30 de outubro de 2007

Feroz perseguição religiosa

No dia 28 de Outubro próximo, no Vaticano serão beatificados 498 mártires da feroz perseguição religiosa, que explodiu na Espanha depois de 1931 e especialmente entre 1934 e 1936. Uma cerimônia de massa de tais proporções não tem precedente. João Paulo II começara beatificando, em 1987, três freiras carmelitas que tinham sido cruelmente massacradas pelas ruas de Madri. Depois, Papa Wojtyla celebrou outras onze cerimônias de beatificação num total de 465 mártires espanhóis. Domingo próximo serão declarados beatos 2 Bispos, 24 Padres, 462 religiosos e religiosas, 2 diáconos, 1 seminarista e 7 leigos, todos vítimas daquela perseguição. Será a, ocasião de conhecer uma das mais sanguinárias tempestades anticristãs desencadeadas na Europa em nosso tempo, por obra dos revolucionários republicanos (uma mistura de comunismo, socialismo, anarquia e laicismo). “Jamais na história da Europa, e talvez na do mundo”, escreveu Hugh Thomas, “se havia visto um ódio tão encarniçado à religião e a seus homens”. Igrejas e conventos (com uma quantidade de obras de arte) foram queimados e destruídos. Em poucos meses, foram mortos 13 Bispos, 4.184 sacerdotes e seminaristas, 2.365 religiosos, 283 freiras, e um número incalculável de simples cristãos, cuja única culpa era ter um crucifixo no pescoço, ou ter um terço no bolso, ou por ter ido à Missa, ou por ter escondido um padre, ou por ser mãe de um sacerdote, como aconteceu com uma senhora, que, por isso, foi sufocada com um crucifixo enfiado na garganta.

Muitos Bispos ou sacerdotes teriam podido fugir, mas ficaram em seu posto, mesmo sabendo o que lhes esperava, para não abandonar seus fiéis. Não impressiona apenas a sanha com que se enfureceram sobre as vítimas inermes e inofensivas (por exemplo, houve quem foi amarrado a um cadáver e largado assim, ao sol, até sua decomposição, vivo, com o morto).

Mas impressiona ainda mais a vontade de obter das vítimas a renegação da fé, ou a profanação dos sacramentos, ou horríveis sacrilégios. Há nisso, algo sobre que não se refletiu suficientemente. Dou alguns exemplos. Os revolucionários decidiram que o pároco de Torrijos, que se chamava Liberio Gonzales Nonvela, dada a sua ardente fé devesse morrer como Jesus. Assim, ele foi desnudado e chicoteado de modo bestial. Depois, se começou a crucificação, a coroação de espinhos, fizeram-lhe beber vinagre, afinal, o mataram com um disparo, enquanto ele abençoava os seus carrascos. Mas é significativo que estes, precedentemente, lhe haviam dito: “Blasfema e te perdoaremos”. O sacerdote, esgotado pelas sevícias, respondeu que era ele que os perdoava e os bendizia. Mas deve ser sublinhada a vontade de arrancar dele uma traição da Fé. Também de outros sacerdotes pretendiam a profanação dos sacramentos. Ou de freiras que violentaram. Que sentido podia haver, do ponto de vista político, per exemplo, a exumação dos corpos de freiras em decomposição, expostas em praça pública para ridicularizá-las? Não há algo de simplesmente satânico nisso?

E o jovem Juan Duarte Martin, diácono de vinte e quatro anos, torturado com agulhas em todo os eu corpo, e, através deles, com terríveis descargas elétricas? Pretendiam fazê-lo blasfemar e gritar “Viva o comunismo!”, enquanto ele gritou até o fim “Viva Cristo Rei!”. O molharam com gasolina e lhe puseram fogo. Aqui não estamos apenas em presença de um louco objetivo político de fazer desaparecer a Igreja. Há algo mais. Definir a natureza e a verdadeira identidade deste horror foi tentado por Richard Wurmbrand, um romeno de origem hebraica que na juventude militou entre os comunistas, em 1935, ele se tornou cristão e pastor evangélico, depois sofreu 14 anos de perseguição, muitos dos quais no Gulag do regime comunista de Ceausescu.

