31 de outubro de 2007

Ó Rosário bendito de Maria

Ó Rosário bendito de Maria,
doce cadeia que nos prende a Deus,
vínculo de amor que nos une aos Anjos,
torre de salvação contra os assaltos do inferno,
porto seguro no naufrágio universal,
não te deixaremos jamais.

Serás o nosso conforto na hora da agonia.
Seja para ti o último beijo da vida que se apaga,
e a última palavra dos nossos lábios
há de ser o teu nome suave,
ó Rainha do Rosário de Pompéia,
ó nossa Mãe querida,
ó Refúgio dos pecadores,
ó Soberana consoladora dos tristes.

Sê bendita em todo lugar,
hoje e sempre,
na terra e no céu.

João Paulo II
Carta Apostólica Rosarium Virginis Marie

30 de outubro de 2007

Feroz perseguição religiosa

No dia 28 de Outubro próximo, no Vaticano serão beatificados 498 mártires da feroz perseguição religiosa, que explodiu na Espanha depois de 1931 e especialmente entre 1934 e 1936. Uma cerimônia de massa de tais proporções não tem precedente. João Paulo II começara beatificando, em 1987, três freiras carmelitas que tinham sido cruelmente massacradas pelas ruas de Madri. Depois, Papa Wojtyla celebrou outras onze cerimônias de beatificação num total de 465 mártires espanhóis. Domingo próximo serão declarados beatos 2 Bispos, 24 Padres, 462 religiosos e religiosas, 2 diáconos, 1 seminarista e 7 leigos, todos vítimas daquela perseguição. Será a, ocasião de conhecer uma das mais sanguinárias tempestades anticristãs desencadeadas na Europa em nosso tempo, por obra dos revolucionários republicanos (uma mistura de comunismo, socialismo, anarquia e laicismo). “Jamais na história da Europa, e talvez na do mundo”, escreveu Hugh Thomas, “se havia visto um ódio tão encarniçado à religião e a seus homens”. Igrejas e conventos (com uma quantidade de obras de arte) foram queimados e destruídos. Em poucos meses, foram mortos 13 Bispos, 4.184 sacerdotes e seminaristas, 2.365 religiosos, 283 freiras, e um número incalculável de simples cristãos, cuja única culpa era ter um crucifixo no pescoço, ou ter um terço no bolso, ou por ter ido à Missa, ou por ter escondido um padre, ou por ser mãe de um sacerdote, como aconteceu com uma senhora, que, por isso, foi sufocada com um crucifixo enfiado na garganta.

Muitos Bispos ou sacerdotes teriam podido fugir, mas ficaram em seu posto, mesmo sabendo o que lhes esperava, para não abandonar seus fiéis. Não impressiona apenas a sanha com que se enfureceram sobre as vítimas inermes e inofensivas (por exemplo, houve quem foi amarrado a um cadáver e largado assim, ao sol, até sua decomposição, vivo, com o morto).

Mas impressiona ainda mais a vontade de obter das vítimas a renegação da fé, ou a profanação dos sacramentos, ou horríveis sacrilégios. Há nisso, algo sobre que não se refletiu suficientemente. Dou alguns exemplos. Os revolucionários decidiram que o pároco de Torrijos, que se chamava Liberio Gonzales Nonvela, dada a sua ardente fé devesse morrer como Jesus. Assim, ele foi desnudado e chicoteado de modo bestial. Depois, se começou a crucificação, a coroação de espinhos, fizeram-lhe beber vinagre, afinal, o mataram com um disparo, enquanto ele abençoava os seus carrascos. Mas é significativo que estes, precedentemente, lhe haviam dito: “Blasfema e te perdoaremos”. O sacerdote, esgotado pelas sevícias, respondeu que era ele que os perdoava e os bendizia. Mas deve ser sublinhada a vontade de arrancar dele uma traição da Fé. Também de outros sacerdotes pretendiam a profanação dos sacramentos. Ou de freiras que violentaram. Que sentido podia haver, do ponto de vista político, per exemplo, a exumação dos corpos de freiras em decomposição, expostas em praça pública para ridicularizá-las? Não há algo de simplesmente satânico nisso?

