12 de novembro de 2007

Os caminhos da vida

Encaminhavam-se três viajantes para um país longínquo, em busca de honras e fortunas. Por algum tempo andaram juntos, consultando o mesmo roteiro, comendo do mesmo pão e dormindo sob a mesma tenda.

Apesar de ser o rumo determinado com relativa facilidade pelas constelações, começaram eles a preocupar-se com os acidentes do terreno, e bem cedo suas opiniões se dividiram. Por esse tempo, atravessavam uma vasta zona deserta, e sentiram-se aflitos ao ver quase terminada a provisão de água. Temendo as torturas da sede, depois de acalorada discussão resolveram separar-se, tomando cada um os caminhos que lhes pareciam mais razoáveis.

O primeiro, desprezando o mapa que levavam, saiu sozinho pelo areal ardente, ansioso por achar uma fonte e depois o país remoto. Andou dias e dias, até se esgotarem todos os recursos para a longa viagem. Em meio de sua angústia, entreviu ao longe um córrego de águas cristalinas. Correu para ele, fazendo os derradeiros esforços para chegar à margem. Mas tombou moribundo e sem esperanças, quando verificou que a corrente era apenas uma enganadora miragem.

O segundo viajante também desprezou o roteiro e seguiu o rumo aconselhado por outros, antes da partida. Mas esses eram homens que jamais quiseram arriscar-se a empreender a perigosa jornada. Após alguns dias de inauditas canseiras, viu, à distância, o que lhe pareceu um lago. Estugou o passo até chegar à margem, e exultou de alegria ao ver que tinha água fresca à disposição. Mas em seguida sofreu decepção amarga, ao provar da água e verificar que era salgada. Tinha diante de si apenas um braço de mar, avançando por solitárias regiões. Ali mesmo expirou exânime o louco aventureiro.

Mas o terceiro caminhante agiu de outro modo. Assentado na areia, poupando as forças, examinou detidamente o roteiro e orientou-se pelas estrelas. Foi-lhe fácil, afinal, acertar com uma quase apagada vereda. Alcançou breve um delicioso oásis, onde descansou, comeu frutos e bebeu água fresca e límpida. Uma caravana que passava levou-o seguramente à terra desejada, e aí encontrou muito mais do que havia sonhado em honras e riqueza.

Um velho contou esta história a um grupo de jovens, que o escutava atentamente, e acrescentou: Meus filhos, o roteiro que nos ensina o caminho para o país longínquo é a Palavra de Deus Nosso Senhor.

O primeiro viajante é o homem que, desprezando os ensinamentos sagrados, deixando de olhar para o alto e preocupando-se apenas com os interesses mundanos, se dirige tão somente com a fraca luz de sua inteligência. No final da vida, verifica que perseguiu miragens enganadoras, e já não tem mais forças nem tempo para retroceder.

O segundo viajante é o que espera achar o rumo através da filosofia e da opinião dos homens. Segue conselhos, faz esforços bem intencionados, porém tudo em vão, porque seus conselheiros são homens que apenas dizem "fazei assim", mas eles mesmos nunca empreenderam a heróica jornada.

Mas o terceiro viajante é o que lê atentamente a Sagrada Escritura, medita nos seus profundos ensinamentos, olha para o alto e obedece com fidelidade aos divinos preceitos. A despeito de toda a aridez da vida, não tarda a encontrar-se no consolador oásis da fé, e são as virtudes evangélicas que o levam, pela graça divina, à presença de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Quereis um conselho? Não desprezeis filhos meus esse roteiro, enquanto fazeis vossa jornada pelo caminho da vida.

Athalicio Pitham,
"Lendas e Alegorias" - Edições Brasília, Porto Alegre, 1945

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