americana do termo, no inglês da Irlanda, «All Howllows’ Eve»: Vigília de Todos os Santos. Esta antiqüíssima festa chegou aos Estados Unidos junto com os imigrantes irlandeses e lá se enraizou, para sofrer recentemente uma radical transformação. Das telas de Hollywood, a moda de Halloween chegou assim desde há alguns anos à velha Europa e a outras partes do mundo. Detrás de Halloween está uma das mais antigas festas sagradas do Ocidente: uma festa que atravessou os séculos, com usos e costumes que se foram redefinindo no tempo, mas que conservaram o mesmo significado. Suas origens, o significado dos símbolos, são, contudo, desconhecidos para a maioria.

--Mas a festa se remonta ao paganismo dos celtas. Em 1º de novembro, era para eles o primeiro dia do ano, a festa na qual os espíritos buscavam corpos para reencarnar-se. A Igreja, na Idade Média, substituiria esta tradição pela festividade de Todos os Santos, que é seguida depois pelo dia dos Fiéis Defuntos.

--Gulisano: Exato. Halloween não é mais que a última versão, secularizada, de uma ortodoxa festa católica, e em meu livro procurei explicar como pôde suceder que uma tradição plurissecular cristã tenha se convertido no atual carnaval de terror. Digamos antes de tudo, que a origem deste último fenômeno, Halloween, é completamente americana. Nesse país, ao que chegaram milhões de imigrantes irlandeses, com sua profunda devoção pelos santos, se tratava de um culto muito fastidioso para a cultura dominante, de caráter puritano. Deste modo, em sua atual versão secularizada, buscou-se descartar o sentido católico de Todos os Santos, mantendo em Halloween o aspecto lúgubre do mais além, com os fantasmas, os mortos que se levantam dos túmulos, as almas perdidas que atormentam aos que em vida lhes fizeram dano: um aspecto que se tenta exorcizar com as máscaras e as brincadeiras.

Obviamente, o velho continente não podia permanecer muito tempo sem adotar o novo «culto». De fato, vemos Halloween difundir-se cada vez mais entre nós com seu cortejo de artigos de consumo mais ou menos macabros -- caveiras, esqueletos, bruxas -- que não se propõe como uma forma de neopaganismo, nem como um culto esotérico, mas simplesmente como uma paródia da religiosidade cristã autêntica, com fins preferentemente consumistas: vender produtos de carnaval (o chamado mercado de Halloween), máscara, caveiras, abóboras, capas, gorros e outras coisas, além de espaços publicitários nos filmes de horror emitidos pelas emissoras de televisão. Halloween se propõe comercialmente como uma festa jovem, divertida, diferente, «transgressiva»; a pessoa se disfarça de fantasma, bruxa ou zumbi para ir a alguma festa...

--Contudo, Halloween não pode ser considerado simplesmente como um fenômeno comercial ou como um segundo Carnaval...

--Gulisano: Certamente. É importante conhecer e saber valorizar bem suas raízes culturais, e também as implicações esotéricas que se sobrepuseram ambiguamente a esta data. O dia 31 de outubro, com efeito, se converteu em uma data importante para o esoterismo, em cujos textos encontramos estas definições: «Volta do Grande Sabba [encontro entre as bruxas e Satanás, ndr.] quatro vezes ao ano... Halloween, que é talvez a festa mais querida»; «Samhain [festa celta de 1º de novembro, ndr.] é o dia mais mágico de todo o ano, ano novo de todo o mundo esotérico». O mundo do oculto a define assim: «é a festa mais importante para os seguidores de Satanás». A data de uma importante celebração de cultura celta antes e da cristã depois passou a fazer parte do calendário do ocultismo.

--Então, o que se deve fazer no dia 31 de outubro?

--Gulisano: Na minha opinião, pode-se e deve-se fazer festa. Em 1º de novembro, que foi o Ano Novo celta e depois Todos os Santos, é uma festividade extraordinária para os cristãos, e não vale a pena deixá-la nas mãos de charlatões e ocultistas. Não é preciso ter medo do Halloween «mal», e por isso é preciso conhecê-lo bem. Halloween, de qualquer forma, não pode ser ignorado, já faz parte já do cenário de nossos tempos. O que fazer, portanto?

Educadores e famílias deveriam mobilizar-se contra a falta de educação, de bom gosto, contra a profanação do mistério da morte e da vida após a morte, mas não é fácil ir contra a corrente, desafiar as modas que imperam em nossa sociedade.