E o jovem Juan Duarte Martin, diácono de vinte e quatro anos, torturado com agulhas em todo os eu corpo, e, através deles, com terríveis descargas elétricas? Pretendiam fazê-lo blasfemar e gritar “Viva o comunismo!”, enquanto ele gritou até o fim “Viva Cristo Rei!”. O molharam com gasolina e lhe puseram fogo. Aqui não estamos apenas em presença de um louco objetivo político de fazer desaparecer a Igreja. Há algo mais. Definir a natureza e a verdadeira identidade deste horror foi tentado por Richard Wurmbrand, um romeno de origem hebraica que na juventude militou entre os comunistas, em 1935, ele se tornou cristão e pastor evangélico, depois sofreu 14 anos de perseguição, muitos dos quais no Gulag do regime comunista de Ceausescu.

Também ele notara – nos lager do Leste – esse obscuro objetivo na perseguição religiosa. Em um livro seu, escreveu: “Pode-se entender que os comunistas detivessem padres e pastores, porque os consideravam contra revolucionários. Mas por que os padres eram constrangidos pelos marxistas, na prisão romena de Piteshti, a dizer Missa sobre o esterco e a urina? Por que os cristãos eram torturados fazendo-os receber a Comunhão usando essas matérias come elementos?”. Não era somente “deboche obsceno”. Ao sacerdote Roman Braga “arrancaram-lhe os dentes, um a um, com uma verga de ferro”, para fazê-lo blasfemar. Seus torturadores diziam-lhe: “Se os matarmos, vocês cristãos irão ao paraíso. Mas nós não queremos que vocês recebam a coroa do martírio. Vocês devem antes blasfemar contra Deus, e depois irem para o inferno”. A um prisioneiro cristão do cárcere de Piteshti, conta Wurmbrand, os comunistas todo dia repetiam de modo blasfemo o rito do Batismo imergindo-lhe a cabeça no “vaso” onde todos deixavam seus excrementos e obrigavam naqueles minutos os outros prisioneiros cantarem o ritual batismal. Outros cristãos “eram golpeados até enlouquecerem para obrigá-los a se ajoelharem diante de uma imagem de blasfema de Cristo”.

Pergunta-se Wurmbrand, “que tem isso que ver com o socialismo e com o bem estar do proletariado? Não são estas coisas simples pretextos para organizar orgias e blasfêmias satânicas? Supõe-se que os marxistas sejam ateus que não crêem no Paraíso e no Inferno. Nessas extremas circunstâncias o marxismo se tirou a máscara atéia revelando o próprio verdadeiro rosto, que é satanismo”.

Com efeito, o livro de Wurmbrand se intitula “Was Karl Marx a satanist?” (Era Karl Marx um satanista?) e foi traduzido para o italiano pela “Editora Homens Novos” com o título “A Outra face de Karl Marx”. O autor se lança, indagando nos escritos juvenis de Marx e nas suas vicissitudes biográficas, até a considerar que ele tivesse trato com seitas satanistas. Por outro lado, no fervilhar de seitas e sociedades esotéricas de meados do século XIX, são tantas as personalidades que tiveram estranhas contatos. E sobre Marx também outros autores levantaram hipóteses do mesmo gênero. Wurmbrand sustenta sobretudo que a filantropia socialista não era a verdadeira inspiração de Marx, mas apenas o disfarce, o pretexto de sua verdadeira motivação que era a guerra contra Deus. Realizada depois em larga escala com a Revolução de Outubro e com o que se seguiu (nos regimes comunistas: fatos, correntes, episódios e personagens que vão naquela direção são claros).

Sobre o satanismo não me pronunciarei, mas os efeitos satânicos da experiência marxista (planetária) estão sob os olhos de todos mesmo que sejam removidos clamorosamente da reflexão pública: o mais colossal e feroz massacre de seres humanos que a história lembra, e a mais vasta guerra ao cristianismo destes dois mil anos. Como acontece ouvir, em ambientes católicos, julgamentos indulgentes sobre os “ideais dos comunistas”, que teriam sido traídos na pratica ou mal traduzidos, chegou a hora de definir, de uma vez por todas, a natureza satânica da ideologia em si, e de tudo aquilo que aconteceu. Visto que um grande filósofo como Augusto Del Noce, há anos, demonstrou quanto o ateísmo é fundamental no marxismo e de nenhum modo marginal ou facultativo. A tragédia espanhola, sobre a qual o povo cristão não sabe quase nada (e que foi perpetrada também por outras forças revolucionárias e laicas) deveria fazer refletir se não por outra razão, pelas proporções daquele martírio.