Também ele notara – nos lager do Leste – esse obscuro objetivo na perseguição religiosa. Em um livro seu, escreveu: “Pode-se entender que os comunistas detivessem padres e pastores, porque os consideravam contra revolucionários. Mas por que os padres eram constrangidos pelos marxistas, na prisão romena de Piteshti, a dizer Missa sobre o esterco e a urina? Por que os cristãos eram torturados fazendo-os receber a Comunhão usando essas matérias come elementos?”. Não era somente “deboche obsceno”. Ao sacerdote Roman Braga “arrancaram-lhe os dentes, um a um, com uma verga de ferro”, para fazê-lo blasfemar. Seus torturadores diziam-lhe: “Se os matarmos, vocês cristãos irão ao paraíso. Mas nós não queremos que vocês recebam a coroa do martírio. Vocês devem antes blasfemar contra Deus, e depois irem para o inferno”. A um prisioneiro cristão do cárcere de Piteshti, conta Wurmbrand, os comunistas todo dia repetiam de modo blasfemo o rito do Batismo imergindo-lhe a cabeça no “vaso” onde todos deixavam seus excrementos e obrigavam naqueles minutos os outros prisioneiros cantarem o ritual batismal. Outros cristãos “eram golpeados até enlouquecerem para obrigá-los a se ajoelharem diante de uma imagem de blasfema de Cristo”.

Pergunta-se Wurmbrand, “que tem isso que ver com o socialismo e com o bem estar do proletariado? Não são estas coisas simples pretextos para organizar orgias e blasfêmias satânicas? Supõe-se que os marxistas sejam ateus que não crêem no Paraíso e no Inferno. Nessas extremas circunstâncias o marxismo se tirou a máscara atéia revelando o próprio verdadeiro rosto, que é satanismo”.

Com efeito, o livro de Wurmbrand se intitula “Was Karl Marx a satanist?” (Era Karl Marx um satanista?) e foi traduzido para o italiano pela “Editora Homens Novos” com o título “A Outra face de Karl Marx”. O autor se lança, indagando nos escritos juvenis de Marx e nas suas vicissitudes biográficas, até a considerar que ele tivesse trato com seitas satanistas. Por outro lado, no fervilhar de seitas e sociedades esotéricas de meados do século XIX, são tantas as personalidades que tiveram estranhas contatos. E sobre Marx também outros autores levantaram hipóteses do mesmo gênero. Wurmbrand sustenta sobretudo que a filantropia socialista não era a verdadeira inspiração de Marx, mas apenas o disfarce, o pretexto de sua verdadeira motivação que era a guerra contra Deus. Realizada depois em larga escala com a Revolução de Outubro e com o que se seguiu (nos regimes comunistas: fatos, correntes, episódios e personagens que vão naquela direção são claros).

Sobre o satanismo não me pronunciarei, mas os efeitos satânicos da experiência marxista (planetária) estão sob os olhos de todos mesmo que sejam removidos clamorosamente da reflexão pública: o mais colossal e feroz massacre de seres humanos que a história lembra, e a mais vasta guerra ao cristianismo destes dois mil anos. Como acontece ouvir, em ambientes católicos, julgamentos indulgentes sobre os “ideais dos comunistas”, que teriam sido traídos na pratica ou mal traduzidos, chegou a hora de definir, de uma vez por todas, a natureza satânica da ideologia em si, e de tudo aquilo que aconteceu. Visto que um grande filósofo como Augusto Del Noce, há anos, demonstrou quanto o ateísmo é fundamental no marxismo e de nenhum modo marginal ou facultativo. A tragédia espanhola, sobre a qual o povo cristão não sabe quase nada (e que foi perpetrada também por outras forças revolucionárias e laicas) deveria fazer refletir se não por outra razão, pelas proporções daquele martírio.

Antonio Socci. Da “Libero”, 21 de Outubro de 2007
http://www.antoniosocci.it/Socci/index.cfm


Traduzido pela Associação Montfort

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