Então, pode-se fazer festa em Halloween, recordando o que este dia significou durante séculos e o que continua testemunhando. Deve-se salvar Halloween, dando-lhe todo seu antigo significado, liberando esta festa da dimensão puramente consumista e comercial e, sobretudo, extirpando a pátina de ocultismo sombrio de que foi revestida.

Portanto, eu aconselharia organizar a festa e explicar claramente que se está festejando os mortos e os santos, de forma positiva e inclusive engraçada, para que as crianças sejam educadas em uma visão da morte como um acontecimento humano, natural, do qual não se deve ter medo.

Pio XII consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria

No dia 31 de outubro de 1942, data do encerramento solene do Jubileu das Aparições de Fátima, o Papa Pio XII enuncia, por meio de uma rádio, a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria atendendo ao pedido de nossa Mãe do Céu. Este gesto importante foi por ele renovado no dia 8 de dezembro do mesmo ano.

Em 1944, em plena guerra mundial, o mesmo soberano pontífice consagraria, igualmente, todo o gênero humano ao Imaculado Coração de Maria, colocando-o sob a Sua poderosa proteção. Durante a mesma cerimônia, o sumo pontífice decretou que a Igreja inteira celebraria uma festa, a cada ano, em honra ao Imaculado Coração de Maria, para que fosse obtida, por meio da intercessão da Santíssima Virgem "A paz das nações, a liberdade da Igreja, a conversão dos pecadores, o amor à pureza e a prática das virtudes". Ele fixou a data desta festa para o dia 22 de agosto, oitavo dia da festa da Assunção.

Fonte: Um minuto com Maria

Ser fermento na massa

S. João Crisóstomo
(cerca 345-407), bispo de Antioquia e depois de Constantinopla, doutor da Igreja
Homília 20 sobre os Actos dos Apóstolos

Há algo mais irrisório do que um cristão que não se preocupa com os outros? Não tomes como pretexto a tua pobreza: a viúva que pôs duas pequenas moedas na arca do tesouro (Mc 12,42) levantar-se-ia contra ti; Pedro também, ele que dizia ao coxo: “Não tenho ouro nem prata” (Ac 3,6), e Paulo, tão pobre que tinha muitas vezes fome. Não uses a tua condição social, pois os apóstolos também eram humildes e de baixa condição. Não invoques a tua ignorância, porque eles eram homens iletrados. Mesmo se tu eras escravo ou fugitivo, tu podias sempre fazer o que dependia de ti. Assim era Onésimo que Paulo elogiou. Serás tu de saúde frágil? Timóteo também o era. Sim, seja o que for que sejamos, não importa quem pode ser útil ao seu próximo, se ele quer verdadeiramente fazer o que ele pode.

Vês quantas árvores da floresta são vigorosas, belas, esbeltas? E contudo, nos jardins, preferimos árvores de fruto ou oliveiras cobertas de frutos. Belas árvores estéreis..., assim são os homens que apenas consideram o seu próprio interesse...

Se o fermento não levedasse a massa, não seria um verdadeiro fermento. Se um perfume não perfumasse os que estão perto, poderíamos chamá-lo de perfume? Não digas pois que é impossível teres uma boa influência sobre os outros, porque se és verdadeiramente cristão, é impossível que não se passe nada; isso faz parte da essência própria do cristão... Será tão contraditório dizer que um cristão não pode ser útil ao seu próximo como negar ao sol a possibilidade de iluminar e aquecer.


Fonte: Evangelho quotidiano

25 de outubro de 2006

A luta do povo pela liberdade

O Papa Bento XVI solidarizou-se com a luta do povo húngaro contra o comunismo há 50 anos atrás.


Carta do Papa nos cinqüenta anos da rebelião da Hungria


CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 24 de outubro de 2006 (ZENIT.org).- Publicamos a carta que Bento XVI enviou ao cardeal Angelo Sodano, legado pontifício por ocasião das celebrações do qüinquagésimo aniversário da rebelião da Hungria.

* * *


A nosso venerado irmão
Cardeal ANGELO SODANO
Secretário de Estado emérito
Decano do Colégio cardinalício

É nobre e justo defender e conservar os próprios direitos de liberdade e religião. Com efeito, «a verdadeira liberdade é sinal eminente da imagem divina no homem» (Gaudium et spes, 17). Por isso, a Igreja considera que se deve tutelar a justa dignidade e a liberdade: «O homem foi constituído inteligente e livre na sociedade por Deus criador» (ib., 21). Em conseqüência, os que por este motivo sofrem atropelos ou perdem a vida são dignos de louvor e de piedosa lembrança.