Antonio Socci. Da “Libero”, 21 de Outubro de 2007
http://www.antoniosocci.it/Socci/index.cfm


Traduzido pela Associação Montfort

Uma dura lição por nossas infidelidades

“Nos encontramos em uma situação de extrema gravidade como muito poucas em nossa história. Um governo eleito democraticamente há sete anos perdeu seu rumo democrático e apresenta lampejos de ditadura, onde todos os poderes estão praticamente nas mãos de uma só pessoa que os exerce arbitrária e despoticamente, não para procurar o bem maior da nação, mas para um torcido e anacrônico projeto político: o de implantar na Venezuela um regime desastroso como o que Fidel Castro, a custa de tantas vidas humanas e do progresso de sua nação, impôs a Cuba.”

“Nosso Senhor Jesus Cristo quis dar-nos uma dura lição por nossas infidelidades, por não termos sabido aproveitar os dons que nos deu de uma natureza tão fértil e rica, de um povo inteligente, trabalhador e generoso, e por não termos ajudado devidamente os mais necessitados e não termos vivido limpamente nossa fé cristã.”

“Ante a triste situação que vivemos e ante o perigo de que, se o povo venezuelano não tomar consciência de sua gravidade, e não se pronunciar categoricamente a favor da democracia e da liberdade, nos encontraremos submetidos a uma ditadura de tipo marxista, vamos pedir, todos unidos, à Divina Pastora: ‘Virgem Santíssima, que em nossa história manifestaste muitas vezes tua benevolência e carinho por este povo, te pedimos que não nos abandones neste momento! Apoia-nos, doce Divina Pastora, a aprender a lição e dá-nos a todos a clareza da mente para conhecer e evitar o perigo, e a força para superar democraticamente este momento difícil’.”

Cardeal Rosario Castillo Lara
Homilia em Barquisimeto
14 de janeiro de 2006
dia da Divina Pastora

26 de outubro de 2007

Ela é onipotente por graça

O Rosário é ao mesmo tempo meditação e súplica. A imploração insistente da Mãe de Deus apóia-se na confiança de que a sua materna intercessão tudo pode no coração do Filho.

Ela é “onipotente por graça”, como dizia o Beato Bartolo Longo, com expressão audaz, a ser bem entendida, na sua Súplica à Virgem. Uma certeza esta que, a partir do Evangelho, foi-se consolidando através da experiência do povo cristão.

O grande poeta Dante, na linha de S. Bernardo, interpreta-a de forma admirável, quando canta: “Donna, se' tanto grande e tanto vali, / che qual vuol grazia e a te não ricorre, / sua disianza vuol volar sanz'ali”. "Senhora, tu és tão magnífica e possuis um valor tão elevado, que, aquele que implora uma graça e não vem a ti, pretende voar, sem asas possuir."

No Rosário, Maria, Santuário do Espírito Santo (cf. Lc 1, 35), ao ser suplicada por nós, apresenta-se em nosso favor diante do Pai, que a cumulou de graça, e do Filho, nascido das suas entranhas, pedindo conosco e por nós.

Papa João Paulo II
Carta Apostólica Rosarium Virginis Marie

Nem tudo depende de nós

Santa Teresa do Menino Jesus chamava de ‘pequena via’ o caminho de aceitar com humildade que nem tudo depende de nós.

Fomos chamados a pôr nossas vidas nas mãos amorosas de Deus, com a confiança de que Ele nos levantará.

Bispo Anthony Fisher
coordenador da JMJ 2008

O testemunho dos mártires foi mais forte

Ao longo do século XX, a Espanha e a Europa se viram arrastadas por ideologias totalitárias que foram causa de terríveis violências e fizeram novamente da Igreja uma Igreja de mártires.

Mas o testemunho dos mártires foi mais forte que as insídias e violências dos perseguidores da religião.

Os mártires não estavam em guerra com ninguém e morreram dando testemunho de amor e de perdão àqueles que lhes tiravam a vida pelo simples fato de serem católicos.

