30 de agosto de 2007

Não sejas mais justo do que o justo

Se quiseres avançar corretamente, com discrição e dando frutos no caminho da verdadeira religião, deves ser austero e rígido contigo mesmo, mas parecer sempre alegre e aberto para com os outros, esforçando-te no teu coração por caminhar nos cumes da retidão, sabendo inclinar-te com bondade para com os mais fracos. Numa palavra, perante o juízo da tua consciência, deves moderar os rigores da justiça, de tal forma que não sejas duro para com os pecadores, mas acessível ao perdão e indulgente...

Considera o teu pecado como perigoso e mortal; o dos outros, considera-o como fragilidade da condição humana. A falta que, em ti, consideras digna de severa correção, pensa que, nos outros, não merece mais do que uma pequena admoestação. Não sejas mais justo do que o justo: receia cometer o pecado, mas não hesites em perdoar ao pecador. A verdadeira justiça não é a que precipita as almas dos irmãos no laço do desespero… É muito perigoso o fogo que, ao queimar o mato, ameaça abrasar a própria casa com o ardor das suas chamas. Não, aquele que se compraz a escalpelizar os defeitos dos outros não evitará o pecado porque, ainda que seja movido pelo zelo da justiça, tarde ou cedo acabará por o denegrir.

Evidentemente, se a nossa vida não nos parecesse tão brilhante, a dos outros não nos pareceria tão feia. E se, como se deveria, fôssemos para nós mesmos juízes severos, as faltas dos outros não encontrariam em nós censores tão rigorosos.

S. Pedro Damião (1007-1072), eremita, depois bispo, doutor da Igreja
Opúsculo 51

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