Assim, pois, como há cinqüenta anos meu predecessor o Papa Pio XII, de venerada memória, solicitamente acompanhou com suas orações e consolou com suas palavras o povo húngaro quando defendia sua liberdade, também eu quero expressar estima pelas solenes celebrações que dentro de pouco acontecerão em Budapeste para comemorar o 50º aniversário daquela heróica defesa da liberdade nacional.

Estou profundamente certo de que este acontecimento poderá ajudar a fé e a unidade dessa nobre nação e de toda a Europa. Por isso, aceitei com prazer ao convite do senhor presidente da Hungria, Ladislao Solyon. Ao não poder ir eu pessoalmente, desejo encomendar o cumprimento desta singular tarefa a ti, venerado irmão, que com grande prudência e perícia te encarregaste durante tanto tempo dos compromissos mais importantes do Romano Pontífice para bem de toda a Igreja.

Portanto, com esta carta eu te nomeio legado meu para a solene comemoração que se terá em Budapeste nos dias 22 e 23 do próximo mês de outubro, por ocasião da celebração da liberdade da Hungria. Assim, pois, em meu nome presidirás os ritos solenes e transmitirás convenientemente a todos os presentes minha saudação, particularmente ao presidente da Hungria, às autoridades e aos pastores sagrados. A todos confirmarás minha benevolência, caridade e presença espiritual.

Podes exortar a todos com as palavras do Concílio Vaticano II, “principalmente àqueles que têm a seu cuidado a educação dos outros, a que se esforcem por formar homens que, respeitando a ordem moral, obedeçam à autoridade legítima e amem a autêntica liberdade” (Dignitatis humanae, 8).

Encomendo tua missão de legado à poderosa intercessão da Grande Senhora da Hungria, assim como a São Estevão e a São João de Capistrano, com a esperança de que esse acontecimento beneficie a nação, confirme sua fé e dê abundantes frutos de caridade e paz.

Quero, por último, que envies amorosamente a todos os participantes na celebração a bênção apostólica, prenda da graça celestial e testemunho de minha comunhão.

Vaticano, 23 de setembro de 2006, segundo ano de meu pontificado.

[Tradução realizada por Zenit. © Copyright 2006 - Libreria Editrice Vaticana]

Silêncio e contemplação

"Só se procederem do silêncio e da contemplação nossas palavras podem ter um certo valor e utilidade e não cair na inflação dos discursos do mundo que buscam o consenso da opinião pública."

Papa Bento XVI

6 de outubro de 2006

O nascimento da nova Eva

Alegra-te, Adão, nosso pai, e sobretudo tu, Eva, nossa mãe. Fostes ao mesmo tempo os nossos pais e os nossos assassinos; vós que nos destinastes à morte ainda antes de nos terdes dado à luz, consolai-vos agora. Uma das vossas filhas - e que filha! - vos consolará. Vem então, Eva, corre para junto de Maria. Que a mãe recorra à sua filha; a filha responderá pela mãe e apagará a sua falta. Porque a raça humana será agora elevada por uma mulher.

Que dizia Adão outrora? "A mulher que me deste ofereceu-me o fruto da árvore e eu comi." (Gn 3,12) Eram palavras más, que agravavam a sua falta em vez de a apagarem. Mas a divina Sabedoria triunfou sobre tanta malícia; aquela ocasião de perdoar que Deus tinha tentado em vão fazer nascer, ao interrogar Adão, eis que agora a encontra no tesouro da sua inesgotável bondade. A primeira mulher é substituida por outra, uma mulher sábia no lugar da insensata, uma mulher humilde tanto quanto a outra era orgulhosa.

Em vez do fruto da árvore da morte, ela apresenta aos homens o pão da vida; substitui aquele alimento amargo e envenenado pela doçura dum alimento eterno. Muda então, Adão, a tua acusação injusta em expressão de agradecimento e diz: "Senhor, a mulher que tu me deste apresentou-me o fruto da árvore da vida. Comi dele e o seu sabor foi para mim mais delicioso do que o mel (Sl 18,11), porque por este fruto me devolveste a vida." Eis porque é que o anjo foi enviado a uma virgem. Ó Virgem admirável, digna de todas as honras! Ó mulher que temos de venerar infinitamente entre todas as mulheres, tu reparas a falta dos nossos primeiros pais, tu dás vida a toda a sua descendência.

S. Bernardo (1091-1153)
Monge cisterciense e doutor da Igreja
Louvores da Virgem Maria: homilia 2.