Ao beatificar os mártires, a Igreja não pretende acusar ninguém – especifica –, mas apresentá-los aos crentes de hoje como modelos de fidelidade, e à sociedade espanhola atual como convite à reconciliação e à paz pelo amor e o perdão sem limites.

Dom Carlos López Hernández
bispo de Salamanca

25 de outubro de 2007

Cristo é tudo para nós

Cristo é tudo para nós! Se queres curar uma ferida, ele é o médico; se estás ardendo de febre, ele é a fonte; se estás oprimido pela iniqüidade, ele é a justiça; se tens necessidade de ajuda, ele é a força, se tens medo da morte, ele é a vida; se desejas o céu, ele é o caminho; se estás nas trevas, ele é a luz... Provai e vede que bom é o Senhor, bem-aventurado o homem que espera nele!

Santo Ambrósio,
bispo de Milão

Eu vim lançar fogo sobre a terra

«Vim trazer o fogo à terra, e como desejaria que já estivesse aceso». O Senhor quer-nos vigilantes, esperando a todo o momento a vinda do Salvador. […] Mas porque o ganho é magro e fraco o mérito quando é por temor do suplício que não nos deixamos cair na perdição, e porque o amor é o valor superior, o próprio Senhor inflama-nos no desejo de chegar a Deus, ao dizer-nos: «Vim trazer o fogo à terra». Certamente não é este o fogo que destrói, mas o fogo que produz a vontade boa, que torna mais valiosos os vasos de ouro da casa do Senhor ao queimar o feno e a palha (1 Co 3, 12ss), ao devorar as podres entranhas do mundo, amassadas pelo gosto do prazer terrestre, obras da carne que devem ser destruídas.

Era o fogo divino que queimava os ossos dos profetas, como declara Jeremias: «Tornou-se um fogo devorador, encerrado em meus ossos» (Jr 20,9). Porque há um fogo que vem do Senhor, sobre o qual se diz: «à frente d’Ele avançará o fogo» (Sl 96, 3). O próprio Senhor é um fogo, diz ele, «que arde sem se consumir» (Ex 3,2). O fogo do Senhor é a luz eterna; neste fogo acendem-se as lâmpadas dos crentes: «Tende os rins cingidos e as lâmpadas acesas» (Lc 12, 35). É porque os dias desta vida são noite ainda que são necessárias as lâmpadas. É este o fogo que, segundo o testemunho dos discípulos de Emaús, o próprio Senhor pusera neles: “Não sentíamos o coração a arder, durante o caminho, enquanto Ele nos explicava as Escrituras?» (Lc 24,32). Eles ensinam-nos pela evidência qual é acção deste fogo, que ilumina o fundo do coração do homem. É por isso que o Senhor virá no fogo (Is 66, 15), para consumir os vícios no momento da ressurreição, para com a sua presença realizar os desejos de cada um de nós, e projectar a sua luz sobre as glórias e os mistérios.


Santo Ambrósio (c.340-397),
bispo de Milão e doutor da Igreja
Tratado sobre S. Lucas 7, 131-132

24 de outubro de 2007

O orgulho

Todos os vícios se apegam ao mal, para que se realize; só o orgulho se apega ao bem, para extingui-lo.

Santo Agostinho

23 de outubro de 2007

Ofereçamos todos os dias fervorosas orações

Com esta solene celebração chega ao fim a missão que o Santo Padre me confiou de O representar aqui em Fátima por ocasião do 90º aniversário das aparições da Virgem Maria aos três Pastorinhos, na Cova da Iria. Ontem, como aliás aquele 13 de Outubro de 1917, era sábado. Hoje reunimo-nos de novo aqui nesta primorosa igreja que, há dois dias, tive a alegria de dedicar à Santíssima Trindade para celebrar a Eucaristia no Dia do Senhor, a páscoa da semana. Ouvimos há pouco estas palavras do apóstolo Paulo: "Lembra-te de Jesus Cristo, que ressuscitou dos mortos" (2 Tim 2, 8). Tal é o apelo que não cessa de nos fazer o domingo, cada domingo; e nós damos graças a Deus por nos ter dado a possibilidade de o escutar novamente hoje aqui, em Fátima, lugar escolhido por Nossa Senhora para oferecer, através dos três Pastorinhos, uma mensagem maternal à Igreja e ao mundo inteiro.

