2 de dezembro de 2007

Vigiai e orai continuamente

Quem quer orar em paz não terá apenas em consideração o local, mas o tempo. O momento do repouso é o mais favorável e assim que o sono da noite estabelece um silêncio profundo, a oração faz-se mais livre e mais pura (Lam 2,19). Com que segurança a oração sobe na noite, quando só Deus é testemunha, com o anjo que a recebe para a ir apresentar ao altar celeste! Ela é agradável e luminosa, pintada de pudor. Ela é calma, tranquila, já que nenhum barulho, nenhum grito a vem interromper. Ela é pura e sincera, quando o pó das preocupações terrenas não a podem sujar. Não há espectador que possa expô-la à tentação pelos seus elogios ou adulação.

É por isso que o Esposo (do Cântico dos Cânticos) agiu com tanta prudência como pudor assim que ela escolheu a solidão noturna do seu quarto para rezar, quer dizer, para procurar o Verbo, porque tudo é um. Tu rezas mal se ao rezar procuras outra coisa que não o Verbo, a Palavra de Deus, ou e tu não pedes que o assunto da tua oração seja relativo ao Verbo. Porque tudo está nele: o remédio para as feridas, o socorro nas tuas necessidades, a melhoria dos teus defeitos, a fonte dos teus progressos, em resumo, tudo o que um homem pode e deve desejar. Não há nenhuma razão para pedir ao Verbo outra coisa que não seja ele próprio, pois que ele é todas as coisas. Se, como é necessário, nós pedimos certos bens concretos, e se, como devemos, nós os desejamos pelo Verbo, são menos essas coisas em si mesmas que nós pedimos, que aquele que é a causa da nossa súplica.

S. Bernardo (1091-1153),
monge de Cister e doutor da Igreja
Sermão 86 sobre o Cântico dos Cânticos

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