4 de novembro de 2007

Chamados a ser santos

Queridos irmãos e irmãs:

Nesta solenidade de Todos os Santos, nosso coração, ultrapassando os confins do tempo e do espaço, se amplia para as dimensões do Céu. No início do cristianismo, os membros da Igreja também eram chamados «os santos». Na Primeira Carta aos Coríntios, por exemplo, São Paulo escreve «aos santificados em Cristo Jesus, chamados a ser santos, com todos que em qualquer lugar invocam o nome de Jesus Cristo, Senhor nosso» (1 Coríntios 1,2). O cristão, de fato, já é santo, pois o Batismo lhe une a Jesus e a seu mistério pascal, mas ao mesmo tempo tem que chegar a ser santo, conformando-se com Ele cada vez mais intimamente.

Às vezes se pensa que a santidade é um privilégio reservado a alguns poucos eleitos. Na realidade, chegar a ser santo é a tarefa de cada cristão, mais ainda, poderíamos dizer, de cada homem!

Escreve o apóstolo que Deus nos abençoou desde sempre e nos elegeu em Cristo «para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença, no amor» (Efésios 1, 3-4). Todos os seres humanos são chamados à santidade que, em última instância, consiste em viver como filhos de Deus, nessa «semelhança» a Ele, segundo a qual, foram criados.

Todos os seres humanos são filhos de Deus, e todos têm que chegar a ser o que são, através do caminho exigente da liberdade. Deus convida a todos a tomarem parte de seu povo santo. O «Caminho» é Cristo, o Filho, o Santo de Deus: ninguém pode chegar ao Pai senão por Ele (Cf. João 14, 6).

Sabiamente a Igreja estabeleceu a imediata sucessão da festa de Todos os Santos com a da comemoração de todos os fiéis defuntos. A nossa oração de louvor a Deus e de veneração aos espíritos bem-aventurados, que nos apresenta hoje a liturgia como «uma multidão imensa, que ninguém poderia contar, de toda nação, raças, povos e línguas» (Apocalipse 7, 9), se une à oração de sufrágio por aqueles que nos precederam na passagem deste mundo à vida eterna. A eles dedicaremos de maneira especial amanhã nossa oração e por eles celebraremos o sacrifício eucarístico. Em verdade, cada dia, a Igreja nos convida a rezar por eles, oferecendo também os sofrimentos e os cansaços cotidianos para que, completamente purificados, possam gozar para sempre da luz e a paz do Senhor.

No centro da assembléia dos santos, resplandece a virgem Maria, «humilde e a mais alta criatura» (Dante, «Paraíso», XXXII, 2). Ao dar-lhe a mão, nos sentimos animados a caminhar com mais impulso pelo caminho da santidade. A ela dirigimos nosso compromisso cotidiano e lhe encomendamos hoje nossos queridos falecidos, com a íntima esperança de voltarmos a nos encontrar um dia, todos juntos, na comunhão gloriosa dos santos.

Bento XVI
Intervenção no Ângelus da solenidade de Todos os Santos
1 de novembro de 2007

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