Desejo manifestar a minha gratidão ao Bispo de Leiria-Fátima e seus colaboradores pelo acolhimento que me reservaram como Legado Pontifício. Com alegria pude constatar, mais uma vez, a profunda veneração pelo Sucessor de Pedro que se respira em Portugal, e de modo particular nesta terra abençoada. Saúdo os Bispos, os sacerdotes, os religiosos e as religiosas, as autoridades e todos os peregrinos presentes. Saúdo os fiéis que, através das transmissões televisivas, estão unidos connosco em Portugal, na Itália e noutras partes do mundo. Uma saudação especial aos paroquianos de Fátima e das outras três paróquias confinantes com o Santuário. A todos e cada um transmito com alegria a saudação e a bênção de Sua Santidade o Papa Bento XVI, cuja voz nos vai chegar de Roma, ouvindo o Angelus mesmo no fim desta Santa Missa.

Amados irmãos e irmãs, procuremos agora compreender a Palavra de Deus, que acabou de ser proclamada. O Evangelho fala do encontro de dez leprosos com Jesus. Ficam curados por Ele, mas apenas um um samaritano volta atrás para Lhe agradecer; e é a este estrangeiro agradecido que Jesus diz: "Foi a tua fé que te salvou" (Lc 17, 19). Deste modo, os dez viram-se "curados" da sua doença, mas só um foi "salvo": aquele que, movido pela sua fé, deu glória a Deus e agradeceu a Jesus. São Lucas põe em relevo o facto de o leproso salvo ser um estrangeiro. Como estrangeiro era também Naamã, comandante do exército dos Arameus mas ferido de lepra, de que nos fala a primeira Leitura. Naamã ficou curado quando, obedecendo à palavra do profeta Eliseu, foi lavar-se nas águas do rio Jordão. A Palavra de Deus põe em evidência, como cantámos no refrão do Salmo Responsorial, que "a salvação do Senhor é para todos os povos". O destino universal da salvação e a fidelidade a Israel, que à primeira vista podem parecer em contradição, são na realidade dois aspectos inseparáveis e recíprocos do mesmo mistério salvífico: é precisamente a intensidade e a solidez do amor de Deus pelo povo por Ele escolhido que torna este amor uma "bênção" para todos os povos (cf. Gn 12, 3). A manifestação mais alta disto mesmo está na cruz de Cristo, o máximo sinal da sua dedicação às ovelhas perdidas da Casa de Israel e, simultaneamente, da redenção da humanidade inteira.

A Palavra de Deus, que hoje na liturgia ressoa em todo o mundo, adquire um significado muito particular para nós que a escutamos neste lugar abençoado, marcado há 90 anos pela especial presença de Maria. Tudo aqui continua a ser iluminado por esta presença espiritual, a qual nos oferece também uma perspectiva de leitura da mensagem das Escrituras, que podemos sintetizar assim: Maria foi preservada da lepra do pecado, viveu em perene acção de graças a Deus e tornou-se ícone da salvação; "cheia de graça", Ela é sinal da fidelidade de Deus às suas promessas, imagem e modelo da Igreja, novo Israel aberto a todos os povos; Maria participou plenamente no mistério pascal do Filho; morreu com Ele e vive com Ele, com Ele perseverou e com Ele reina para sempre (cf. 2 Tm 2, 11-12).

A bela Senhora apresenta-se aos Pastorinhos resplandecente de luz; mas nas suas palavras e também no seu rosto, velado às vezes pela tristeza, é constante a referência à realidade do pecado; mostra às crianças o seu Coração Imaculado coroado de espinhos, e explica que são necessários a sua oração e o seu sacrifício para reparar tantos males que ofendem Deus, para fazer cessar a guerra e obter ao mundo a paz. A linguagem de Maria é simples, adequada às crianças, sem ser suavizada ou fabulosa; aliás, em termos muito realistas ela os introduz no drama da vida; pede a sua colaboração e, encontrando Jacinta, Francisco e Lúcia cheios de generosa disponibilidade, revela: "Então, deveis sofrer muito, mas a graça de Deus será o vosso conforto" (Primeira aparição, 13 de Maio de 1917).

A Virgem escolhe crianças inocentes como seus colaboradores privilegiados para combater, com as armas da oração e da penitência, do sacrifício e do sofrimento, a terrível lepra do pecado que corrompe a humanidade. Por quê? Não é talvez porque isto corresponde ao método de Deus, "o que é fraco, segundo o mundo, é que Deus escolheu para confundir o que é forte... aquelas coisas que nada são, para destruir as que são" (1 Cor 1, 27.28)? Vem ao pensamento o exemplo de tantas crianças que enfrentaram, e continuam ainda hoje a enfrentar, o sofrimento e a doença com serenidade, dando conforto aos pais e aos parentes nos momentos de tão grande provação. Entre estas maravilhosas figuras de pequenos apóstolos de Cristo apraz-me recordar aquela extraordinário de Sílvio Dissegna, um menino piemontês, que morreu de cancro com 12 anos, cuja causa de beatificação já foi iniciada.

Completados noventa anos das aparições, Fátima continua a ser um farol de consoladora esperança, mas também um forte apelo à conversão. A luz que Maria fez resplandecer aos olhos dos Pastorinhos e se manifestou a tanta gente no milagre do sol em 13 de Outubro, indica que a graça de Deus é mais forte do que o pecado e a morte. Maria, porém, pede a todos conversão e penitência; quer corações simples que aceitem generosamente rezar e sofrer em reparação dos pecados, pela conversão dos pecadores e pela salvação das almas. Maria conta com a resposta de todos os seus filhos! Amados irmãos e irmãs, acolhamos o seu convite e permaneçamos fiéis à nossa vocação cristã. Ofereçamos todos os dias fervorosas orações especialmente o santo Terço e as nossas tribulações de cada dia, em reparação dos pecados e pela paz no mundo. Consideremo-nos a nós mesmos seus filhos pequenos e humildes, desejosos de viver para louvor e glória da Santíssima Trindade, a Quem em boa hora quiseram dedicar esta igreja. Amém!

Cardeal Tarcísio Bertone
Secretário de Estado vaticano
Na conclusão das cerimônias do 90º aniversário das aparições de Nossa Senhora de Fátima, no domingo, 14 de outubro de 2007

Vigilantes e atentos

Temos de estar vigilantes e atentos à obra da salvação que se realiza em nós, porque é com admirável subtileza e com a delicadeza de uma arte divina que o Espírito Santo realiza continuamente esta obra no mais íntimo do nosso ser. Que esta unção que tudo nos ensina não nos seja retirada sem que tenhamos consciência disso, e que a sua vinda não nos apanhe desprevenidos. Pelo contrário, convém-nos estar permanentemente atentos, com o coração totalmente aberto, para recebermos esta bênção generosa do Senhor. Em que disposições quer o Espírito encontrar-nos? “Sede como os servos que esperam o seu senhor, quando ele regressa das núpcias”. Ele nunca regressa de mãos vazias da mesa celeste, com todas as alegrias que esta prodigaliza.

Temos, pois, de velar, e de velar em todo o momento, porque nunca sabemos a que horas virá o Espírito, nem a que horas voltará a partir. O Espírito vai e vem (Jo 3, 8); se, graças à Sua presença, nos mantemos de pé, quando Ele Se retira caímos inevitavelmente, mas sem nos magoarmos, porque o Senhor nos sustenta com a Sua mão. E o Espírito não cessa de comunicar esta alternância de presença e ausência aos que são espirituais, ou antes, àqueles que tem a intenção de tornar espirituais. É por isso que os visita de madrugada, pondo-os em seguida subitamente à prova.

São Bernardo (1091-1153),
monge cisterciense e doutor da Igreja
Sermão sobre o Cântico dos Cânticos, nº 17, 2

Optar entre a vida e a fidelidade a Deus

O que mais chama a atenção na biografia dos mártires é essa mistura de fortaleza, e ao mesmo tempo de humildade, com a qual os mártires assumiram esta situação trágica de ter de optar entre sua vida ou sua fidelidade a Deus e à Igreja, sem voltar atrás.

A fortaleza é a primeira coisa que chama a atenção, mas também a humildade, a alegria e a simplicidade com que enfrentaram esta situação, que era dramática, mas que eles viveram com a alegria da fé, cantando nos caminhões que os levavam ao fuzilamento, apoiando-se com a oração e com as palavras na prisão, escrevendo desde lá a seus familiares horas antes de ser assassinados, deixando sobretudo seu testemunho de perdão e de serenidade a seus familiares, em alguns casos à namorada.

Isso chama a atenção deles, a fortaleza de sua fé, a alegria de sua esperança e o calor da caridade vivida naqueles momentos, ou seja, a vida cristã vivida em maneira plena.

Pe. Martinez Camino
Sobre 498 mártires do século XX na Espanha

22 de outubro de 2007

Presságio de fatos graves

Jesus prometeu que, em sua Igreja, aconteceriam milagres maiores dos que Ele mesmo realizou e Ele não colocou limites nem no número nem no tempo em que estes milagres aconteceriam, de forma que, enquanto a Igreja existisse, nós sempre veríamos a mão do Senhor a manifestar o seu poder por meio de fatos prodigiosos (...)

Porém, estes sinais sensíveis vindos de todo o poder divino, representam o presságio de fatos graves que manifestam a misericórdia e a bondade de Deus, ou a sua justiça e indignação; e sempre, para a sua grande glória e para o bem das almas. Façamos com que estes sejam, para nós, uma fonte de graças e bênçãos, contribuindo a estimular uma fé viva, bastante ativa, uma fé que nos leva a fazer o bem e a evitar o mal, para que nos tornemos dignos da infinita misericórdia nesses nossos tempos e para toda a eternidade.

São João Bosco (1815-1888)
Aparição da Bem-aventurada Virgem, no alto da montanha de La Salette, Turim, 1875.

Quem te criou quer-te todo para Si

Irmãos, examinai pois com atenção a vossa morada interior, abri os olhos e apreciai o vosso capital de amor, e depois aumentai a soma que tiverdes descoberto em vós. E guardai esse tesouro, a fim de serdes ricos interiormente. Chamam-se caros os bens que têm um preço elevado, e com razão. […] Mas que coisa há mais cara do que o amor, meus irmãos? Em vossa opinião, que preço tem ele? E como pagá-lo? O preço de uma terra, o preço do trigo, é a prata; o preço de uma pérola é o ouro; mas o preço do amor és tu mesmo. Se queres comprar um campo, uma jóia, um animal, procuras em teu redor os fundos necessários para isso. Mas, se desejas possuir o amor, procura apenas em ti mesmo, pois é a ti mesmo que tens de encontrar.

Que receias ao dar-te? Receias perder-te? Pelo contrário, é recusando-te a dar-te que te perdes. O próprio Amor exprime-se pela boca da Sabedoria e apazigua com uma palavra a desordem que em ti lançava a expressão: “Dá-te a ti mesmo!” Se alguém quisesse vender-te um terreno, dir-te-ia: “Dá-me prata”; ou, se quisesse vender-te outra coisa qualquer: “Dá-me dinheiro”. Pois escuta o que diz o Amor, pela boca da Sabedoria: “Meu filho, dá-me o teu coração” (Prov 23, 26). O teu coração sofria quando estava em ti; eras presa de futilidades, ou mesmo de más paixões. Afasta-te delas! Para onde hás-de levá-lo? A quem o hás-de oferecer? “Meu filho, dá-me o teu coração”, diz a Sabedoria. Se ele for Meu, já não te perderás. […]

“Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento” (Mt 22, 37). […] Quem te criou quer-te todo para Si.

Santo Agostinho (354-430),
bispo de Hipona (norte de África) e doutor da Igreja
Sermão 32: sobre o Salmo 149

19 de outubro de 2007

Senhora da Conceição Aparecida

A história da pequenina imagem da Virgem Aparecida nos remete ao começo do plano divino de salvar o povo de Israel. Moisés foi resgatado das águas para que pudesse livrar seu povo da escravidão do Egito. E, com fortaleza de Deus, o conduziu por 40 anos no deserto, tornando-o uma raça forte como nenhuma outra, para que reafirmasse perpetuamente o santo nome de Javé.

Nos anos setecentos, pobres pescadores labutavam na pesca premidos pela obrigação de levar peixes para o Conde de Assumar que passava por aquelas paragens, por onde serpenteava o Rio Paraíba. Lançando as redes viram, retirada do fundo das águas, uma imagem enegrecida e partida. De novo arremessada a rede, trouxe ela a cabeça da imagem e, a seguir, a riqueza da pesca.

Levada a uma ermida, aquela imagem da Virgem concebida sem pecado começa a ser venerada pelo povo humilde e a abençoá-lo, mostrando-lhe o caminho da salvação e da vida.

A cada dia que se passava, graça sobre graça era derramada por intercessão da Senhora Aparecida. Por ela era mostrado o caminho da conversão. A ela se elevava a o clamor nas aflições.

Daquela capela primitiva, onde o povo se recolhia para a reza do terço, até hoje, no santuário-basílica, a gente sente, com alegria, na voz de todos os romeiros o murmúrio da oração de São Bernardo: "Lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria que jamais se ouvir dizer fosse por Vós abandonado quem recorreu à vossa proteção. Eu, animado com tal confiança, me prostro a vossos pés. Não desprezeis minha súplica, nem me abandoneis, o Virgem gloriosa e bendita, ó Mãe do Verbo Divino, mas atendei-me benignamente."

Da colina de Aparecida jorra a misericórdia de Deus sobre o povo.

A devoção à Maria é uma dádiva de Deus para todos nós. Ainda colônia de Portugal, foi o Brasil consagrado à Imaculada Conceição. Apesar de todas as dificuldades da evangelização pela extensão do território, pelos problemas de comunicação e diversidade dos costumes, a nação brasileira sempre manteve firme no coração o amor à nossa Mãe do Céu. Por onde andamos, sentimos sua presença misericordiosa e os cantos a seu louvor a ecoar nas grotas, nas planícies e nos montes.

Ela é a glória de nosso povo, a sua alegria e seu refúgio, pois vence o dragão da maldade, como Judite que libertou a sua cidade do poder de Holofernes.

Por isso a Igreja canta o próprio refrão do amor divino à Maria, revelado no Livro dos Cânticos: "Quem é esta que avança como a aurora, formosa como a lua, fulgurante como o sol, terrível como um exército em linha de batalha" (Cf. Cant.6,9)

A pequena imagem da Mãe Aparecida, na sua cor, a cor de barro e da terra, faz-nos lembrar a sua formosura e beleza, cantada no mesmo Livro sagrado: "Sou morena, mas formosa...".

A beleza de Maria está na sua fé, na sua fidelidade perfeita e abertura do coração à voz de Deus. Não titubeou em momento algum de sua vida, nem mesmo nas agruras da cruz que foi imposta a seu Filho diante de seu olhar e de seu coração. Permaneceu de pé, Ela que se fez a serva do Senhor, para que nela se cumprisse a vontade divina.

Eis porque todas as gentes a proclamam bem-aventurada. Nela fez grandes coisas Aquele que é poderoso, que cumula de bens os famintos e cujo nome é santo.

Ao celebrarmos a festa de nossa Rainha e Mãe, a padroeira de nossa Pátria, renovemos nossa fé e esperança naquele que, vindo a nós por Maria, derrama sua bênção sobre nós e sobre todo o seu povo. Unamo-nos aos milhares de vozes e entoemos o cântico de ação de graças que de seus lábios brotou quando, saudada como bendita entre todas as mulheres porque trazia em seu seio o Libertador e Redentor, "A minha alma engrandece o Senhor e meu espírito exulta no Senhor."

Dom Eurico
Arquidiocese de Juiz de Fora - MG

13 de outubro de 2007

Reconciliar-se com a chusma terrorista

Que espécie de bispos são que, para reconciliar-se com a chusma terrorista que atacou a sociedade argentina, não vacilam em somar-se aos ataques contra os que a defenderam?

[...]

Creio que chegou o momento de definir de que lado estão, tirando definitivamente a máscara: se do lado dos que impulsionaram a agressão marxista e atacaram sistematicamente a Santa Igreja Católica Apostólica Romana ou do lado dos que jamais nos afastamos dela.

Emilio Guillermo Nani
notalatina

3 de outubro de 2007

Dignidade humana

O respeito da dignidade humana é a base ética mais profunda na busca da paz e na construção de relações internacionais que correspondam às verdadeiras necessidades e esperanças de todos os povos da terra.

Arcebispo Dominique Mamberti,
secretário vaticano para as relações com os Estados